sábado, 10 de dezembro de 2016
Denúncia contra Lula em dia de delação contra tucanos: coincidência providencial
No dia em que Temer, Padilha, Moreira, Alckmin e outros peemedebistas e
tucanos foram alvejados pela primeira delação da Odebrecht, o Ministério Público
Federal resolveu apresentar mais uma denúncia contra o ex-presidente Lula, numa
coincidência que teve o condão, calculado ou não, de dividir as atenções e
equilibrar as avarias. A denúncia de que ele fez tráfico de influência no caso
da compra dos caças suecos Grippen agride a lógica dos fatos que cercaram o
negócio de US 4,5 bilhões para atender a uma demanda da Aeronáutica que se
arrastava há mais de dez anos. O ex-ministro da Defesa da época, Celso Amorim,
considera a denúncia absurda e espantosa e aponta as razões que levaram a
Aeronáutica a optar pelos aviões suecos.
- Li com espanto as notícias sobre esta absurda denúncia. Os Grippen sempre
foram a preferência da Aeronáutica e a escolha foi estritamente técnica,
baseada em uma análise que levou em conta a combinação de três fatores:
performance, custo (preço mais manutenção) e transferência de tecnologia. Pouco
antes do anuncio da decisão, em dezembro de 2013, o comando da aeronáutica
reafirmou em documento que certamente consta dos arquivos do Ministério da
Defesa, as razões que o levavam a optar pelos caças suecos. Não houve a mais
remota interferência do ex-presidente Lula nesse processo - disse Amorim ao 247.
Ao longo de seu governo, Lula foi acusado de ter preferência pelos Rafale,
modelo que a França empenhou-se em vender ao Brasil. Esta opção seria contrária
aos pareceres técnicos da Aeronáutica, que se inclinava pelos Grippen suecos.
Quando se esperava que ele batesse o martelo ainda em seu governo, em novembro
de 2010 Lula anunciou que deixaria a questão para sua sucessora já eleita, Dilma
Rousseff. Preferia não autorizar um negócío de tal envergadura no apagar das
luzes de sua gestão.
Finalmente, em 18 de dezembro de 2013, o governo anunciou a compra de 36
caças supersônicos do modelo sueco Grippen, ao preço de US$ 4,5 bilhões, a serem
pagos até 2023. Não faltaram notícias de que Dilma contrariou Lula em sua
preferência pelo modelo francês, que teria motivado a aproximação com o governo
de Nicolás Sarkozy. A Boeing também concorria ao negócio. O ministro da Defesa,
Celso Amorim, fez o anúncio afirmando que a decisão “foi objeto de estudos e
ponderações muito cuidadosas".
No início deste ano a Operação Zelotes, desviando seu foco dos sonegadores
que pagaram milhões aos conselheiros do CARF para se livrar de multas
bilionárias da Receita Federal, passou a mirar Lula. A denúncia diz que as
investigações concluíram que o lobista Mauro Marcondes fez lobby para a empresa
sueca e usou a influência de Lula junto a Dilma. Que ele a acompanhou ao enterro
de Nelson Mandela para lá “acertar” com o líder do Partido Social Democrata e
futuro primeiro-ministro da Suécia, Stefan Lofven, a compra dos Grippen. E com
isso, garantiu para seu filho, também denunciado, uma comissão mísera de R$ 2,5
milhões sobre um negócio de US$ 4,5 bilhões.
Algumas perguntas os procuradores não se fazem: Uma. Por que Lula, querendo
comissão, não fechou o negócio quando era presidente? Outra: se ele fez lobby
junto a Dilma, e ele aceitou o tráfico de influência, por que não foi
denunciada? E a participação da Aeronáutica, que tudo avalizou, não suscitou
nenhuma dúvida ou suspeita?
Num processo a quê a defesa não teve acesso, nem mesmo depois de oferecida a
denúncia, a lógica e o histórico não deve ter a menor importância. Muitos menos
as provas, que não apareceram, do tráfico de influência de Lula junto a Dilma e
ao Ministério da Defesa.
http://www.brasil247.com/pt/blog/terezacruvinel/269766/Den%C3%BAncia-contra-Lula-em-dia-de-dela%C3%A7%C3%A3o-contra-tucanos-coincid%C3%AAncia-providencial.htm
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