
No comunicado sobre a denúncia do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero,
surge cristalino o artifício usado por Michel Temer – encampado pelo ministro
Eliseu Padilha e pelo subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil Gustavo Rocha
[indicado para o cargo por Eduardo Cunha] – para patrocinar os interesses
imobiliários do agora ex-ministro Geddel Vieira Lima.
No item 3 do comunicado, consta que "o presidente buscou arbitrar conflitos
entre os ministros e órgãos da Cultura sugerindo a avaliação jurídica da
Advocacia Geral da União, que tem competência legal para solucionar eventuais
dúvidas entre órgãos da administração pública, já que havia divergências entre o
Iphan estadual e o Iphan federal".
Está claro que o conflito era entre o interesse imobiliário privadíssimo do
Geddel e a postura técnica e ética do ex-ministro Calero, que validou o
procedimento administrativo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional [IPHAN].
Não era, portanto, um conflito político-administrativo que justificasse a
arbitragem e, menos ainda, a interferência do presidente usurpador para
favorecer Geddel.
Temer sugeriu "a avaliação jurídica da AGU" para salvar o interesse
imobiliário do Geddel que havia sido contrariado na esfera técnica do IPHAN, e
assim poder transferi-lo para a AGU, "porque a ministra Grace Mendonça teria uma
solução".
Para tanto, Marcelo Calero teria de contrariar a decisão técnica do IPHAN e
determinar a remessa do processo à AGU, sob o pretexto bizarro de "divergências
entre o Iphan estadual e o Iphan federal". Calero, contudo, optou pela renúncia
ao cargo de ministro.
Com as explicações dadas no comunicado, Michel Temer acabou confessando pelo
menos dois crimes tipificados no Título XI [Dos Crimes Contra a Administração
Pública] do Código Penal brasileiro:
- "Artigo 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado
perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário"
[advocacia administrativa]; e
- "Artigo 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem,
vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por
funcionário público no exercício da função" [tráfico de influência, redação dada
pela Lei 9127/1995].
As penas para tais crimes são, respectivamente, de detenção de três meses a
um ano e multa; e de reclusão de dois a cinco anos e multa. No tráfico de
influência, a pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a
vantagem é também destinada ao funcionário –segundo Calero, Geddel foi
"contundente": "não gostaria de ser surpreendido com qualquer decisão que
pudesse contrariar seus interesses".
O governo golpista Michel Temer chegou ao fim da linha; está inviabilizado e
desmoralizado. Em média, um ministro cai por mês por corrupção, e quase todos os
remanescentes são citados e implicados em denúncias de corrupção, porém
protegidos pela seletividade da Lava Jato, do MP e do Judiciário.
O governo golpista está causando a maior recessão da história do Brasil, com
desemprego atingindo 25% da população economicamente ativa jovem. O terrorismo
econômico e político criado no país por Cunha, Aécio, Temer, Padilha, FHC,
Serra, PMDB, PSDB, DEM, PTB, PP, PSB, PSD etc para ambientar o golpe de Estado,
fugiu ao controle e adquiriu uma gravidade muito superior à capacidade de
reversão por este governo ilegítimo e impopular. A atividade econômica está
paralisada, o PIB decresce e a dívida pública aumenta.
O único caminho para Temer é o da renúncia, abrindo espaço para a realização
de eleições diretas já. A parceria nos negócios do Geddel faz dele um personagem
ainda menor que a caricatura que já era. Ele não reúne condições políticas,
éticas e legais para continuar ocupando o cargo usurpado da Presidente Dilma com
o impeachment fraudulento. O Brasil não terá a confiança e o respeito do mundo
com ele no comando.
A oligarquia golpista dá sinais de que pretende arrastar o cadáver do governo
até 2017, para então remover Temer do cargo e eleger um sucessor indiretamente
pelo Congresso, onde tem maioria, mesmo que esta irresponsabilidade leve o
Brasil ao abismo.
Os crimes cometidos por Temer são mais que suficientes para a abertura de um
processo de impeachment – este sim, ao contrário da farsa contra Dilma, com
sólido fundamento jurídico. A situação dramática do país, entretanto, exige uma
solução urgente. É fundamental realizar-se eleição presidencial imediatamente,
para que o povo escolha um governo com legitimidade e apoio social para
recuperar o Brasil.
O país não agüenta esperar o encerramento de um processo demorado de
impeachment. A incerteza política agravará sobremaneira a crise atual. A única
contribuição positiva que Temer poderia dar neste momento grave seria a
renúncia, para a convocação de eleições diretas já!
http://www.brasil247.com/pt/colunistas/jefersonmiola/267272/Diretas-j%C3%A1!-Fim-de-linha-para-Temer.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário