Condenado sem provas para não disputar a eleição presidencial de 2018, Lula afirma que os dois jornais da mídia corporativa fizeram um apelo "quase desesperado" aos ministros do Supremo para que não façam justiça e não restabeleçam a verdade em relação à sua sentença. "Por que tanto medo?", questiona
28 de agosto de 2020, 15:11 h Atualizado em 28 de agosto de 2020, 17:15 Ex-presidente Lula (Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247)
247 - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou os jornais O Globo e O Estado de S.Paulo, que defenderam recentemente em editoriais a continuidade da suspensão dos direitos políticos dele. De acordo com o ex-presidente, os dois veículos da mídia corporativa fazem um "apelo quase desesperado aos ministros do Supremo para que não façam justiça, não cumpram com seu dever".
"O que ressalta dos editoriais do Globo e do Estadão é o medo de que a verdade seja reconhecida e de que a justiça seja feita, por fim, a um cidadão que exerceu com dignidade o mais alto cargo da República e que pagou com a prisão ilegal, por 580 dias, por contrariar os interesses dos que não queriam ver o povo brasileiro elegê-lo outra vez", afirmou Lula por meio de sua assessoria de imprensa.
"O julgamento do habeas corpus da suspeição terá, sim, profundas consequências para o país. Será a oportunidade de restaurar a credibilidade do Judiciário brasileiro e da crença na verdade, na justiça e nas instituições. Por que tanto medo?", questionou.
O ex-presidente foi condenado no processo do triplex em Guarujá (SP), após ser acusado de ter recebido o imóvel como propina da OAS, sem nunca ter dormido nem tido a chave do apartamento.
Por meio da nota, Lula destacou que, em 1º. de novembro de 2018, a defesa dele levou ao Supremo Tribunal Federal um habeas corpus pedindo a anulação da sentença do tríplex e de todos os casos em que o então juiz Sergio Moro atuou contra ele.
"O pedido tem base em fatos notórios como os grampos ilegais, inclusive dos advogados de Lula, o abuso da condução coercitiva, a sentença que ignorou 73 testemunhos contrários à denúncia, e condenou por 'atos indeterminados', a deliberada manipulação da opinião pública por meio da mídia, tudo caracterizando a motivação política e eleitoral de Moro para perseguir Lula".
Segundo o ex-presidente, "a atitude dos dois jornais revela, em primeiro lugar, a cumplicidade que continuam mantendo com a atuação político-partidária de setores do Ministério Público e do Judiciário ao longo dos processos contra Lula". "É o chamado lawfare, que utiliza as instituições da justiça e da democracia contra a justiça e a democracia. Mesmo diante da evolução dos fatos, que levará inexoravelmente à consagração da verdade, tornaram-se prisioneiros das mentiras que construíram junto com Moro, a força-tarefa e outros agentes do estado que atuaram no processo".
"Por isso insistem, como faz O Globo, na falácia de que haveria 'um sólido conjunto de provas contra o ex-presidente'. Que provas são estas que não surgem nem na denúncia nem na sentença? Se foi a defesa de Lula que demonstrou que o tríplex nunca foi dele? Se o imóvel foi até dado em garantia para um empréstimo ao real proprietário? Se o próprio Moro admitiu que não havia ligação entre o tal tríplex e recursos desviados da Petrobrás? Se invadiram as casas de Lula e seus familiares, vasculharam suas contas bancárias e fiscais e não encontraram sequer um centavo ilegal?", perguntou.
O ex-presidente ressaltou que não foi a sua defesa "que provocou as recentes decisões de cortes superiores reformando decisões da Lava Jato contra outros réus e anulando sentença de Moro em outro processo".
"Foram os abusos e ilegalidades da própria operação e a parcialidade comprovada do ex-juiz. Não foi e nem será a defesa de Lula que vai determinar a ocasião do julgamento do habeas corpus nem a composição da turma que irá fazê-lo. O caso foi apresentado, repita-se, há quase dois anos. Isso compete à Corte, malgrado as pressões indevidas sob argumentos falaciosos dos jornais".
Processo e a eleição
Em 2018, o então juiz Sérgio Moro emitiu a ordem de prisão de Lula sem o esgotamento de todos os recursos judiciais.
Naquele mesmo ano, Moro recebeu ainda durante a campanha eleitoral o convite da equipe de Jair Bolsonaro para ser ministro da Justiça. Depois liberou a delação premiada de Antonio Palocci a uma semana do primeiro turno para diminuir a votação do então presidenciável Fernando Haddad (PT).
Uma reportagem publicada pelo Intercept Brasil, em junho do ano passado, apontou que o procurador Deltan Dallagnol duvidava da existência de provas contra Lula.
"No dia 9 de setembro de 2016, precisamente às 21h36 daquela sexta-feira, Deltan Dallagnol enviou uma mensagem a um grupo batizado de Incendiários ROJ, formado pelos procuradores que trabalhavam no caso. Ele digitou: 'Falarão que estamos acusando com base em notícia de jornal e indícios frágeis… então é um item que é bom que esteja bem amarrado. Fora esse item, até agora tenho receio da ligação entre petrobras e o enriquecimento, e depois que me falaram to com receio da história do apto… São pontos em que temos que ter as respostas ajustadas e na ponta da língua'", diz o site.
Em setembro de 2016, quando a denúncia foi apresentada, o procurador Henrique Pozzobon afirmou que não havia "provas cabais" de que o ex-presidente era o proprietário do apartamento.
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