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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Será que Stalin tinha razão?

Por Reginaldo Nasser
http://www.envolverde.com.br/#
Nada mais justos do que os protestos internacionais no caso da iraniana Sakineh
Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento. O caso não é único. No
Iraque, um país sob ocupação dos EUA, foram assassinadas ("assassinatos pela
honra"), somente em Bagdá, 133 mulheres em 2007. Devemos olhar para outros
registros também. Calcula-se que a invasão dos EUA já deixou mais de um milhão
de iraquianos mortos. Em que termos deve ser colocado o debate sobre direitos
humanos? Será preciso dar razão a Stalin quando disse que "a morte de uma pessoa
é uma tragédia; a de milhões, uma estatística"?
O caso da iraniana, Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por
apedrejamento, tem despertado a atenção da mídia internacional e já causou
protestos em vários países. Nada mais justo! Mãe de duas crianças, já recebeu 99
chibatadas por ter mantido um "relacionamento ilícito" com um homem acusado de
assassinar seu marido. Além disso, há indícios de que tenha sido torturada. O
Irã é um dos países onde mais têm ocorrido execuções (388) no mundo com um
aumento significativo após a fraude eleitoral, mas não é caso único. Segundo
estimativas da Anistia Internacional aproximadamente 714 pessoas foram
executadas em 2009. (Iraque, 120; Arábia Saudita, 69; EUA, 52; Iêmen, 30. A
China não fornece nenhum tipo de informação, provavelmente foram milhares).
Houve repercussão? Ou o problema maior é o apedrejamento num pais inimigo?
No Iraque, um país sob ocupação dos EUA, foram assassinadas ("assassinatos pela
honra"), somente em Bagdá, 133 mulheres em 2007. Mas, devemos olhar para outros
registros também. Numa pesquisa realizada pelo conceituado jornal médico The
Lancet, estima-se que mais de 600 mil iraquianos foram mortos como resultado da
invasão dos EUA até 2006. Calcula-se que já está em torno de mais de um milhão
de Iraquianos mortos de acordo com a Opinion Research Business (conceituada
agência britânica de pesquisa). A grande imprensa não deu o devido destaque, mas
há uma discussão no Congresso dos EUA sobre a possibilidade de cortar a ajuda
humanitária às vítimas civis de ataques das forças americanas.
Nesse mês de agosto, em que o tema dos Direitos Humanos passou a ser ventilado
por todos, inclusive pelo Jornal Nacional que questionou a candidata do PT,
deveríamos aproveitar a ocasião das "celebrações" e relembrar o que aconteceu há
exatamente 65 anos para podermos compreender como as potências mundiais se
preocupam com os direitos humanos.
O então presidente dos EUA Harry Truman foi um dos maiores entusiastas da
Declaração Universal dos Direitos humanos aprovada na ONU em Dezembro de 1948.
(Será preciso lembrar a condição de desrespeito aos direitos humanos dos negros
nos EUA?) Isso mesmo, 3 anos após ( Agosto de 1945) ter autorizado o lançamento
das bombas nucleares que causou a morte imediata de 200 mil pessoas e
aproximadamente 100 mil feridos com o objetivo "humanitário" de "salvar milhões
de vidas", proporcionando um fim rápido para a guerra.
Para além das questões morais envolvidas, foi necessário o ataque nuclear? O
Japão já havia sido derrotado militarmente. Contra a defesa área e marítima
japonesa praticamente aniquiladas, os bombardeiros dos EUA promoviam uma
verdadeira devastação em suas cidades. Na noite de 10 março de 1945, uma onda de
300 bombardeiros americanos atingiu Tóquio, matando 100 mil pessoas e queimando
35 % das residências. Um milhão de moradores foram desalojados. A comida
tinha-se tornado tão escassa que a maioria dos japoneses sobreviviam com uma
dieta de fome. No dia 23 de maio ocorreu a maior incursão aérea da Guerra do
Pacífico, quando foram lançadas 10 mil toneladas de bombas incendiárias em
Tóquio e outras grandes cidades (veja esse relato no Filme: A Nevoa da Guerra).
De acordo com comandante da força aérea americana, LeMay, o objetivo dos
bombardeiros americanos era conduzir os japoneses "de volta à idade da pedra".
Mas o mesmo general disse que "A bomba atômica não tinha nada a ver com o fim da
guerra." Hoje, há farta documentação mostrando que os japoneses, em meados de
abril de 1945, estavam oferecendo termos de rendição praticamente idênticos
aqueles que foram aceito pelos norte-americanos em setembro (ver a excelente
pesquisa histórica sobre essa questão no The Journal of Historical Review,
May-June 1997, Vol. 16, No.3).
Em que termos deve ser colocado o debate sobre direitos humanos? Se a tortura e
a pena de morte devem ser repudiadas, independentemente das circunstâncias, a
questão dos meios e sua efetividade são irrelevantes? Por que condenar a tortura
e silenciar sobre atos de "guerra"? Por exemplo, os bombardeios, que se sabe
previamente que causam dano à vida humana, dado o seu alto poder destrutivo, são
justificáveis para a segurança e a defesa nacional? Para o mainstream as
operações militares, em que morrem ou resultam feridos civis, não podem ser
qualificados imediatamente como crimes, sempre que seu objetivo não seja
infligir "deliberadamente" o individuo indefeso.
Será preciso dar razão a Stalin quando disse que "A morte de uma pessoa é uma
tragédia; a de milhões, uma estatística"?

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