Peça central das campanhas permanentes contra os bancos públicos brasileiros, o BNDES tem sido uma decepção para os governos que assumiram o governo federal após o golpe que afastou Dilma Rousseff. Isso porque não conseguem confirmar as próprias denúncias.
Ao explicar o pedido de demissão de Joaquim Levy, humilhado por um "tô por aqui" do próprio Jair Bolsonaro, o repórter Bernardo Caram, da Folha de S. Paulo, lembrou uma verdade que até as pedras de Brasília já conhecem: "a avaliação é de que Levy não deu andamento a uma criteriosa revisão das grandes operações feitas pelo BNDES, principalmente durante a gestão petista".
A verdade é que Joaquim Levy não é o primeiro economista a ocupar a presidência do BNDES cercado pela expectativa de que iria denunciar gigantescos esquemas de corrupção contra o Partido dos Trabalhadores -- para ir embora sem nada apontar.
Nomeado presidente do BNDES por Michel Temer, em meio a expectativas idênticas, o economista Paulo Rabelo de Castro, também decepcionou os padrinhos, no governo, no mundo acadêmico e no jornalismo.
Após uma apuração nos bastidores do banco, Rabelo de Castro produziu o "Livro Verde," um balanço das operações do BNDES ao longo de quinze anos -- 2001 e 2016 --, período que cobria, justamente, os governos Lula e Dilma. Sua conclusão foi um choque para quem esperava uma nova Operação Lava Jato: "É um banco de comportamento absolutamente ético e exemplar", disse. “Encontrei no BNDES uma equipe excepcional, de cerca de 2,8 mil pessoas, em geral jovens de muito talento. O Banco é casado com o desenvolvimento, a geração de emprego e a inovação, portanto casado com o futuro”, explicou. Com as credenciais de quem foi aluno de Milton Friedman, um dos papas da Universidade de Chicago -- onde Paulo Guedes também estudou --, Rabelo de Castro defende ideias conservadoras em meia dúzia de livros, um deles em homenagem a Roberto Campos. Também foi conselheiro da Federação das Industrias de São Paulo e presidiu o Instituto Atlântico, de apurada sintonia conservadora.
A atitude responsável de Rabelo de Castro, ao colocar o respeito aos fatos acima das conveniências políticas, teve seu preço. O Livro Verde não teve, nem de longe, a repercussão devida. O próprio economista, que foi vice de Alvaro Dias na última campanha presidencial, até então tinha uma presença frequente em debates sobre política econômica na TV. Caiu na geladeira.
Pode-se esperar um tratamento menos doloroso a Joaquim Levy, já que sua saída ocorre no pior dos muitos momentos ruins do governo Bolsonaro. Conservador assumido, Levy ocupou postos importantes no governo Lula e em especial no início do segundo mandato de Dilma, quando foi ministro da Fazenda.
O debate, aqui, não envolve destinos pessoais nem carreiras profissionais, mas projetos de desenvolvimento econômico.
Fundado em 1952, hoje um dos maiores bancos de desenvolvimento do mundo, o BNDES ocupou um lugar especial na política econômica dos governos Lula e Dilma. Teve um papel positivo no bom momento vivido pelo país (lembra do desemprego de 4%?) no período.
Numa economia onde os bancos privados cobram juros pornográficos, que inviabilizam a maioria dos investimentos de longo prazo, o BNDES oferece recursos a um custo mais baixo, viabilizando negócios -- pequenos, médios, gigantescos -- que poderiam morrer sem sair da planilha.
Na crise de 2008-2009, período em que os grandes bancos privados fugiam de clientes em dificuldade, ocupados apenas em proteger seus lucros, o trio de grandes bancos públicos -- Caixa, Banco do Brasil e BNDES -- foi o instrumento básico para impedir um desastre apocalíptico.
Diante de uma instituição que cumpre uma função econômica inegável e já recebeu atestado de boa conduta por parte de dois presidentes sem qualquer ligação suspeita, talvez seja mais prático, para o governo contratar um executivo abertamente desonesto para assumir a presidência do BNDES, desses que cumprem ordens de cima sem vacilar nem reclamar -- de olho no salário gordo de cada mês e no bônus de fim de ano.
Alguma dúvida?
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