"A China reivindicava-se como economia de mercado, e eu o fiz quando ninguém queria. Passados 20 anos, não me arrependo", afirmou o presidente

247 - Durante seu discurso no Fórum Brasil-China em Pequim nesta segunda-feira (12), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi calorosamente aplaudido por empresários ao relembrar um gesto que marcou a história da relação bilateral: o reconhecimento da China como economia de mercado, feito por seu governo em meio à resistência global.
“Na primeira visita de Hu Jintao ao Brasil, a China reivindicava-se como economia de mercado, e eu o fiz quando ninguém queria. Passados 20 anos, não me arrependo. Porque a China hoje é nosso maior parceiro comercial”, afirmou Lula, sob aplausos.
O presidente reforçou que a relação entre os dois países não é meramente pragmática, mas baseada em um compromisso comum de superação da pobreza. “Quero dizer aos empresários chineses que nossa relação não é comum. É de dois países que têm compromisso de resolver o problema do empobrecimento que martelou nossas vidas durante muito tempo”, declarou. Ele destacou que a China retirou 800 milhões de pessoas da pobreza em 40 anos, e o Brasil, 54 milhões — processos que, segundo ele, demonstram como inclusão social impulsiona o crescimento.
Crítica ao abandono do Sul Global e à ascensão do protecionismo - Em
tom crítico, Lula apontou que o mundo desenvolvido ignorou por décadas
regiões como a América do Sul e a África. “A União Europeia, depois de
1991, se dedicou muito mais a ganhar o Leste europeu e diminuiu muito os
investimentos na África e América do Sul. Outros países grandes nos
esqueceram”, afirmou.
O presidente também condenou a política tarifária adotada pelos Estados
Unidos, que, segundo ele, ameaça os princípios do multilateralismo. “Não
me conformo com a chamada taxação que o presidente dos EUA impôs ao
planeta Terra. O multilateralismo foi o que garantiu todos os anos de
harmonia entre os estados após a Segunda Guerra Mundial. O protecionismo
pode levar à guerra”, advertiu.
Educação, tecnologia e o futuro da parceria Brasil-China - Lula argumentou que, para avançar em cadeias de maior valor agregado e superar a dependência de commodities, é preciso investir em educação e ciência. “Tem muita gente que reclama que o Brasil exporta para a China apenas produtos agrícolas e minério de ferro. Eu queria só dizer: para que a gente possa fazer investimentos em produtos refinados, com tecnologia, precisamos lembrar que deixamos de investir em educação”, disse. Ele defendeu a formação de engenheiros, matemáticos e especialistas em inteligência artificial, inspirando-se na experiência chinesa: “O ideal é exportar inteligência. Para isso, não há milagre. Temos que investir em educação”.
A cooperação científica, acadêmica e tecnológica foi apresentada como um dos eixos estratégicos da nova fase da relação bilateral. “Os chineses podem querer ir para universidades brasileiras, e os brasileiros querem vir pra China. Falam que é difícil aprender chinês, mas difícil mesmo é construir a muralha como os chineses fizeram”, brincou.
Parceria estratégica e integração global - Lula
reiterou que a solidez da relação entre os dois países é baseada na
interdependência e no benefício mútuo. “Se depender do meu governo e da
minha disposição, o Brasil e a China serão parceiros contornáveis. A
nossa relação será indestrutível porque a China precisa do Brasil e o
Brasil precisa da China. Juntos, vamos fazer com que o Sul Global seja
respeitado no mundo como nunca foi”, concluiu.
O presidente também ressaltou o potencial brasileiro na transição
energética e defendeu a ampliação das parcerias em diferentes setores.
“O Brasil caminha para ser um país imbatível no campo da transição
energética. Poucos países no mundo terão condições de oferecer
oportunidades como nós”, destacou.
Fonte: https://www.brasil247.com/mundo/lula-relembra-decisao-de-reconhecer-a-china-como-economia-de-mercado-e-e-ovacionado-por-empresarios
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