Brasil tem mil mortes em 24 horas e a conversão do sargento Silvano está completa: seguidores de Bolsonaro “desprezam famílias enlutadas”, diz ex-bolsonarista
O sargento Silvano Oliveira era um bolsonarista típico até o dia 3 de março de 2020, quando escreveu no twitter: “Eu acredito que em breve o presidente Jair Bolsonaro declarará intervenção militar na nação. Ninguém aguenta apanhar dia e noite de políticos e mídia”.
Naquela data, havia apenas dois casos confirmados de coronavírus no Brasil e outros 488 suspeitos, apenas um no Pará.
Dias depois, na Flórida, o presidente Bolsonaro diria em discurso diante de empresários que a pandemia era, acima de tudo, um caso de “histeria” da mídia.
O sargento certamente concordava com isso. No 27 de março, defendeu a reabertura imediata do comércio, dizendo em que 30 dias todos concordariam com Bolsonaro.
Não foi o que aconteceu.
Em 2018, Silvano Oliveira foi eleito vereador em Belém pelo PSD com 3.903 votos.
Em 2020, entusiasmado, tentou dar um passo adiante, mas não conseguiu se eleger deputado estadual (teve 15.746 votos), apesar do forte apoio entre colegas bolsonaristas da Polícia Militar do Pará.
Em suas mensagens no twitter, o vereador confessa que é de extrema-direita e antipetista.
Em 30 de março, disseminou fake news segundo a qual a presidenta do PT teria orientado os eleitores do partido a não aceitar os R$ 600 de ajuda do governo federal.
Mas a leitura das mensagens demonstra que a postura do vereador mudou repentinamente.
No dia 13 de abril, o sargento foi à UPA da Sacramenta, em Belém, e compartilhou que “o médico julgou necessário fazer exame para COVID-19. Cumprindo quarentena”.
Depois de publicar várias passagens bíblicas e participar de um grupo de orações, o vereador compartilhou notícia de sua cura:
O Covid 19 é uma realidade é uma praga, não brinque com isso, ele pode matar você e sua família. Eu fiquei curado, pela infinita misericórdia de Deus, sofri muito, fui no vale da sombra da morte, mas o Senhor, ouvir as minhas orações e me deu uma nova chance. Glória a Deus.
Porém, isso não seria tudo. Integrantes da família do vereador também foram contaminados.
No dia 20 de abril, depois de ficar sabendo de um grande número de mortes, ele finalmente rompeu com o discurso bolsonarista:
Isso não é uma gripinha, como disse o Bolsonaro. O presidente mente para o povo brasileiro. Bolsonaro perdeu o meu respeito! Falo de tudo que tenho sofrido com minha família nesses últimos dias. Misericórdia Deus.
Oficialmente, eram 35 mortos no Pará — e o sargento temia pelo futuro da esposa e do pai.
No dia 21 de abril, ele escreveu outras mensagens:
Entre a minha família e aliados políticos, eu prefiro a minha família. Oro Deus, por você que está me criticando, por eu ter tomar essa decisão, não pegue o Covid 19. O Senhor vai cobrar das autoridades desse país pela negligência e morte do povo brasileiro. Segue internados minha esposa e pai vítimas de Covid 19. Eu já fiz o teste novamente deu negativo. Peço oração a igreja.
Mas, nem todas as orações ajudaram a salvar o pai do vereador.
Francisco Rodrigues Lopes, de 65 anos de idade, não resistiu e morreu da doença no domingo, 17, depois de 30 dias de internação.
Nos últimos dias, o sargento Silvano escreveu uma série de mensagens se defendendo de críticas recebidas de eleitores ou partidários do presidente da República nas redes sociais.
No 18 de maio, desabafou:
Os homens e mulheres que seguem o Bolsonaro desprezam as famílias enlutadas. Um exemplo claro disso é os ataques que eu venho sofrendo, mesmo enlutado, nas redes sociais. A política partidária está deixando as pessoas loucas.
Pela primeira vez desde o início da pandemia, o Brasil teve mais de mil mortes registradas em 24 horas, atingindo nesta terça-feira 17.971.
Oficialmente, o Pará chegou perto dos 1.400 óbitos.
O número de novos casos no País bateu recorde, passando dos 17 mil oficialmente confirmados, o que significa que a pandemia terá duração de ao menos mais algumas semanas nos hospitais.
A mudança de opinião do sargento não surpreende: a realidade está deO processo de mudança levou menos de um mêsmolindo a realidade paralela de Jair Bolsonaro.
O processo de mudança levou menos de um mês
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