"Cidão, pelo amor de Deus, cara. Ele dê a ordem, que o povo está com ele", disse o coronel Jean Lawand Junior, então subchefe do Estado Maior do Exército
Polícia Federal e Bolsonaro com Mauro Cid (Foto: REUTERS/Adriano Machado | Isac Nóbrega/PR)
247 – A revista Veja revelou nesta quinta-feira uma trama golpista contida no celular do tenente-coronel Mauro Cid, que envolveu até mesmo integrantes do alto escalão das Forças Armadas. Diálogos entre o coronel Jean Lawand Junior, então subchefe do Estado Maior do Exército, e Mauro Cid atestam a participação de Lawand no plano. Após a derrota de Bolsonaro nas eleições, Lawand manteve contato frequente com Cid e exigiu repetidamente que o plano fosse colocado em prática. Na noite de 1º de dezembro, Lawand implorou: "Cidão, pelo amor de Deus, cara. Ele dê a ordem, que o povo está com ele". Ele se referia ao então presidente Bolsonaro e alertou que o Exército Brasileiro seria prejudicado se os generais que chefiavam as Forças Armadas não cumprissem a ordem, aponta reportagem publicada no jornal O Globo.
Em sua resposta, Cid foi breve: "Mas o PR (presidente) não pode dar uma ordem se ele não confia no ACE (Alto-Comando do Exército)". No dia seguinte, Lawand retomou o assunto e relatou um encontro entre "um amigo do QG" e o general Edson Skora Rosty, então subcomandante de Operações Terrestres, que teria concordado com a ofensiva. Lawand afirmou: "Foi uma conversa longa, mas, para resumir, se o EB (Exército Brasileiro) receber a ordem, cumpre prontamente". No entanto, ele ponderou: "O Exército não fará nada por conta própria, pois seria visto como um golpe. Portanto, está nas mãos do PR (presidente)".
Nove dias depois, as intenções golpistas continuavam presentes nas interações da dupla. Lawand assegurou: "Se a cúpula do Exército não está com ele, da Divisão para baixo está". Ele prosseguiu suplicando: "Assessore e dê-lhe coragem. Pelo amor de Deus". Cid informou que muitas coisas estavam acontecendo "passo a passo". Lawand comemorou: "Excelente!".
Procurado pela revista, Lawand, que foi designado pelo governo Lula para assumir o cargo de representante militar em Washington, nos Estados Unidos, afirmou ter uma relação de amizade com Cid e que suas conversas tratavam de assuntos triviais. Ele afirmou não se lembrar de nenhum diálogo com teor golpista. O general Rosty também relatou não se recordar de conversas desse tipo. Cid está preso desde o início de maio, após uma operação da Polícia Federal sobre fraudes em cartões de vacina, na qual seu telefone foi apreendido.
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