Por Alberto Oliveira, especial para o Yahoo! Brasil
Os dois candidatos à Presidência da República, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), participaram na Rede Globo do último debate antes da eleição deste domingo. O modelo e o clima do encontro foram bem diferentes dos debates anteriores entre os presidenciáveis, e contrastou muito com o clima de tensão que marcou a reta final da campanha.
Os candidatos responderam a perguntas de eleitores indecisos, selecionados previamente pela produção do programa. Não houve perguntas de jornalistas ou de um candidato para o outro. O modelo de arena favoreceu a exposição de propostas de governo, mas o debate teve momentos monótonos. Em poucas ocasiões, os candidatos partiram para ataques indiretos, mas tudo muito distante da troca de farpas que marcou os embates anteriores.
Recordando o tom da campanha, Dilma terminou sua participação lamentando "a grande quantidade de calúnias" que foram inventadas contra ela, "pela internet e por telefonemas". Ela afirmou não guardar mágoas e disse que tem "um compromisso com todos os brasileiros de melhorar as condições de vida, principalmente na área da educação."
Já Serra se despediu, assim como nos debates anteriores, lembrando sua trajetória política, dizendo que veio de uma "família humilde" e que conseguiu ser eleito deputado, prefeito e governador.
Início do debate
O primeiro tema abordado foi o dos servidores públicos. José Serra disse defender “a carreira, o concurso, a valorização dos profissionais de cada área. Sem isso, não teremos um bom serviço público. Precisamos de muitos avanços nessa área.” Serra completou: “E precisa de incentivo material também. Isso vale para todas as áreas, educação, saúde, etc. Defendo que os servidores públicos tenham aposentadoria integral.” Dilma Rousseff prometeu ter “um compromisso forte com a educação”. Segundo ela, “todo mundo fala em melhorar a educação, mas esquece quem garante a qualidade é o professor, e ele precisa ser bem remunerado e preparado. O funcionário é um ser humano, e precisa ser valorizado.”
A segunda pergunta foi “O que fazer para garantir boa renda aos jovens do campo”. Dilma citou o programa “Luz Para Todos”, um dos temas que mais destacou durante a campanha, e disse que “é preciso ser dado para o agricultor e o filho do agricultor a mesma formação que o jovem da cidade tem, ou seja, é preciso investir em educação. Assim o filho do agricultor pode voltar, por exemplo, como agrônomo formado.” Serra disse que para ter renda é preciso ter crédito. “Hoje o agricultor tem um grau de endividamento muito alto. É preciso rever essa questão. Com a política de juro alto e real valorizado, o agricultor do Sul perde em competitividade para o agricultor da Argentina ou do Uruguai, por exemplo.” O tucano também reclamou das estradas no Brasil. “Isso encarece o custo do transporte da produção.” Na tréplica, Dilma afirmou que o estoque de crédito no país foi quadruplicado durante o governo Lula. “O aumento de preços é sazonal. O arroz caiu, mas o feijão e a carne aumentaram, é verdade, mas isso é sazonal. A inflação está em 5% ao ano, dentro da meta.”
O terceiro tema foi mais polêmico: corrupção. Serra disse: “O trabalho contra a corrupção começa por fortalecer os órgãos de fiscalização, como o Tribunal de Contas, o Ministério Público (...) e a imprensa, que é quem descobre grande parte das irregularidades que acontece, e também a Legislação, porque o grau de impunidade é grande. Vimos estoques de grande porte e ninguém foi preso.” Dilma disse que, “a partir da profissionalização da Polícia Federal, passamos a ter a punição de pessoas do mais alto escalão. Tem de investigar, doa a quem doer.”
O quarto tema foi segurança pública. Dilma disse ser fundamental “manter e expandir a bolsa de formação do policial”. Ela propõe também a criação de “polícias comunitárias, principalmente em bairros pobres. Seriam locais com a atividade concentrada da polícia.” Serra propõe a criação do Ministério da Segurança. “Enquanto armas e drogas entrarem no país através do contrabando, as ações contra o crime não serão suficientes.”
Segundo bloco
No segundo bloco, a pergunta inicial foi sobre saneamento básico. Dilma começou a resposta falando em investimento contra enchentes. Ela disse que o maior problema é que “sem uma política correta de habitação, as pessoas procuram lugares impróprios para morar, como encostas de morro, por isso pretendo ampliar o programa Minha Casa, Minha Vida.” Ela prometeu ainda “triplicar os investimentos em saneamento básico.” Serra começou respondendo que a falta de saneamento afeta a saúde. “E com as mudanças climáticas, temos visto tragédias como enchentes, e não há estrutura para coibir isso.”
A segunda pergunta foi sobre educação e os baixos salários dos professores. Serra deu exemplos de países como a Coréia do Sul e falou em “pacto que aja por cima de interesses partidários”. Ele disse que, como governador e prefeito, adotou a estratégia de ter dois professores por sala no primeiro ano do ensino básico. Dilma focou sua resposta na necessidade de se pagar bem o professor. “O Brasil só sairá da condição de país emergente para desenvolvido quando tivermos uma boa educação, com professores bem formados e bem pagos.” Na tréplica, Serra fez o primeiro ataque ao PT, lembrando que a eleitora que fizera a pergunta é da Bahia, “um estado governado pelo PT, e onde não foi resolvida a questão da educação.
A terceira pergunta foi sobre legislação trabalhista, e desoneração da folha salarial. Dilma lembrou que o governo gerou 15 milhões de empregos nos últimos anos, mas “é preciso reduzir a carga tributária para gerar ainda mais empregos.” Ela propõe reduzir o tributo das micro e pequenas empresas, “onde se gera a maior quantidade dos empregos do país.” Serra também falou em redução da carga tributária e acrescentou que “há outras formas de ajudar as microempresas, como o programa do Banco do Povo, com crédito a juros de pai para filho.”
Saúde foi o tema da quarta pergunta do segundo bloco. Serra disse que “nossa saúde andou pra trás nos últimos anos, com recuo nos investimentos.” Dilma disse que o sistema “é incompleto ainda, mas já era incompleto antes.” Na tréplica, Serra falou em “turbinar os genéricos.”
Último bloco
No terceiro bloco, o primeiro tópico foi a questão ambiental. Dilma falou nos avanços na questão do desmatamento e afirmou que vai continuar focando nas áreas de preservação das reservas ambientais. Serra falou ser “perfeitamente possível” investir em estrutura, como na ampliação da rodovia Transamazônica, “sem desmatamento.” Ele falou na extração de produtos da Amazônia para exportação.
O tópico seguinte foi política social, com foco no Bolsa Família. Serra falou em fortalecer esse projeto, e dar qualificação profissional a seus beneficiários. Dilma, já um pouco rouca, disse que em São Paulo a política social é tocada pelo governo federal, uma clara estocada em Serra, já que o estado é governado pelo PSDB há 16 anos. Ela citou que 1,4 milhão de famílias se beneficiam do Bolsa Família em São Paulo. “E o Bolsa Família não está sozinho. Ele se articula com o Luz Para Todos e o programa de Agricultura Familiar.”
O próximo tópico foi impostos. O eleitor responsável pela pergunta lembrou que paga impostos, mas se sente obrigado a colocar os filhos em escolas particulares e a pagar um plano de saúde por não confiar nos serviços oferecidos pelo governo. Dilma afirmou que essas áreas têm apresentado melhorias, lembrando, por exemplo, do Pro Uni, programa em que o governo oferece bolsas de estudos em faculdades pagas a alunos de famílias de baixa renda. Serra lembrou que o “Impostômetro” atingiu R$ 1 trilhão esta semana e falou em desoneração de serviços e produtos como os da cesta básica. Na tréplica, Dilma disse que o governo está arrecadando mais porque a economia está mais fortalecida. Falou também na importância de um “serviço público de qualidade”.
A última pergunta foi sobre previdência social. O eleitor falou dos brasileiros que trabalham na informalidade, perguntando o que pode ser feito para que essas pessoas “se aposentem com dignidade.” Serra falou em ter “uma economia forte”. Disse que o Brasil é “um dos países que menos investe no mundo.” Dilma citou o MEI, programa Micro Empreendedor Individual, criado no governo Lula para tirar trabalhadores da informalidade. “Reduzimos impostos para pequenos e microempreendedores, demos crédito a essas pessoas, e hoje temos uma economia forte desde 2003 – não é portanto um vôo de galinha.”