por : Paulo Nogueira
Desprezada
Se um dia a posteridade quiser aferir a miséria do jornalismo brasileiro nestes tempos, bastará consultar o desabafo da advogada Dora Cavalcanti, que defende a Odebrecht no caso Petrobras.
Num artigo publicado na Folha, ela contou que nem um único jornalista a procurou para conversar sobre o encontro que ela teve com o ministro José Cardozo no dia 5 de fevereiro.
Repito: nem um. Zero.
Que havia interesse jornalístico na reunião é evidente. É só ver, primeiro, o tom apocalíptico com que a mídia a noticiou. E depois a reação histérica e despropositada de Joaquim Barbosa e do juiz Sérgio Moro.
Por que, então, ninguém foi atrás de uma pessoa que participou do encontro?
É que a mídia brasileira não quer ouvir ninguém que traga pontos de vista diferentes dos seus em relação ao caso Petrobras.
Não há espaço para vozes divergentes. Não existe pluralidade. A grande mídia tirou de sua agenda opiniões discordantes.
Ajudar o leitor a entender a complexidade de muitas situações é uma das funções mais sagradas da imprensa.
A nossa abdicou disso há muitos anos. Se você mostra uma realidade parcial para o leitor é mais fácil manipulá-lo.
Esta a lógica sinistra da mídia brasileira.
Dora tens bons pontos.
A questão dos vazamentos seletivos é um deles. Em outros países, pondera ela, isso é inaceitável.
No Brasil, isso virou uma rotina – sem que se veja nenhum empenho em Moro em tentar pôr fim a elas.
Os vazamentos seletivos, e este é outro bom ponto de Dora, atrapalham consideravelmente o direito de defesa dos réus.
Em essência, é uma coisa injusta.
Como teria se comportado Moro se os vazamentos não alcançassem os suspeitos de sempre?
Bem, é uma hipótese inverossível: a imprensa não publicaria nada.
A advogada Dora Cavalcanti trouxe alguma luz ao caso Lava Jato com seu depoimento.
Moro e Barbosa, em compensação, produziram sombras.
Com sua agressão a Cardozo, Moro deixou claro, talvez involuntariamente, que está longe de personificar o ideal do juiz equidistante e imparcial.
É uma má notícia para a sociedade. Não à toa, a imprensa deu a ele o mesmo ar heroico que no Mensalão fora de Barbosa.
Os dois – Barbosa antes e Moro hoje – simbolizam o conservadorismo na Justiça nacional.
Barbosa, no Mensalão, fez horrores sem virtualmente nenhum obstáculo.
É um alerta.
Moro não pode ter o mesmo caminho fácil agora que foi concedido no passado a Barbosa. Seus métodos têm que ser desafiados quando necessário.
Foi o que a advogada Dora Cavalcanti fez.
A despeito do que a Justiça decida sobre o papel da Odebrecht na história, o gesto de sua advogada merece aplausos. De pé.
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