A “química” que Trump citou na ONU não foi espontânea: foi a forte pressão do Senado
Antes de ir à Malásia citar “química” com Lula na Assembleia da ONU, Trump previu a própria derrota no Senado em votação de lei feita exclusivamente para baixar as tarifas impostas por ele ao Brasil
Em julho de 2025, Donald Trump impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros — café, carne bovina, açaí, frutas tropicais — como forma de pressionar o governo Lula e o STF por causa da condenação de Jair Bolsonaro.
A medida saiu pela culatra. O café brasileiro representa 33% do consumo americano e os preços subiram rapidamente nos supermercados. Fazendeiros, redes de restaurantes e importadores começaram a pressionar o Congresso.
Trump já antevia o problema. No dia 23 de setembro, na Assembleia Geral da ONU, após um breve encontro nos bastidores com Lula, declarou publicamente que os dois tiveram “química excelente por 30 segundos”. Era o primeiro sinal de que ele buscava uma saída diplomática antes que o Congresso agisse.
O golpe veio em 28 de outubro. O Senado aprovou, por 52 a 48, resolução que revogava a “emergência nacional” criada por Trump para justificar as tarifas. Cinco republicanos — Susan Collins, Mitch McConnell, Lisa Murkowski, Rand Paul e Thom Tillis — votaram com todos os democratas.
A resolução foi imediatamente engavetada na Câmara dos Representantes, dominada pelos republicanos leais a Trump, que mudaram as regras internas para impedir qualquer votação sobre tarifas até março de 2026.
Legalmente, nada mudou naquele momento. Mas o recado político foi devastador. Cinco pesos-pesados do próprio partido de Trump chamaram as tarifas de “infantis”, “abusivas” e “danosas aos consumidores americanos”.
Foi a primeira grande rebelião interna do segundo mandato. Dois dias antes do voto, em 26 de outubro, Trump já estava em Kuala Lumpur e se reuniu com Lula. Saiu da reunião elogiando o brasileiro e prometendo “acordo rápido”.
Em 14 de novembro, veio a capitulação: ordem executiva baixando as tarifas de 50% para níveis entre 10% e 20% nos produtos mais sensíveis — café, carne bovina, açaí, sucos e frutas tropicais. Aço e aviões continuaram com taxas altas, mas o grosso do impacto foi aliviado.
Sobraram tarifas de até 40% em vários produtos, mas que caíram ontem para os mais sensíveis, como os já citados acima.
O Senado não derrubou as tarifas por lei — a Câmara impediu isso —, mas o alerta foi tão forte, especialmente com a traição de cinco republicanos importantes, que Trump preferiu recuar antes que a revolta crescesse.
O que começou como ameaça virou negociação forçada. A “química” que Trump citou na ONU não foi espontânea: foi a forte pressão do Senado estadunidense que empurrou à mesa de negociação.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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Fonte: https://www.brasil247.com/blog/senado-dos-eua-obrigou-trump-a-retirar-tarifas




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