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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

ALGUMA FELICIDADE

 

Por Luiz Carlos Amorim – Escritor – http://luizcarlosamorim.blogspot.com
Às vezes, sinto-me um pouco culpado por ter a felicidade de poder olhar nossa Xuxu deitadinha em sua manta, dormindo serena, sem sentir dor, sem se lamentar por quase não enxergar, por ouvir muito, muito pouco, por quase não ter mais faro.
O mundo lá fora anda conturbado, mas nossa pinscher de dezessete anos – quase cem anos em idade de humano – é um bálsamo que ajuda a curar as feridas e traz ternura aos nossos corações. Nossas filhas já estão adultas, têm a sua própria vida, já saíram do ninho, mas Xuxu continua aqui, a nossa eterna criança.
É curioso que, nessa história dos filhotes que deixam o ninho, Xuxu também sente a falta deles, como se fossem os filhotes dela. Minha filha Daniela está em Lisboa, fazendo um Mestrado, mas Fernanda está mais perto, em Ribeirão Preto, onde mora com o marido. Então é mais fácil nos visitarmos, ainda que não muito frequentemente. Ela, Fernanda, veio passar o carnaval aqui e Xuxu fez a maior festa ao vê-la chegar. Não desgrudou mais dela e, quando ela saiu, ficou dormindo enrolada em uma manta da filha.
É uma coisa de química, de alma, sei lá, porque mesmo enxergando muito pouco, não sentindo cheiros e ouvindo quase nada, Xuxu reconheceu Fernanda imediatamente. É uma coisa que não dá para explicar, é apenas para se aceitar.
Xuxu esteve muito doente, recentemente, pensamos até que a filhota não ia mais encontrá-la quando chegasse. Mas ela foi medicada e está comendo bem de novo, está se recuperando e os analgésicos não deixam que ela sinta dor. É bem verdade que é difícil enganá-la, escondendo o remédio na comida, mas até agora estávamos conseguindo que ela comesse. Hoje ela recusou a comida com remédio. Vamos ver como é que fica. Porque é muito triste ter que segurá-la para colocar o remédio na sua boca e fazê-la engolir. Ela é muito forte, apesar da idade e, às vezes, uma pessoa só não consegue segurá-la.
A verdade é que o veterinário nos disse que não é recomendável segurá-la com força, porque podemos quebrar algum osso dela, pois ela tem reabsorção óssea. De maneira é preciso deixá-la com muita fome para ela aceitar a comida com o remédio misturado, pois ela deve perceber o gosto diferente, não muito agradável. E é tão importante que ela coma, quanto que tome os remédios, para ficar bem e para sair latindo pela casa, como se tivesse apenas quatro ou cinco anos.
Xuxu está velhinha, velhinha, mas ainda é a nossa bebê. Somos privilegiados por tê-la conosco, ainda, e isso nos faz feliz. Mais felizes ainda por ter nossa filharada por perto, ainda que esporadicamente.

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