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quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Afinal, Moro quer mesmo a verdade, u não?

CPI pode fazer acareação que compromete delação de Youssef

cpiMeirelles

O sócio do laboratório Labogen Leonardo Meirelles, que operava o esquema de lavagem de dinheiro juntamente com o doleiro Alberto Youssef, deu elementos à CPI da Petrobras nesta quinta-feira (24) que podem colocar em xeque a validade da delação premiada do doleiro junto ao Ministério Público e à Justiça Federal. Meirelles – que é réu em quatro ações penais e já foi condenado em uma delas a 1 ano e 5 meses de prisão – confirmou durante seu depoimento na comissão as declarações dadas por ele à imprensa no início deste ano, segundo as quais Youssef mentiu à Justiça acerca do seu patrimônio.

O intrigante da história é que – apesar de o advogado de Youssef ter feito um pedido de acareação entre seu cliente e Meirelles, e o próprio Meirelles haver se prontificado à acareação – o juiz Sérgio Moro, responsável pelo inquérito da Lava-Jato, negou o pedido. Para o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), relator da CPI, o fato causa estranheza, já que as informações prestadas por Leonardo Meirelles divergem em pontos que são essenciais à Justiça. “Ele [Meirelles] faz a afirmação de que o Youssef estaria ocultando patrimônio, ocultando empresas em nome de terceiros, ocultando recursos”, detalhou Luiz Sérgio.

Diante dessa contradição, um dos passos da CPI na próxima semana será tentar aprovar um requerimento para que a acareação ocorra o mais rapidamente possível na comissão. Um dos prontos cruciais de um possível confronto de informações entre os dois réus será justamente acerca do patrimônio do Youssef. Ao jornal Folha de S.Paulo, Meirelles afirmou no início do ano: “Tem muitas coisas ocultas, dentro de fundos ou são ao portador. O patrimônio dele é de R$ 150 milhões a R$ 200 milhões. O banco do Youssef, porque doleiro é como um banco, movimentava de R$ 30 milhões a R$ 40 milhões por mês”.

O deputado Luiz Sérgio apontou outro fato que motiva estranheza na decisão de Moro em negar a acareação. Para o relator, o juiz teria todos os motivos para desconfiar que Alberto Youssef seria capaz de mentir, já que por ocasião da CPI do Banestado o doleiro também fez acordo de delação premiada com o Ministério Público, assumiu compromissos e quebrou o acordo. Um dos compromissos assumidos era justamente o de não voltar ao mercado de dólares, o que de fato não ocorreu.

“Ao fazer a segunda delação, vem uma pessoa [Meirelles] e contesta a versão dele [Youssef] e não vimos a rigidez, a firmeza e o combate implacável à corrupção do juiz Sérgio Mouro em fazer essa acareação. Em vez disso, ele indeferiu o pedido. É muito estranho”, avaliou Luiz Sérgio.

Ao comentar as análises do relator, Meirelles disse durante seu depoimento à CPI que há uma diferença “muito grande” entre o que ele disse à Polícia Federal e à Justiça Federal e o que foi dito por Youssef. “No meu caso, tudo o que eu falei foi confirmado e provado”, afirmou. “Eu trouxe materialidade ao processo”, completou o depoente, fazendo novo contraponto às informações prestadas pelo doleiro, que, segundo ele, careceriam dessa materialidade.

Para reforçar o que estava dizendo, Meirelles disse que viajou, inclusive, à China para buscar informações (documentos e estratos de contas bancárias) para comprovar o que declarou em juízo. “Meus fatos não são coisas que são pensadas, e eu não estou aqui fazendo uma seletiva do que eu posso responder ou não. Na verdade, eu consigo responder o que eu tenho de documentos; o que não tenho de documento, eu não posso afirmar, como a maioria dos delatores, que são informações, suposições, e em cima disso estão sendo construídas as prisões e uma série de coisas. Aí é questão técnica que não cabe à minha pessoa”, afirmou o depoente.

Ao fim do depoimento, Meirelles reforçou sua disposição em participar da acareação. “Sou réu confesso dos erros que cometi, me arrependo bastante de ter me envolvido com pessoas que não deveria, por falta de cautela da minha parte (...) Estou à disposição para a acareação e para o que eu puder colaborar nesse processo, para que ele tenha um fim digno”.

PT na Câmara

Foto: Gustavo Bezerra/PT na Câmara

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