
© flickr.com / Ricardo Stuckert / Presidência da República
A
visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China ocorre em um
momento-chave da geopolítica internacional, marcado pela intensificação
da guerra comercial entre Estados Unidos e China, agravada pela nova
onda de tarifas anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o professor Luis Antonio Paulino,
da Universidade Estadual Paulista (Unesp), aponta que o encontro entre
os líderes brasileiro e chinês pode redefinir os contornos da política
externa brasileira e consolidar o papel do país como peça-chave no
tabuleiro global.
A visita, diz Paulino, acontece em um momento delicado da conjuntura mundial, no qual a ordem global vigente desde o final da Segunda Guerra Mundial está sendo posta abaixo pelo governo Trump.
"Sem que se saiba exatamente que nova ordem pode surgir do caos imposto por Trump."
Lula vai à capital chinesa no contexto do IV Fórum China-CELAC, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos. Para o professor, o evento reforça as relações entre os países do Sul Global.
"Reafirmar a importância das relações Sul-Sul, em particular entre a China e América Latina, como forma de fazer frente aos desafios globais da conjuntura atual e às tentativas dos Estados Unidos de isolamento da China."
Paulino
também vê a possibilidade de expansão da cooperação bilateral não só
nas áreas em que a parceria Brasil-China já é forte, mas também abrindo
novas arenas de interesse mútuo que aproximem ainda mais os dois países.

Postura errática de Trump prontifica China para assumir o vácuo estratégico deixado, dizem analistas
2 de abril, 15:55
Para o pesquisador sênior do Observa China e coordenador do Núcleo de Trabalho China-América Latina, Gustavo Alejandro Cardozo, a viagem representa uma oportunidade estratégica para o Brasil se posicionar como um parceiro prioritário de Pequim.
Trata-se
de uma visita "muito importante", que abre um caminho de maiores
possibilidades para os dois países, principalmente para o Brasil.
"De
se posicionar como uma grande alternativa em termos comerciais para
Pequim, além de aprofundar os laços políticos e acordos bilaterais."
Acordos e novo fôlego para a Rota da Seda
O
movimento ocorre em um contexto de "tarifaço" renovado por parte do
presidente norte-americano, Donald Trump, que reacendeu a guerra
comercial com a China. Diante disso, Pequim tem intensificado suas
relações com países do Sul Global — com destaque para o Brasil.
Recentemente, a China divulgou imagens de carregamentos de soja brasileira chegando ao país como substitutos dos produtos norte-americanos.
Para Cardozo, essa movimentação abre uma janela de oportunidade para
estreitamento de laços e ação conjunta no cenário mundial.
"É
fato que o Brasil assumirá um papel mais importante para a China em
termos de comércio, além de abrir a possibilidade de trabalhar em
conjunto, bilateral e multilateralmente, para enfrentar as ações dos EUA em nível global", avaliou Cardozo.
"O complexo esquema global coloca Pequim em uma situação de conflito aberto com os EUA. O acordo entre Pequim e Brasília permite contrabalançar esse aspecto na esfera multilateral, tanto na América Latina quanto em outras regiões."
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30 de abril, 15:26
A
análise destaca a importância do Brasil como ator fundamental na
política externa chinesa, especialmente na construção de alianças no Sul
Global. "A China deve buscar aliados estratégicos globais e,
fundamentalmente, no Sul Global, onde o Brasil desempenha um papel
extremamente importante para a China. Isso o coloca em uma posição
privilegiada", complementa.
A possibilidade de o Brasil aderir à Iniciativa Cinturão e Rota (Nova Rota da Seda), projeto de infraestrutura e integração econômica promovido pela China, também ganha novo fôlego.
Segundo
Cardozo, "o Brasil e a China estão trabalhando nessa direção, não só na
Rota da Seda, mas também na ampliação de acordos maiores e no
aprofundamento dos que já estão em vigor. Pequim entende o tempo que o
Brasil precisa para assumir a Rota da Seda como parte, mas isso não será
um problema bilateral, mas uma oportunidade para expandir os vínculos
mútuos".
As áreas prioritárias para essa ampliação da parceria bilateral, segundo o analista, incluem "comércio agrícola, tecnologia de comunicação e mineração", que podem se tornar eixos centrais de cooperação e investimentos futuros.
Fonte: https://noticiabrasil.net.br/20250511/visita-de-lula-a-china-estreita-lacos-em-meio-a-tensoes-globais-com-os-eua-avaliam-analistas-39450541.html
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