Na retomada da parceria estratégica Brasil-Alemanha, o presidente Lula e o chanceler alemão, Olaf Scholz, assinaram, nesta segunda-feira (4), em Berlim, uma declaração conjunta de intenções. Por meio do ato, serão realizados projetos que busquem, entre outras medidas, uma transformação ecológica socialmente justa, com iniciativas que gerem emprego e renda no Brasil e ampliem janelas de cooperação entre empresários dos dois países.
A declaração conjunta foi assinada após os dois líderes participarem, junto com os respectivos ministros, da segunda Reunião de Consultas Intergovernamentais de Alto Nível, o mais elevado mecanismo teuto-brasileiro. A única vez em que essa reunião aconteceu foi em 2015.
Ao todo, foram assinados 19 acordos em áreas como meio ambiente, mudança do clima, desenvolvimento global, agricultura, bioeconomia, energia, saúde, ciência, tecnologia e inovação.
Em declaração à imprensa, ao lado de Scholz, Lula afirmou que os dois países estão trabalhando para recuperar o dinamismo da parceria. “A reunião de hoje trouxe excelentes resultados e traça um caminho para a nossa cooperação daqui em diante”, disse Lula.
“Adotamos a Parceria para uma Transformação Ecológica e Socialmente Justa. Vamos reforçar a robusta cooperação na área ambiental, que inclui o Fundo Amazônia e muitos outros projetos. Queremos atuar juntos na promoção da industrialização verde, a agricultura de baixo carbono e a bioeconomia”, prosseguiu o presidente.
Lula relatou ter conversado com Scholz sobre as medidas que o governo brasileiro tem tomado para cumprir a meta de zerar o desmatamento até 2030 e combater os ilícitos ambientais. “Este ano, reduzimos o desmatamento na Amazônia em quase 50%”, disse o presidente.
Segundo ele, outro tema tratado com o líder alemão foram as ameaças à democracia e ao Estado de Direito. Nesse contexto, um dos acordos bilaterais firmados foi a Declaração de Intenções Conjunta sobre Integridade da Informação e Combate à Desinformação .
Esse acordo prevê ações de cooperação nas áreas de promoção da integridade da informação, combate à desinformação e defesa das instituições democráticas, além de regulação de serviços digitais e educação midiática. “Concordamos em atuar juntos no enfrentamento de forças antidemocráticas que atuam de forma coordenada internacionalmente e fomentam o extremismo”, afirmou Lula.
Cooperação técnica
Ainda durante a declaração à imprensa, o presidente Lula ressaltou que a Alemanha é o mais tradicional parceiro do Brasil em matéria de cooperação técnica e financeira. Anunciou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o banco de fomento alemão KfW vão estreitar ainda mais a parceria, que já dura 60 anos.
O presidente também lembrou que a Alemanha é o primeiro país do G20 que ele visita depois que o Brasil assumiu, em 1º de dezembro, a presidência rotativa do grupo, que reúne 19 das maiores economias do mundo mais a União Europeia e a União Africana.
“Reafirmei as prioridades da presidência brasileira em combater as desigualdades, a pobreza, a fome, a mudança do clima e discutir a reforma das estruturas da governança global”, disse.
Lula voltou a defender novos integrantes no Conselho de Segurança da ONU e disse que o organismo criado no pós-guerra, em 1945, precisa refletir a realidade geopolítica atual e fazer valer as decisões tomadas em grupo, sobretudo as ambientais. O chanceler alemão manifestou concordância com a posição brasileira.
Acordo Mercosul-UE
Lula contou ter conversado com o chanceler alemão sobre os esforços do Brasil para concluir o Acordo MERCOSUL-União Europeia.
“São quase 23 anos de esforços inconclusivos. Na próxima quinta-feira, na Cúpula do Mercosul, teremos um momento decisivo nessa negociação. Reiterei ao chanceler a expectativa de que a União Europeia decida se tem ou não interesse na conclusão de um acordo equilibrado. Num contexto de fragmentação geopolítica, a aproximação entre nossas regiões é central para a construção de um mundo multipolar e o fortalecimento do multilateralismo”, disse o presidente.
Lula assegurou que continuará trabalhando para que o acordo entre os blocos aconteça. “Sou um homem muito crente. Sou um homem que não desiste”, afirmou. “Não vou desistir enquanto não conversar com todos os presidentes e ouvir um não de todos”.
Ao seu lado, Scholz manifestou o apoio da Alemanha ao acordo. “O Brasil e a Alemanha apoiam a celebração do Acordo União Europeia-Mercosul. Vamos envidar esforços adicionais para que esse acordo possa ser concluído”, afirmou o chanceler.
Empregos no Brasil
A respeito da parceria estratégica com o Brasil, Scholz destacou que, desde 2008, os dois países têm colhido benefícios e que ambos trabalham em prol da sustentabilidade, da proteção da natureza e da descarbonização da economia. O chanceler também agradeceu a Lula por ter resgatado a proteção das florestas como pauta prioritária. “Queremos lhe agradecer do fundo do coração por isso”, afirmou.
Scholz, porém, observou que a parceria entre os dois países só terá sucesso se for socialmente justa. Nesse sentido, afirmou que a Alemanha trabalhará para que, através desses acordos bilaterais, sejam criados empregos no Brasil.
“Nós associamos o potencial do Brasil ao interesse da Alemanha no hidrogênio verde, o que seria profícuo para ambas as partes. Nós também queremos criar empregos in loco, ou seja, criar empregos no Brasil através da transformação de matérias-primas no Brasil. Senhoras e senhores, o Brasil é o nosso principal parceiro comercial na América Latina. Temos mais de 1.100 empresas [brasileiras] na Alemanha”, declarou o chanceler.
Retomada
A visita de Lula a Berlim é mais um passo no esforço de reinserção do Brasil no mundo, após quatro anos de um isolamento provocado pela desastrada política externa do governo passado, que levou o país à condição de pária internacional.
A agenda de Lula em Berlim começou com uma reunião, nesta segunda-feira (4), com o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier. Investimentos em infraestrutura via Novo PAC, avanços no processo de melhoria do cenário econômico brasileiro, reafirmação da prioridade à proteção ambiental e uma perspectiva de almejar protagonismo na transição energética foram alguns assuntos discutidos.
Na sequência, Lula teve um encontro com a presidenta do Senado, Bundesrat, e Governadora de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Manuela Schwesig. O presidente teve ainda uma reunião com parlamentares da coalizão governista.
Outro compromisso foi um encontro com o chanceler Olaf Scholz e altos representantes de empresas alemãs e brasileiras. Além disso, Lula participou da sessão de encerramento do seminário empresarial Brasil-Alemanha.
Da Redação
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