Da sua coluna na Folha
Na semana passada, o país assistiu, estarrecido, o presidente da Câmara dos Deputados atacar os outros poderes da República por ter sido denunciado em casos de corrupção da Operação Lava Jato. Não, o senhor Cunha não procurou dar explicações a respeito das graves acusações encaminhadas pelo procurador-geral. Ele resolveu chantagear explicitamente o poder Executivo e acusar o Ministério Público de um complô contra a sua distinta pessoa.
Tratando o povo brasileiro como uma banca de idiotas, o senhor Cunha saiu-se com a história de uma ação conjunta entre o governo e o Judiciário para prejudicá-lo. Ou seja, o juiz Sergio Moro, o mesmo que denunciou membros do governo e parlamentares governistas, estaria agora agindo juntamente com o governo para derrubar Cunha. Esta é melhor do que aquela história do policial que, vendo um morto cujo corpo estava dentro de um saco amarrado e a arma do lado de fora, afirmou que se tratava de suicídio.
Em qualquer outra situação, um deputado indiciado em um dos maiores escândalos de corrupção da história recente do país nunca poderia assumir o terceiro cargo da República. A razão para tanto foi mostrada na semana passada: ele fará tudo o que estiver a seu alcance para constranger as investigações, até mesmo tentar transformar seu problema pessoal em problema nacional.
(…)
Infelizmente, atualmente, basta o distinto deputado ser antigovernista para ser poupado por certo setor da imprensa nacional com sua indignação moral seletiva. Pois pergunte-se quantas vezes você leu algum artigo sobre o histórico completo do senhor Cunha.
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