Daqui a 17 dias contados deste sábado, 7/1/12, acabará o fornecimento "gratuito" (nada é grátis, tudo está embutido nos preços) das sacolas plásticas nos supermercados e, teoricamente, nas lojas.
Recebi este folheto em um supermercado de São Paulo, cuja moça do caixa disse que a partir do dia 25 de janeiro cada sacola "biodegradável" custará absurdos R$ 0,20 (R$ 0,19, na linguagem enganadora do comércio que, se pudesse, estabeleceria o valor em $ 0, 199).
No verso do folheto há o link para o site da campanha: www.vamostiraroplanetadosufoco.org.br
Visitando o portal surge, logo de cara, o prefeito de São Paulo tirando proveito da campanha, com sua foto estampada ali.
A questão é que as sacolas não irão desaparecer, mas ser substituídas por outras, chamadas de "biodegradáveis" por uma tal Associação Brasileira de Polímeros Biodegradáveis e Compostáveis (Abicom), que diz monitorar o uso de produtos biodegradáveis certificados no mercado.
Nas palavras da campanha: "Sacolas que se dizem biodegradáveis só devem ser reconhecidas desde que tenham evidência científica de que irão se decompor completamente na natureza dentro de um prazo razoavelmente curto de tempo."
No site da campanha "biodegradável" ou "oxibiodegradável" são definidas como sacolas produzidas com qualquer material que apresente degradação acelerada por luz e calor, devendo ser desintegrada em até 18 meses. O resultado da decomposição do material usado na produção deste tipo de sacola deverá ser gás carbônico, água e biomassa, e não poderá gerar resíduos que apresentem qualquer risco de toxidade ou ameaça ao ambiente.”
Gás carbônico??? Mas esse é não é, além do metano, o grande causador do efeito estufa?
E mais: "oxibiodegradável" significa biodegradável na presença de oxigênio, e sacolas enterradas em lixões não poderão se decompor, portanto.
E, se "não cobravam" antes pelas sacolas ditas sufocantes do planeta, por que vender agora as supostamente ambientalmente corretas?
Segundo algumas reportagens, o custo das atuais sacolas plásticas é R$ 0,03, e o das novas, biodegradáveis, será R$ 0,19.
Três centavos de real dão somente para comprar três selos de carta social nos Correios. Mas esse valor, multiplicado pelos 2,5 bilhões de sacolas que o folheto da campanha diz serem consumidos mensalmente, somente São Paulo (o texto não deixa claro se a referência é ao Estado inteiro ou à capital), dá R$ 75 milhões por mês!
Os patrocinadores da campanha - que não obriga ninguém, porque não é lei - disseram nos jornais que os R$ 75 milhões não pagam os custos de divulgação da campanha. Como não? São R$ 75 milhões mensais. Quase R$ 1 bilhão por ano!
Se os supermercados e demais lojas doassem esse R$ 1 bilhão anual economizado, considerando só São Paulo, às Santas Casas de Misericórdia, daria para acreditar no discurso deles.
Evidentemente, muita gente deixará mesmo de utilizar sacolas, quando possível. Sim, porque quem está na rua e decide fazer uma compra não planejada terá de pagar pela sacola ou levar os produtos nas mãos, na bolsa, nos bolsos.
Tudo bem, tudo muito bom, mas que tal exigir dos grandes beneficiários - economicamente - da campanha que doem (do verbo doar, sem doer no bolso, altruisticamente) os R$ 75 milhões mensais economizados?
O Brasil tem jeito, e isso passa, muitas vezes, longe do setor público, geralmente escapista, evasivo quando cobrado.
Para dar uma ideia de quanto o apoio popular nesse sentido ajudaria a saúde pública, a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo devia aos bancos, no ano passado, cerca de R$ 120 milhões. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, doou então a ela a generosa quantia de R$ 10 milhões, ao mesmo tempo em que contribuiu com sete vezes mais para a construção do estádio do clube de futebol Corinthians, em São Paulo, o chamado Itaquerão.
O setor privado seria, quem sabe, mais sensível aos protestos do público, pagante ou não.
Por Luiz Leitão
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