Rede Brasil Atual - Deputados de oposição avaliam como irônico o fato de a Confederação Nacional da Indústria (CNI) ter de admitir que a grave crise econômica, o desemprego, a insegurança e a corrupção são fatores decisivos para a queda acentuada de popularidade do presidente Michel Temer e seu governo, como mostra pesquisa CNI-Ibope, divulgada nesta quinta-feira (27).
Segundo a pesquisa, o percentual dos brasileiros que avaliam o governo como ruim ou péssimo subiu de 55%, na pesquisa de março, para 70%. “É bom lembrar que a CNI apoiou esse projeto que hoje gera desemprego, crise econômica e corrupção”, diz o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP).
“A CNI admite isso, mas apoiou o impeachment. A crueldade é que apoiou o impeachment e a reforma trabalhista”, afirma o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP). “O desemprego hoje atinge 14 milhões de brasileiros e a reforma trabalhista tende a desqualificar o pouco que vai restar de emprego formal no país.”
O gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca, disse após a divulgação da pesquisa que o desemprego “continua muito elevado no país”, o que “afeta” a popularidade de Temer. Acrescentou que a “dificuldade de aumento salarial” é fator importante na pesquisa e que “existe um peso muito forte da crise econômica” na baixíssima aceitação do chefe do Executivo. Apenas 5% aprovam o governo. Também esclareceu que “certamente a questão do caso JBS foi um dos fatores que determinaram a piora na popularidade”.
Para o deputado do PCdoB, a CNI falar em crise não é surpresa. “A indústria brasileira está seguindo ladeira abaixo. Seja pela tributação, seja pela mudança na TJLP, que é a taxa de juros de longo prazo do BNDES. A tendência é que haja mais conflito entre o governo Temer e o que resta de setor produtivo no Brasil”, acredita o comunista. A medida provisória 777, de 27 de abril, diminui as possibilidades do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social desempenhar o papel de fomentador do desenvolvimento.
“O processo de desgaste do Temer indicado na pesquisa revela que o paraíso que ele prometeu quando organizou o golpe na Dilma não se verificou”, afirma Silva.
Mas, apesar da popularidade em queda, Temer mantém apoio de sua base no Congresso. “É porque ele está comprando deputados, além de ter uma base muito conservadora, resultante do financiamento privado de campanha”, diz Paulo Teixeira. “E parte dos parlamentares estão num pacto dos investigados, liderados pelo governo Temer.”
Para Orlando Silva, o presidente “transformou o governo num instrumento de sua defesa pessoal”. “Não há governo no Brasil, não há política pública, o que há é o Estado brasileiro servindo para manter livre um determinado núcleo político do PMDB. O governo é utilizado para a defesa do presidente e alguns de seus ministros.”
Se a enorme impopularidade de Temer não se reflete hoje em grandes mobilizações, na opinião do deputado petista, “o desemprego e a insegurança vão desencadear um processo de mobilização maior”. “Eu acho que é uma questão de tempo. Há uma diminuição forte da popularidade dele e uma insegurança muito grande na população, de um lado pelo desemprego, e do lado dos empregados, pela perda de direitos. Não que o Brasil tenha parado. Os movimentos organizados estão se mobilizando. Mas acho que pode haver uma mobilização maior na sociedade brasileira”, diz Teixeira.
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