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segunda-feira, 14 de julho de 2025

Opera Mundi: Faixa de Gaza: mais de 30 países se reúnem em Bogotá para debater medidas contra Israel

 Iniciativa pretende aplicar políticas concretas, tanto no plano jurídico quanto diplomático, para tentar pôr fim ao genocídio no enclave

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Enquanto as negociações indiretas por um cessar-fogo entre Israel e o Hamas seguem estagnadas, e as diplomacias ocidentais permanecem tímidas diante das violações do direito internacional e humanitário, o Grupo de Haia busca ir além das declarações e partir para a ação. A iniciativa pretende reunir países dispostos a aplicar políticas concretas e coordenadas, tanto no plano jurídico quanto diplomático, para tentar pôr fim a um conflito que já deixou mais de 58 mil mortos na Faixa de Gaza — a maioria mulheres e crianças.

“Várias nações consideraram que seria uma boa ideia reunir um grupo de Estados, não para criar um novo direito internacional — que já existe —, nem para fazer apelos ou condenações, mas sim para aplicar medidas concretas por parte dos próprios Estados. Ou seja, políticas reais, de forma coletiva e coordenada, para pôr fim ao massacre, para pôr fim ao genocídio”, declarou Guillaume Long, conselheiro diplomático do grupo. “Quando os Estados se unem e levantam suas vozes em torno de questões específicas, eles têm mais peso e influência do que quando agem isoladamente”, completou.

A devastação em Gaza evidencia o fracasso dos mecanismos internacionais em proteger civis. Até agora, as ações têm sido isoladas: a África do Sul acionou a Corte Internacional de Justiça (CIJ) por violação da Convenção sobre o Genocídio, sendo posteriormente apoiada por outros países; Namíbia e Malásia bloquearam navios com armas destinadas a Israel; e a Colômbia rompeu relações diplomáticas com Tel Aviv em maio de 2024.

“Não podemos aceitar o retorno de épocas de genocídio diante dos nossos olhos e da nossa passividade. Se a Palestina morre, a humanidade morre”, declarou o presidente colombiano Gustavo Petro. A Colômbia, assim como o Brasil, apoia o processo histórico movido por Pretória contra Israel na CIJ.

O Grupo de Haia, fundado na cidade holandesa em janeiro deste ano por África do Sul, Malásia, Colômbia, Bolívia, Cuba, Honduras, Namíbia e Senegal, inspira-se na luta internacional contra o apartheid sul-africano. Os países fundadores seguem firmes em sua proposta de defesa do multilateralismo e do direito internacional. Em declaração conjunta, os membros afirmam estar guiados pelos princípios da Carta das Nações Unidas e comprometidos com a defesa do direito à autodeterminação do povo palestino.

protesto pró-palestina

Negociações indiretas por um cessar-fogo entre Israel e Hamas seguem estagnadas
Roberto Parizotti

Mas a conferência de Bogotá pretende marcar um momento histórico além do chamado Sul Global. Embora nenhum país árabe ou europeu integre formalmente o Grupo de Haia, representantes de Irlanda, Eslovênia, Noruega, Espanha, Portugal, Líbano, Omã, Iraque e Catar confirmaram presença, ao lado de países como Brasil, Argélia, Chile e Botsuana. A França foi convidada, mas ainda não respondeu. A conferência também contará com representantes da ONU, como Philippe Lazzarini, chefe da UNRWA, e a relatora especial para a Palestina, Francesca Albanese, que recentemente foi alvo de sanções anunciadas pelos Estados Unidos.

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Entre as medidas discutidas estão: impedir o fornecimento e o trânsito de armas para Israel, bloquear navios com munições, apoiar os mandados de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant, além de implementar a resolução da ONU de 18 de setembro de 2024, que exige o fim da ocupação israelense e o desmantelamento dos assentamentos até setembro de 2025.

“Estamos tentando recriar em Bogotá o espírito do Grupo de Haia, mas com uma diferença importante: não se trata de uma reunião do grupo em si”, explicou Guillaume Long. “É uma convocação feita por Colômbia e África do Sul, como co-presidentes, para reunir um grande número de países em torno de medidas urgentes e concretas. Não se trata de apelos ou novas normas, mas de aplicar o direito internacional já existente”, insistiu.

Enquanto 2,3 milhões de palestinos sobrevivem há mais de 600 dias em Gaza sob fome e destruição, as diferentes tentativas de diálogo seguem estagnadas. A Conferência Internacional para a Paz na Palestina, proposta pela ONU e co-presidida por França e Arábia Saudita, segue adiada e sem nova data prevista. Em Bogotá, líderes de dezenas de países tentam transformar a indignação em ação — e salvar o que resta da credibilidade do direito internacional.

Fonte:  https://operamundi.uol.com.br/guerra-israel-x-palestina/paises-se-reunem-em-bogota-para-debater-medidas-contra-israel/

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