Agora as três partes têm mais incentivo do que nunca para se coordenar no atual clima geopolítico, já que alguns países importantes estão buscando confronto e protecionismo, o que torna a lista de interesses divergentes ainda maior.
Por Julia Roknifard
Um mecanismo notável de cooperação multilateral está emergindo com a realização da cúpula inaugural conjunta da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), da China e do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG).
Agora as três partes têm mais incentivo do que nunca para se coordenar no atual clima geopolítico, já que alguns países importantes estão buscando o confronto e o protecionismo, o que torna a lista de interesses divergentes cada vez maior.
CHINA COMO ÂNCORA PARA ASEAN-CCG
A China já teve um impacto transformador na ASEAN e no Oriente Médio em geral, economicamente, incluindo os países do CCG, por meio de importantes esforços em infraestrutura, comércio e desenvolvimento, principalmente a Iniciativa Cinturão e Rota e a Iniciativa de Desenvolvimento Global. Mas o relacionamento é mais forte, com crescente cooperação em tecnologia, desenvolvimento industrial, turismo, intercâmbio cultural e laços interpessoais de longa data.
A Malásia, que assumiu a presidência rotativa da ASEAN em 2025, considera a China seu maior parceiro comercial desde 2009 e tem defendido consistentemente uma integração regional mais forte. O primeiro-ministro, Anwar Ibrahim, também tem sido uma voz ativa e franca em assuntos do Oriente Médio, posicionando a Malásia como anfitriã adequada para a próxima cúpula tripartite.
Como muitas nações da ASEAN, a Malásia tem buscado se manter afastada das tensões comerciais globais, mantendo uma política de comércio livre e aberto, ao mesmo tempo em que amplia suas parcerias internacionais, incluindo a adesão ao grupo BRICS em 2024. A medida ressalta um impulso para fortalecer os laços e o comércio com a China, que enfrenta tarifas e outras formas de pressão dos Estados Unidos.
Enquanto isso, o papel diplomático e estabilizador da China em questões essenciais também fortaleceu sua posição na região. Seus apelos por uma resolução pacífica e justa para o conflito palestino repercutem em muitos membros da ASEAN, enquanto seu sucesso em reunir potências-chave do Oriente Médio, especialmente Irã e Arábia Saudita, elevou ainda mais sua visibilidade e gerou boa vontade em toda a região.
Foto mostra telão sobre cúpula China-Conselho de Cooperação do Golfo em uma rua de Riad, Arábia Saudita, no dia 7 de dezembro de 2022. (Xinhua/Wang Dongzhen)
CONSTRUINDO LAÇOS ECONÔMICOS RESILIENTES
A convergência dos principais exportadores de energia do CCG, da grande base de consumidores da ASEAN e do enorme mercado chinês, com mais de 1,4 bilhão de pessoas, promete benefícios significativos para todas as partes. Juntos, eles detêm recursos suficientes dentro de suas fronteiras para sustentar o comércio e resistir a potenciais restrições ou interrupções.
Apesar dos esforços para atrair a ASEAN e os membros do CCG para o confronto em bloco, o Ocidente não consegue pressionar esses países como antes com seu poder militar e econômico, sinalizando um desgaste constante da influência que já teve. Em meio a conflitos em curso e realidades econômicas em constante mudança, os países estão cada vez mais priorizando parcerias que melhor atendam aos seus objetivos de desenvolvimento, em vez de aceitar políticas que impeçam seu progresso.
A união das três partes cria uma plataforma para a cooperação. Salvo interferência de partes externas, este emergente "Triângulo Dourado" de recursos, manufatura e consumidores está pronto para impulsionar a economia global. Também pode acelerar a disseminação de tecnologias de ponta pioneiras da China, principalmente em veículos movidos a energia renovável e ferramentas de inteligência artificial como o DeepSeek, desenvolvido a uma fração do custo de seus equivalentes ocidentais.
ENTERRANDO A ORDEM UNIPOLAR
Com as principais economias europeias à beira da recessão e da desindustrialização, e os próprios Estados Unidos perdendo sua vantagem na construção naval e continuando decaindo em outros setores, a China continua avançando, pois consegue reconhecer este simples fato: a ASEAN, o CCG e outros grupos regionais na África e na América Latina querem uma nova era de paz e relações internacionais estáveis.
Embora essas aspirações possam ou não resultar em uma forte integração ASEAN-CCG-China em um futuro próximo, a alternativa de ver outras nações rumando para políticas prejudiciais e fragmentadas é um cenário muito mais sombrio do que a promessa de uma cooperação global renovada e prosperidade compartilhada.
Nota da edição: Julia Roknifard é professora sênior da Faculdade de Direito e Governança da Universidade Taylor.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade da autoria e não reflete necessariamente a opinião da Agência de Notícias Xinhua.
Fonte: https://portuguese.news.cn/20250527/bb93eb40000343c1b103d3670221512f/c.html
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