
Por Cinta Alves, do Jornal GGN - A velha mídia, com apoio de cegos entusiastas da Lava Jato, tem semeado a ideia de que a defesa de Lula tem atacado Sergio Moro e membros da força-tarefa porque a única saída é politicar o processo, já que não há condições de provar a inocência do ex-presidente. "Lula quer ganhar no grito", publicou IstoÉ no dia 16. Réu cinco vezes, "Lula tem adotado a estratégia de radicalizar nos embates com Moro", escreveu a Folha, dia 15. "Lula está armando um espetáculo circense para mostrar aos desavisados que o Mal cooptou a Justiça", ironizou o Estadão, em outubro passado, quando os advogados do petista questionaram a intimidade entre Moro e o desembargador do Tribunal Regional Federal que revisa suas decisões. A construção de uma narrativa para sabotar a defesa de Lula e blindar a Lava Jato a qualquer custo esconde deliberadamente as violações de Moro ao Código de Processo Penal durante o julgamento do ex-presidente no caso triplex. Mas a questão é que Lula não é o único a reclamar dos abusos praticados pelo juiz símbolo da Lava Jato. A sentença assinada por Moro, em agosto de 2015, contra a cúpula da OAS, está recheada de reclamações sobre a parcialidade do magistrado, que ele mesmo fez questão de registrar e rebater no ato de condenação. Incompetência para julgar o caso, suspeição em relação aos réus, interpretação subjetiva da lei e atuação em prol do Ministério Público durante as audiências de testemunhas (ora fazendo perguntas que fogem ao escopo da denúncia, ora obstruindo o trabalho dos advogados) são alguns dos apontamentos feitos pela banca que defendeu Leo Pinheiro, Agenor Franklin Magalhaes, Mateus Coutinho, José Ricardo Nogueira e Fernando Augusto Stremel da acusação de pagamento de propina por contratos da OAS com a Petrobras. Até mesmo "impaciência com questionamentos dirigidos às testemunhas na audiência" foi anotado contra Moro. No caso, a defesa denunciou episódio que ocorreu durante a oitiva do delegado Márcio Anselmo - o mesmo que indiciou recentemente Lula por propina supostamente paga pela Odebrecht. Os advogados, segundo o despacho de Moro, teriam feito uma série de questões ao delegado sobre grampo em aparelho Blackberry sem observância a um tratado de cooperação internacional entre Brasil e Canadá. A ideia da defesa era aplicar a teoria do fruto podre: provas produzidas a partir de uma interceptação irregular não poderiam ter sido ser anexadas ao processo. Moro indeferiu as perguntas, da mesma maneira que impediu a defesa de Lula de abordar um elo suspeito entre a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba com autoridades dos Estados Unidos, durante as audiências do caso triplex. Moro assinalou que indagar o delegado Anselmo sobre a "validade da interceptação telemática do aparelho Blackberry" era "impróprio". No triplex, Moro aproveitou a audiência do ex-senador Delcídio do Amaral para fazer perguntas sobre a participação de Lula numa suposta tentativa de comprar o silêncio de Nestor Cerveró. A defesa protestou porque isso não está relacionado com o apartamento no Guarujá. Ao contrário: uma ação penal sobre o tema já corre na Justiça de Brasília. O mesmo aconteceu com o sítio de Atibaia. No caso da OAS, Moro também recebeu reclamações por fazer perguntas que fogem ao objeto da denúncia que tinha em mãos. Mas o magistrado considerou que sua postura era regular, pois as indagações ajudariam a criar um "contexto" necessário ao julgamento. Em um trecho do embate com os advogados da empreiteira, Moro chegou a mandar um dos profissionais calar a boa. A desculpa do "contexto" foi reciclada no processo de Lula.

Nenhum comentário:
Postar um comentário