Por Miguel do Rosário
Navegando pelo novo site do Wikileaks, descobrimos algumas coisas interessantes.
Descubro, por exemplo, através de um bilhete diplomático vazado pela organização, que em setembro de 2006, houve uma reunião entre empresários brasileiros, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Clifford Sobel, e Demian Fiocca, então presidente do BNDES.
Em discussão, o aprimoramento das relações comerciais entre Brasil e EUA, através de acordos mais amigáveis sobre tarifas e regras de importação.
A compra, pela Petrobrás, da refinaria de Pasadena entrou como um dos principais exemplos usados pelos participantes, para a melhora das relações.
Outro exemplo era a construção do novo aeroporto de Miami, realizada pela Odebrecht.
Com isso, a gente entende algumas coisas importantes que estão acontecendo.
A reação do governo e da direção da Petrobrás, quando eclodiu na mídia o escândalo da refinaria de Pasadena, foi incrivelmente tosca. Ninguém se lembrou de falar o óbvio: que a compra da refinaria vinha sendo usada, em reuniões de cúpula, para abrir negociações favoráveis aos interesses estratégicos do Brasil junto ao mercado americano.
Graça Foster se
limitou a fazer análises puramente comerciais, e ainda assim erradas, sem considerar o valor geopolítico e estratégico, para o Brasil, de possuir uma refinaria no coração do principal corredor petrolífero da nação mais rica do planeta.
A própria Dilma trouxe a crise para dentro do governo, ao reagir sem pensar às manchetes da mídia.
A campanha para destruir as empreiteiras brasileiras, conforme identificamos na maneira como se tem conduzido a operação Lava Jato, tem como pano de fundo a expansão das mesmas inclusive no mercado americano.
As empreiteiras norte-americanas e os políticos que estas empreiteiras financiam não devem ter ficado nada contentes ao ver uma empreiteira brasileira construindo o aeroporto de Miami.
Devemos, portanto, fazer a pergunta: a quem interessa quebrar construtoras brasileiras que vem se expandindo mundo afora?
*
Um outro documento, do serviço secreto americano, vazado pelo Wikileaks traz notícias das estratégias de Brasil e China no mercado de petróleo, que também servem para entendermos a compra da refinaria de Pasadena e desmascarar as mentiras da mídia brasileira sobre o tema.
(Detalhe: o documento em questão são emails trocados entre analistas da Strafort, a firma “terceirizada” que prestava serviços à CIA. Vale lembrar que, recentemente, o blog Tijolaço descobriu que o líder do movimento #vemprarua, que organiza marchas contra o governo, é ligado a esta empresa).
O documento fala do interesse de petroleiras chinesas em adquirir, de uma empresa chamada Valero, uma refinaria na ilha de Aruba, Venezuela.
A capacidade de produção desta refinaria era de 275 mil barris/dia.
Repare bem no preço: perto de 2 bilhões de dólares, sem estoques, sem contar os impostos, sem custo judicial, nada. A refinaria ainda tinha um problema grave: não podia refinar gasolina para o mercado americano antes de inúmeras reformas, ao custo de outros bilhões de dólares, em suas instalações.
Pasadena custou, incluindo todos os custos judiciais, impostos, garantias bancárias, seguro, estoques remanescentes, tudo, 1 bilhão de dólares. Se tirássemos os custos judiciais, não dava nem metade disso.
E não precisava de nenhuma reforma de bilhões de dólares para poder fornecer gasolina ao mercado americano. A capacidade de produção da refinaria de Pasadena é de 100 a 120 mil barris/ dia.
Esse tipo de informação, porém, não foi dado pela imprensa brasileira, interessada apenas em fomentar uma crise, que conseguiu de fato produzir.
A imprensa preferiu destacar uma mentira: que a dona anterior de Pasadena havia pago apenas US$ 42 milhões.
Repetiu essa mentira durante semanas a fio, em todos os seus tentáculos, até transformá-la numa verdade, tentando convencer a opinião pública que a Petrobrás tinha pago um preço absurdo por uma refinaria nos EUA.
(Leia também esse post do Diário do Centro do Mundo: A contínua manipulação dos números de Pasadena).
Dilma e Graça Foster, por sua vez, afundaram-se na sua colossal incompetência em matéria de comunicação, ou seja, caíram na pilha de uma imprensa completamente desinteressada na verdade factual. Não souberam responder de maneira sistemática e definitiva a campanha de mentiras.
Vendeu-se à opinião pública a informação, completamente equivocada, de que a Petrobrás gastou US$ 1 bilhão à tôa, numa refinaria chamada na imprensa de “sucata velha”, quando se tratava de uma refinaria moderna, com alta produtividade, conectada aos grandes oleodutos que abastecem todas as regiões geográficas do país que mais consome gasolina no mundo.
Sem contar que, conforme explico na primeira parte do post, não precisavam sequer se limitar à questão dos valores, mas poderiam abordar também o lado estratégico, de possuir uma refinaria nos EUA, e incrementar as relações entre Brasil e o Tio Sam.
Fonte: http://www.ocafezinho.com/2015/04/04/wikileaks-desmascara-mentiras-sobre-pasadena/
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