Há alguns meses diversos incêndios florestais se propagaram pelo interior da Rússia, cobrindo grande parte do país com uma densa camada de fumaça. Em menor escala, nas planícies do Colorado, EUA, as chamas também tiveram um crescimento significativo. No entender dos pesquisadores, esse fenômeno não é natural, mas a ponta do iceberg para incêndios em escala global.
De acordo com Amber Soja, especialista em queima de biomassa junto ao NIA, Instituto Nacional Aeroespacial, dos EUA, além dos efeitos imediatos sobre a saúde, essa queima de florestas é parte da equação do Aquecimento Global. Segundo a pesquisadora, as queimadas no hemisfério norte são um claro sintoma do aquecimento do planeta.
"Estamos vivendo os primeiros sinais das mudanças climáticas e esses incêndios são parte dessas mudanças", disse Soja. Segundo a cientista, o aumento da temperatura será o fator decisivo no disparo de incêndios maiores e mais freqüentes. Esses incêndios que lançam mais partículas e gases na atmosfera, amplificando ainda mais o chamado Efeito Estufa.
Números impressionantes
"Descobrimos que 90% da queima de biomassa é provocada diretamente pelo Homem", disse Joel Levine, cientista-chefe da NASA que liderou um programa de estudo sobre queimadas entre 1985 e 1999.
Levine e seus colegas visitaram diversos incêndios florestais no Canadá, Califórnia, Rússia, África do Sul, México e também em regiões áridas. Segundo o levantamento da época, a queima da biomassa mundial contribui com cerca de 30% do dióxido de carbono na atmosfera, gás que segundo os especialistas é o maior responsável pelo Aquecimento Global.
"As estimativas atuais concordam com esses números", disse Paul F. Crutzen, um dos pioneiros à relacionar a queima da biomassa ao aumento do CO2. Crutzen recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1995, junto com Mario J. Molina e F. Sherwood Rowland, pelo estudo aprofundado da química da atmosfera.
Hemisfério Norte
Não existe consenso entre os cientistas de que a queima da biomassa global está em ascensão, mas definitivamente está aumentando nas latitudes mais ao norte, onde as florestas boreais são compostas basicamente de árvores coníferas.
A razão é que, ao contrário dos trópicos, as latitudes setentrionais estão aquecendo mais rapidamente e experimentando menos precipitação, tornando-as mais suscetíveis ao fogo.
"Estar perto de grandes incêndios é uma experiência única, disse Levine. "A fumaça é tão espessa que parece crepúsculo. Ela bloqueia o sol. Parece até outro planeta. É uma experiência muito estranha."
Rússia
No entender da cientista, os incêndios na Rússia foram causados por um clima muito mais quente que fez o verão bater o recorde histórico. O clima potencializou a incidência de raios, a principal causa da queima natural da biomassa.
"O que está acontecendo com o clima do planeta é um grito de alerta para todos nós, ou seja, todos os chefes de estado, todos os chefes de organizações sociais. Precisamos tomar uma atitude mais enérgica para combater as mudanças globais do clima", disse o presidente da Rússia Dmitri A. Medvedev, invertendo radicalmente a antiga posição do país que afirmava que as alterações climáticas induzidas pelo homem não estavam ocorrendo.
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