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domingo, 21 de junho de 2015

Crise imigratória na Europa

 

Bruno Peron

A Europa contempla uma grave crise humanitária e imigratória em seu próprio território. Os contratempos pelos quais seus membros passam perturbam inclusive a estrutura e a coesão da União Europeia. Esta já estava frágil devido à crise financeira que desestruturou países como Espanha e Grécia. Agora este bloco de integração ficou ainda mais incerto e vacilante.

Botes e barcos precários levam centenas de migrantes da África e do Oriente Médio para que tentem a vida em países mais avançados da Europa. Muitos não chegam ao outro lado da travessia, pois adoecem ou afogam-se. Até início de junho de 2015, 950 pessoas haviam morrido no mar Mediterrâneo na tentativa de migrar à Europa. Somente num fim de semana de junho de 2015, houve o resgate de 6.700 imigrantes perto de ilhas no sul da Itália.

Por alguma razão de proximidade geográfica ou até de reputação maior de acolhimento, a maioria desses imigrantes chega à Itália e, a partir dela, tenta seguir viagem a outros países. Um ponto favorável é a pressão do Papa para acolher os imigrantes. Além disso, italianos foram bem recebidos no Brasil, nos Estados Unidos e noutros países aonde fugiram das guerras europeias. Agora, eles dão o exemplo e fazem o mesmo com imigrantes africanos.

Nessas semanas últimas e dentro de suas possibilidades, italianos têm oferecido apoio físico, logístico e moral a esses imigrantes. A Cruz Vermelha, por exemplo, é uma organização internacional cujos membros têm provido alimento, medicamento e roupa aos imigrantes. No entanto, há que reconhecer que o ônus não deve pesar somente sobre os ombros da Itália.

Nota-se que outros países europeus tiram o corpo do problema. A França fechou sua fronteira e não deseja que mais imigrantes africanos aportem em seu território. É claro que os africanos preferem ir à França, por sua reputação como epicentro da “civilização” e da “Cultura” com maiúscula. Além disso, muitos desses imigrantes têm familiares que residem na França.

No entanto, o governo francês e alguns de seus cidadãos estabelecem um bloqueio xenófobo em sua fronteira com a cidade italiana de Ventimiglia. A maioria dos imigrantes vem de Costa do Marfim, Eritreia, Somália e Sudão. Seu objetivo é seguir para França, Alemanha, Áustria e outros países do centro-oeste da União Europeia. Seus mandatários já estão bem cientes das rotas principais desse fluxo migratório dentro da Europa.

Desde um ponto de vista histórico, há uma dívida colonizadora a ser paga por certos países que pesa menos sobre a Itália. Por isso, seria mais justo que os imigrantes africanos e asiáticos cheguem à França, Inglaterra, Holanda, Portugal, que são os países que mais escravizaram pessoas do continente africano. Essa dívida já tem sido paga, embora esses países tirem o corpo da responsabilidade patente de acolher as famílias de seus ex-escravos.

Ainda nesse cenário, o governo italiano é o que mais acolhe a entrada desesperadora de imigrantes em seu país. Tenta também negociar com outros países da União Europeia a redistribuição desses estrangeiros nos países do bloco europeu para que a Itália não seja o único país responsável.

O primeiro-ministro italiano quer que a União Europeia atue verdadeiramente como uma comunidade – não só quando o mar estiver tranquilo – e ofereça assim uma solução conjunta para o problema. A reação de alguns países, contudo, não é favorável à proposta do estadista italiano. A França, por exemplo, fecha suas fronteiras para evitar o fluxo imigratório.

Parece que, por fim, um problema civilizatório que a Europa causou no resto do mundo bate à sua porta com todo vigor. Eis a cobrança da colonização que chega através de botes e barcos precários, irregulares e carregados de pessoas desesperadas para garantir um futuro digno a suas famílias.

Todo esse sonho se cultivou na Europa por um preço muito alto aos demais países. Estou pensando nos colonialismos, nos escravismos, no controle do mercado internacional e noutras políticas que um dia rebentariam entre aqueles que são os maiores responsáveis pelas desigualdades no mundo.

Confio na imparcialidade da justiça das leis da natureza.

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