O helicoca no momento da apreensão no ES
Em entrevista ao UOL, o acadêmico e ex-secretário de Estado de Direitos Humanos Paulo Sérgio Pinheiro citou uma ideia que sempre vem à tona quando o assunto é crime organizado. Segundo Pinheiro, os grandes líderes não estão nos morros trocando tiros entre eles ou com a polícia.
“Aqueles são pés de chinelo intermediários, os traficantes moram na Barra ou em Miami”, afirmou, repetindo uma frase que seria um clichê especulativo, não fossem os indícios do envolvimento de gente graúda no crime organizado e a intrigante inépcia das autoridades em investigar a fundo quem são esses chefões.
No livro “Zero, Zero, Zero”, uma radiografia do tráfico internacional de drogas, o escritor italiano Roberto Saviano chama a cocaína de “resposta universal para a necessidade de liquidez”, uma espécie de caixa eletrônico para os endinheirados com moral frouxa.
“Tem um shopping center à venda? Você importa a cocaína e um mês depois tem o dinheiro para concluir a transação”, escreveu Saviano, que conhece o assunto tão bem que está jurado de morte pela organização mafiosa Camorra.
Saviano citou shopping center, mas poderia ter usado “campanha política” para exemplificar o poder da cocaína como meio de angariar recursos financeiros.
Sendo o Brasil uma importante rota do tráfico de drogas e a prática do caixa dois entranhada no sistema político, é estranho que uma denúncia como a que liga a deputada federal Cristiane Brasil ao tráfico de drogas tenha se arrastado por oito anos.
De acordo com a denúncia, de 2010, assessores de Cristiane, na época vereadora licenciada, teriam dado dinheiro a traficantes de um bairro do Rio de Janeiro em troca de apoio político. Apesar da gravidade da denúncia, o inquérito só foi encaminhado ao Ministério Público no início deste ano.
A forma como a denúncia foi conduzida guarda certa semelhança com o caso dos 445kg de cocaína encontrados a bordo de um helicóptero da família do senador Zezé Perrella, em 2013.
A aeronave, inclusive, era pilotada por um assessor parlamentar indicado pelo filho de Zezé, Gustavo Perrella, na época deputado estadual em Minas Gerais. Isso não impediu o delegado responsável pelo caso de levar apenas duas semanas para descartar a participação dos Perrella na transação.
Quando a leniência não vem da polícia ou do Ministério Público, ela vem da Justiça, como no habeas corpus concedido pelo STF ao prefeito do município paulista de Embu das Artes, Ney Santos.
Segundo o MP, Santos é integrante da facção criminosa PCC e teve um pedido de prisão preventiva por lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa. Votaram contra o habeas corpus os ministros Luís Roberto Barroso e Rosa Weber. Pela manutenção do HC, votaram os ministros Marco Aurélio Mello e Alexandre de Moraes.
Como o empate favorece o investigado, Ney Santos segue livre e solto no comando de Embu das Artes.
Enquanto isso, o chumbo grosso da lei continua caindo quente em cima dos delinquentes de bermuda e chinelos, os suspeitos de sempre. Só para eles.
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