
Definitivamente, não há nada no Brasil que não esteja se tornando pior do que
era. É consenso que uma das coisas mais bárbaras e desumanas neste país que já
foi cordial é o vergonhoso sistema prisional, criticado por organizações
internacionais de defesa dos direitos humanos. Nos presídios brasileiros as
pessoas vivem amontoadas como animais, comem literalmente o pão que o diabo
amassou e ainda estão sujeitas ao mando interno das organizações criminosas como
o PCC e o Comando Vermelho. É possível piorá-lo? Parecia que não, mas o governo
Temer, que pede “pensamento positivo” para as coisas melhorarem, baixou medida
provisória que transfere 30% das verbas do Fundo Penitenciário para o Fundo
Nacional de Segurança Pública. O espírito da medida é algo assim: vamos piorar
um pouco mais as prisões para tentar melhorar um pouco a segurança dos que estão
nas ruas. Eles têm opinião e podem votar. É o pragmatismo da crueldade do
ministro da Justiça, Alexandre de Morais.
O Brasil tem cerca de 1300 presídios, de diversos tamanhos, com capacidade
para abrigar 310 mil presos mas abrigam hoje cerca de 600 mil, boa parte deles
em situação provisória, à espera do julgamento que esbarra na morosidade da
justiça, especialmente para os que não têm recursos para contratar um bom
advogado. A vida num presídio brasileiro é desconhecida para quase todos nós.
Conhecemos os fragmentos que nos chegam por um relato e outro. A cama de
concreto, geralmente chamada jega, é um luxo. Os que chegaram primeiro
conseguiram as suas. Os que chegam por último dormem no chão. Podem comprar,
pagando muito bem, a cama de um que precise muito de dinheiro e tope ir dormir
no chão. O colchão tem que ser dado pela família, mas tem que ser bem fininho.
A cama é mais que um lugar de dormir. É o único espaço pessoal de que o preso
dispõe. Nela é que pode também fazer alguma atividade e receber a visita dos
parentes. Sem a cama, é uma alma penada. A maioria dos presos brasileiros não
tem cama. Da comida e das brutalidades do convívio, nem falar. Quem está lá já
deixou para trás o tempo das delicadezas. Dostoivesky, se vivesse no Brasil,
teria matéria-prima para mais romances.
No final do ano, costumamos pensar nos pobres e nos doentes mas muito pouco
nos que estão atrás das grades. Quem erra deve acertar contas com a justiça mas
isso não pode significar a degradação, a perda dos direitos e da própria
condição de cidadão. Mas é o que acontece. A MP de Temer nos obriga a pensar um
pouquinho neles.
A ministra Carmem Lúcia, presidente do STF, ao tomar posse externou grande
preocupação com a situação dos presídios. Quem julga e condena é o Judiciário
mas quem administra as prisões é o Executivo. Não ouvi ainda uma palavra dela
sobre esta MP que, ao retirar recursos do fundo penitenciário, promete tornar o
sistema prisional . mais cruel e mais desumano.
http://www.brasil247.com/pt/blog/terezacruvinel/272713/MP-de-Temer-ampliar%C3%A1-o-caos-nas-pris%C3%B5es.htm
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