Bruno Peron
Quando me surgiu, há pouco tempo, a ideia de desenvolver a noção de “instrução cívica” para o Brasil, refleti sobre o que entendo como “instrução” e seu qualificativo “cívico”. Este texto focalizará os aspectos dessa ideia que não somente inaugura uma prática metaprofissional senão também viabiliza o Brasil e promove o bem comum dos brasileiros.
Alguns dos debates na pauta de educadores são o de como melhorar a educação nos setores públicos e privados, preparar os jovens para exames vestibulares, e aumentar o nível de escolaridade da maioria dos jovens no Brasil. Porém, há impasses entre esses educadores, como o dos movimentos grevistas que demandam apenas salários maiores para professores, e o do envio de milhares de estudantes ao exterior como caminho para reformar gradualmente os sistemas brasileiros de ensino.
Sem hesitação, afirmo que o problema da educação é estrutural no Brasil e depende, para sua solução, de brotos de cidadãos bem-intencionados que irrompam de nosso meio educacional pútrido. Logo, o aumento de salários de profissionais de educação pública e a evasão de verbas de educação brasileira para financiar universidades estrangeiras não têm provas de eficácia. É preciso repensar no papel instrutor dos que detêm legitimidade social para instruir no Brasil, mas que, nem por isso, são os únicos seres de onde os esforços educativos emanam: professores, jornalistas, escritores, pais de família, etc. Decerto, há fontes várias.
Com essa inspiração, gangues de burocratas do Maquinário tupinica entenderão que o dever de instrução grassa em todas as instituições e não depende somente do que esses profissionais do Maquinário determinam como plano ou sistema disso e daquilo. Cultura e educação são dois âmbitos que o Maquinário tem circunscrito em esferas hierárquicas de controle. Mas essa verticalização da gestão de cultura e educação tem efeitos nocivos para o Brasil. Num país tão ceifado no empreendedorismo material, só lhe resta elevar a cultura e a criatividade dos brasileiros a níveis celestiais. A muitos desses burocratas, custa reconhecer que nem toda empresa privada massacra pessoas em nome do lucro. Ao contrário, muitas delas têm papel social melhor que o do Maquinário.
Portanto, os desafios de instrução lançam-se a toda sociedade (família, escola, religião, bairro, etc.) e suplica através dela uma revisão profunda. Ainda que o brasileiro seja um ser resistente a reformas (por exemplo, poucos aceitam ser corrigidos e mudar de opinião), nosso nível de instrução é baixo e insuficiente para o propósito de criar aqui uma nação civilizada. Não demora para que nos tornemos apenas consumidores de tecnologias, para que o Brasil não produza quase nada materialmente valioso, e para que haja desentendimentos entre meio-cidadãos que se acham donos da verdade e que impõem seus julgamentos aos demais.
É assim que o brasileiro se caracteriza como intolerante a outro que seja diferente dele. Não faltam exemplos de fobias de gênero, raça e religião, como a imprensa destaca. Contudo, que poderíamos esperar de meio-cidadãos que reproduzem as podridões culturais que aprendem em casa? A única luz no fim do túnel é um renascimento cívico que nos treine ao respeito mútuo e reinvente as interações entre pessoas diferentes.
A partir desse raciocínio, esclareço também os sentidos do termo “cívico” para dar coerência à ideia de “instrução cívica” que proponho. Penso nos desafios de transformar meio-cidadãos tupinicas em cidadãos brasileiros e de estimular o orgulho patriótico de quem acredita no Brasil como terra de convergências culturais, étnicas, espirituais e sociais. Assim, o espiritualismo prevalecerá sobre o materialismo no Brasil.
Já que se fundou no Brasil um país tão grotescamente educado para o progresso material, onde indivíduos e grupos sociais se distinguem pela capacidade de posse e exibição de bens materiais, haveremos de crer ao menos na evolução anímica de sua coletividade. Porquanto dizimamos os índios e estamos em vias de aniquilar as reservas florestais, a humilhação que impusemos à natureza não oculta nossa dívida cívica.
É evidente que, com tudo que expus nessas linhas, sugiro que haja um pouco de instrutor cívico em todos nós. Até que esse senso de responsabilidade se aflore, nosso país se anuviará um pouco mais sob um nevoeiro cívico que acomoda e punge qualquer pecador meio-cidadão.
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