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terça-feira, 8 de abril de 2014

A mudança que dói


Por esses dias estava refletindo sobre a necessidade das mudanças e como,
às vezes, estas podem ser incômodas e dolorosas. Normalmente, fazemos
opções na vida pautadas naquilo que consideramos bom e justo, ou ao menos
coerente e adequado frente a nossa educação e entendimento. Com o passar
dos anos, no entanto, nossa compreensão vai se modificando, principalmente
se ampliando. Ficamos suscetíveis a mudanças, muitas vezes imperiosas,
condizentes à nossa nova realidade. Nessa situação podemos experimentar o
sofrimento, principalmente se nossa prática ou conduta já está arraigada e
nos aparenta ser inofensiva.
O chamado de Deus ao serviço pode desencadear tal necessidade de mudança e
restauração. Ele costuma impor condições para assegurar o sucesso de
certas missões. Algumas obras podem ser realizadas por todos, no entanto,
certas obras só podem ser realizadas por alguns. “A quem muito foi dado,
muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido”
(Lc 12, 48b). Privar o Senhor da nossa mudança e do nosso serviço é
condenar-se a si mesmo, tendo em vista que Ele nos capacita justamente
para utilizarmos nossos dons em benefício dos irmãos e da comunidade.
Enfrentar nosso egoísmo é o primeiro passo para uma mudança efetiva. Quem
pensa somente em si não consegue enxergar as carências do próximo. Faz-se
necessário exercitar o “colocar-se no lugar do outro” para aquilatar seus
pensamentos, sentimentos e reais precisões. Nossa indigência moral nem
sempre nos possibilita entrar em contato conosco e operar transformações
em nossa vida. É por isso que carecemos da graça de Deus. Através dela,
constatamos a nossa pequenez e podemos fazer propósitos para uma vida com
sentido, foco e direção, objetivando alcançar o alvo que o Senhor nos
propôs. Nem sempre é tão claro esse alvo, de modo que urge exercitar nossa
humildade para que nos seja revelado tal propósito pelo próprio Deus ou a
seu mando.
A mudança acontece de dentro para fora. Nosso coração tem maçaneta apenas
do lado interno. Somente nós podemos abrir a porta; e ainda,
voluntariamente. A Palavra de Deus é guia seguro no tocante ao que deve
ser modificado em nossa conduta ou nossos hábitos. A pregação também ajuda
a aguçar nosso foco, entretanto, precisamos estar abertos para sentir o
apelo do Senhor em nossas vidas. De nada adianta manter o coração fechado,
os olhos cerrados, os ouvidos tampados, as mãos inoperantes e os pés
paralisados, vivenciando a omissão.
Podemos começar realizando um trabalho voluntário. Dezenas de pessoas
necessitam de uma visita, uma palavra amiga, um abraço, alguém que as
ouça... Exercitar a doação de si próprio é partilhar com os demais aquilo
que somos, e nos dá a chance de sermos pessoas melhores, de aprendermos e
crescermos, expandindo nosso conhecer e sentir.
O mundo necessita de pessoas melhores; altruístas e bondosas. Precisamos
trabalhar nossas deficiências a fim de que estejamos em condições de abrir
mão do nosso comodismo. Coloquemo-nos à disposição do Senhor com
humildade, paciência, retidão e boas obras. Mudanças hão de vir e serão
benvindas ainda que, inicialmente, possam causar sofrimento e dor, pois é
através delas que Deus nos recruta e capacita para o serviço ao próximo e
à comunidade. Ganhamos todos com isto!
Maria Regina Canhos (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora.

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