Assim como o Zé do Burro de “O Pagador de Promessas” entrou, carregado sobre uma cruz, morto, na igreja em que fora impedido de entrar vivo pela Igreja, o reitor Luiz Carlos Cancellier entrou nesta terça-feira 3 dentro de um caixão na Universidade Federal de Santa Catarina, onde fora proibido de entrar vivo pela Justiça.
Sob aplausos para ele e protestos contra os que provocaram o seu suicídio.
Cancellier não se suicidou; foi suicidado.
Preso intempestivamente por agentes da Polícia Federal, a 14 de setembro último, antes de sequer ser ouvido a respeito de acusações infundadas que lhe fizeram, passou 30 horas encarcerado numa cela “com os piores bandidos de Santa Catarina”, segundo um amigo, em situação vexatória – “fomos despidos de nossas roupas”, escreveu ele em artigo-desabafo publicado em “O Globo”, dias antes de sua morte.
Esse é o tratamento que o sistema prisional dá a um reitor no Brasil.
Foram “apenas” 30 horas na prisão - para quem está de fora; mas para quem está lá dentro são intermináveis 108.000 segundos nos quais ninguém imagina o que pode acontecer, dado que as condições dos presídios brasileiros são medievais.
Preso algum tem garantia alguma de vida ou de integridade física, nem mesmo quem tem diploma universitário, como Cancellier.
Já em liberdade, foi proibido de voltar à instituição onde era querido, se graduou e fez carreira, sem ter o direito de se defender.
Seu “suicídio” tem tantas aspas quanto o atribuído a Vlado Herzog, em 1975, que foi, na verdade, assassinado nos porões da ditadura militar.
Esse crime não pode ficar impune.
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