
O maior trunfo de Michel Temer, a maioria parlamentar que deu o golpe
e prometeu apoio firme ao ajuste fiscal, acaba de presenteá-lo com uma
pauta-bomba aos olhos do mercado: a renegociação das dívidas dos estados sem as
exigidas contrapartidas, nela incluída uma moratória de três anos para Rio,
Minas e Rio Grande do Sul, que enfrentam calamidade financeira. O “exame com
lupa” do ministro Meirelles nada mudará no projeto, que também não poderá ser
corrigido por vetos. Bolsa e câmbio devem reagir.
O governo pode explicar a derrota como quiser mas a verdade é que a
maioria governista, depois de aprovar a PEC 55, avisou que não vai se imolar
junto à população obedecendo ao Planalto e à equipe econômica. Foi uma prévia do
que pode acontecer com a reforma previdenciária, cujos efeitos batem na veia de
todos e é de fácil compreensão.
Quando aceitaram, há algumas semanas, as imposições da União para
obter o refinanciamento, escrevi aqui que os governadores estavam vendendo por
muito pouco a autonomia dos entes federados. Entre as “contrapartidas” estava a
proibição de novos cargos e de concessão de reajustes para o funcionalismo,
com aumentos da cobrança de contribuição previdenciária. E havia ainda a
previsão de privatização de ativos estaduais que foram dados em garantias à
União. Depois recuaram mas não conseguiram impedir o Senado, que teoricamente
representa a federação, de aprovar estas medidas que ferem a autonomia dos
governos subnacionais. A Câmara ontem as derrubou. “Achar que no dia 20 de
dezembro vamos votar aumento de contribuição previdenciária e congelamento de
salários, é achar que esta Câmara não respeita a sociedade brasileira”, disse
Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Em outras palavras, há limites para a
imposição de sacrifícios e para a impopularidade.
O PT teve um papel no resultado final, suspendendo a obstrução apenas
quando foi retirada a cláusula das privatizações, mas foi a base que derrotou
Temer. A retirada de outras contrapartidas já fora retirada do projeto do Senado
por exigência dos líderes aliados.
Então, estamos assim. Temer não pacificou o país, não reanimou a
economia, é citado em delações da Lava Jato e corre o risco de ser afastado pelo
TSE. Mas tinha uma “super base” parlamentar que sempre mencionava nos discursos
como seu trunfo, estaca de sustentação da pinguela. Agora se viu que não é bem
assim. E pior ficará depois da refrega pela presidência da Câmara, em fevereiro.
http://www.brasil247.com/pt/blog/terezacruvinel/271528/Temer-leva-a-primeira-pauta-bomba.htm
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