sexta-feira, 9 de dezembro de 2016
171, um número que acua Temer
Por não ter contado com o apoio de 171 deputados, Dilma Rousseff teve seu
pedido de impeachment aprovado por uma “assembleia de bandidos” na noite de 19
de abril. Este é aproximadamente o número de deputados irmanados no Centrão, o
que, afora a tibieza, ajuda a explicar o rápido recuo de Michel Temer da
decisão de nomear o tucano Antônio Imbassahy para a Secretaria de Governo, cargo
que era de Geddel Vieira Lima e responde pela articulação política do Governo.
Mais dia, menos dia, Temer pode precisar de 171 deputados para barrar um dos
pedidos de impeachment contra ele já apresentados à Câmara.
Não emplacando o tucano no núcleo duro do governo, Temer terá que compensar
os tucanos com algo mais valioso. O que eles querem, todos sabem, é o comando da
economia, embora não haja tempo nem condições para a gestação de um novo FHC:
alguém que se viabilize eleitoralmente a partir de uma bem sucedida gestão
econômica. O tempo é curto e a situação bem diferente da de 1983/84, quando o
problema se resumia à inflação. Agora o país vive uma depressão que é cavada dia
a dia pela incerteza política, e que não terá remédio fora da re-legitimação do
sistema pela convocação de eleições diretas. De preferência gerais, pois a
credibilidade do Congresso também já bateu no fundo do poço.
É pressionado pelos tucanos que Temer hoje se aventura numa viagem pelo
Nordeste, numa agenda que procurou deixar o povo longe para evitar as vaias e o
Fora Temer. E com isso empurra para a semana que vem a decisão sobre a
substituição de Geddel, que operava em sintonia com o Centrão.
Agora, com dezembro voando sob o impulso das crises de cada dia, será
difícil impedir a ruptura da “super base parlamentar” de que Temer tanto se
vangloria. Governos que não conseguem equacionar bem a sucessão na presidência
da Câmara costumam pagar caro. Aconteceu com Lula, quando o racha em sua base
deu na vitória de Severino Cavalcanti, em 2005. Aconteceu com Dilma em 2015,
quando o PT peitou Eduardo Cunha e perdeu, dando início ao racha com o PMDB. Na
base de Temer existem duas candidaturas do Centrão (Jovair Arantes (PTB) e
Rogério Rosso (PSD) e a candidatura de Rodrigo Maia, afora a do próprio
Imbassahy, do PSDB. Com ele ministro e fora do páreo, suspeitam os do Centrão
que os tucanos passariam a trabalhar por Rodrigo Maia. Por isso o veto. Eles
sabem que Temer não resiste a uma pressão.
Mais dia, menos dia, um de seus pedidos de impeachment terá que ser
apreciado. Maia recusará todos mas a oposição poderá recorrer ao plenário,
criando para o governo a necessidade de uma barragem da proposta por 171 votos.
O número do Centrão. Mas o golpe dentro do golpe pode vir também por outra via,
a do TSE. Assim como no STF, naquela corte também há talento e competência para
ajustar as interpretações jurídicas aos interesses políticos.
http://www.brasil247.com/pt/blog/terezacruvinel/269579/171-um-n%C3%BAmero-que-acua-Temer.htm
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