Por Letícia Bartholo, secretária adjunta nacional de Renda de Cidadania do MDS, pesquisadora do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (International Policy Centre for Inclusive Growth, IPC-IG) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em seu Facebook:
SOBRE MENTIRAS QUE ECOAM CONTRA TODOS NÓS
ou, sobre como o Estado de São Paulo deseja ruir o Bolsa Família
Mente o editorial do Estado de São Paulo de hoje. Mente, como sói acontecer na imprensa brasileira. E mente contra os pobres. Resumidamente, o editorial acusa o lulopetismo de ter feito sempre descaso em relação ao controle do Bolsa Família, sob a preocupação única de comprar e manter os 40 milhões de votos de pessoas atendidas pelo Programa. Ressalta, então, a importância da atitude correta da gestão atual ao cruzar o cadastro do Bolsa Família com outros cadastros e ter encontrado o que chamam de 1 milhão de fraudes no Programa. Por fim, acusa a incapacidade do Bolsa Família de realmente criar oportunidades de autonomia para as famílias pobres.
Contra mentiras, nos restam somente as provas, e que as solicite pela Lei de Acesso à Informação qualquer cidadão interessado na verdade.
Fato 1: os cruzamentos de cadastros com o cadastro do Bolsa Família (Cadastro Único para Programas Sociais) são realizados desde 2005, anualmente, sempre com aprimoramentos e inovações. O que ocorre este ano não é senão mais uma rodada de aperfeiçoamento, feita por burocratas extremamente competentes e preocupados em manter a qualidade de um programa social que é só dos mais bem avaliados mundialmente;
Fato 2: Não foi fato incomum, durante todos esses anos, milhões de cadastros irem para a chamada malha fina do Bolsa Família. Aliás, essa foi a rotina. Ocorre que, a priori, não são fraudes. São indícios de irregularidade, que devem ser apurados. E não são fraudes, porque qualquer toupeira que trabalhe com pobreza sabe que o grupo de pobres brasileiro se caracteriza, majoritariamente, pela instabilidade de renda. São pobres frequentes, não crônicos. Ou seja: o cara foi pego com um emprego cuja renda não lhe permitiria estar mais no Bolsa Família. Na hora em que você averigua, o cara já perdeu o emprego e está pobre. A mediana de participação dos mais pobres no mercado formal de trabalho é de apenas 8 meses. Sacou a mentira?
Fato 3: o Bolsa Família não auxilia a independência dos mais pobres, diz o editorial. Pois bem, fora o fato de estudos econométricos recentes e robustos identificarem que o Bolsa Família auxilia a manutenção dos mais pobres no mercado de trabalho formal, devemos lembrar uma coisa simples – novamente, simples para qualquer toupeira: criança que não se alimenta bem, tem sua capacidade cognitiva reduzida, aprende mal e segue na trajetória histórica de pobreza. Crianças precisam comer pra aprender, caro Estado de São Paulo.
Fato 4: a criminalização dos pobres, feita pela gestão atual e reverberada pela imprensa, não é um crime contra o Bolsa Família, tampouco contra o Partido dos Trabalhadores. É um crime contra um grupo de burocratas extremamente sérios, que têm carregado o Bolsa Família nas costas em todos estes anos. É um crime contra qualquer projeto de nação que soe mais igualitário. É um crime contra mim, contra você e contra os nossos filhos. É um crime contra quem batalha, dia-a-dia, pela sobrevivência. É um crime contra o Brasil.
http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/265637/Gestora-do-MDS-desabafa-contra-ataques-ao-Bolsa-Fam%C3%ADlia.htm
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