
Mesmo com a saída de Geddel Vieira Lima do governo, o PT e outros partidos de
oposição vão apresentar o pedido de impeachment do presidente Michel Temer.
“Estamos discutindo o encaminhamento, se o pedido será apresentado por partido
político ou por personalidades da sociedade civil. Mas isso não tem volta, Temer
cometeu crime de responsabilidade. O que ele fez está claramente caracterizado
como tal pelo artigo 85 da Constituição Federal”, informa o deputado Paulo
Pimenta (PT-RS).
Base jurídica realmente há, não é preciso ser jurista para entender isso,
restando saber se existem as chamadas “condições políticas”, ou seja, uma
maioria parlamentar disposta a retorcer o texto constitucional e a Lei 1.079/50
para afastar o presidente, como fizeram com Dilma. Ainda que o pedido não
prospere na Câmara, que Rodrigo Maia o rejeite, o custo político para enterrá-lo
seria altíssimo, e o custo econômico também, como já se vê pela disparada do
dólar nesta manhã de sexta-feira. E ainda tem Janot, que agora terá de decidir
se abre processo apenas contra Geddel ou se inclui Temer e Padilha. Para que o
pais sangrasse menos, a melhor saída seria a renúncia de Temer.
A base jurídica para o enquadramento de Temer em crime de responsabilidade
emerge cristalina de dois dispositivos. O artigo 85 da Constituição, ao definir
os crimes de responsabilidade do presidente da República, enumera os seguintes
atos atentórios contra:
I - A existência da União.
II – O livre exercício dos poderes Legislativo, Judiciário, do Ministério
Público e dos poderes constitucionais das unidades da federação.
II – O exercício dos direitos políticos, individuais e sociais.
IV – A segurança interna do país.
V – A probidade na administração.
VI – A lei orçamentária.
VII – O cumprimento das leis e das decisões judiciais..
O pedido da oposição dirá que Temer feriu o inciso V, o da probidade. Dilma
foi enquadrada no VI. O artigo 85 refere-se ao detalhamento dos crimes por uma
lei complementar, que no caso, é a Lei 1.070/50, a lei do impeachment. Ela
define, no artigo nono, as práticas do presidente que representam crimes contra
a probidade na administração. Entre elas, cabe perfeitamente a Temer, no caso
Geddel, o que é descrito no inciso 3, que diz: “não tornar efetiva a
responsabilidade dos seus subordinados, quando manifesta em delitos funcionais
ou na prática de atos contrários à Constituição”.
Foi isso que fez Temer em relação a Geddel. Ao invés de tomar medidas contra
seu delito funcional, representado pelas pressões que fez contra o ministro da
Cultura em defesa de interesses pessoais, Temer também tentou enquadrar Calero e
envolver a AGU na busca de uma “solução legal”. Ele e Padilha. Teria sido
apenas prevaricação se ele tivesse apenas se omitido, tendo ciência do que se
passava. Mas não. Temer foi além, atuou em favor de Geddel. A íntegra do
depoimento de Calero à Polícia Federal, já em mãos de Janot, mostra que durante
todo o mês de novembro a trinca palaciana ocupou-se intensamente de tentar obter
de Calero seu recuo na questão do imóvel embargado em Salvador.
Alguém dirá que foi um delito brando para justificar o impeachment. Mas Dilma
sofreu impeachment por conta de pedaladas que outros governos praticaram. A
maioria que se formou para derrubar seu governo encomendou um pedido de
impeachment, Eduardo Cunha o acolheu e o Senado manteve o enquadramento no
inciso VI do artigo 85. Torceram a lei para dar um golpe. A oposição agora
tentará ministrar o mesmo veneno a Temer.
Para que tal pedido de impeachment prosperasse, seria necessário que alguns
partidos chegassem à conclusão de que será melhor interromper este governo e
buscar outra saída para o país, num reconhecimento de que o golpe foi um erro e
fracassou.
Há quem suspeite que Calero não agiu sozinho, que tenha tido suporte político
de alguma força partidária. Ele é filiado ao PMDB mas isso não quer dizer nada.
Há quem suspeite de que ele tenha sido estimulado a gravar Temer e Geddel e a
prestar depoimento à PF entregando a trinca. Há quem suspeite que o PSDB, neste
momento imerso em silêncio, tenha desistido de Temer.
A crise moral combinada com a delação da Odebrecht que vem aí podem
representar o início do fim do pesadelo. Mas antes do fim, haverá muita
turbulência. Ai do Brasil.
http://www.brasil247.com/pt/blog/terezacruvinel/267255/Oposi%C3%A7%C3%A3o-pede-impeachment-de-Temer.htm
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