19:45 29.04.2025 (atualizado: 20:32 29.04.2025)

© Isabela Castilho/BRICS Brasil
Após
dois dias, a reunião de chanceleres do BRICS no Rio de Janeiro terminou
nesta terça-feira (29) com discussões que incluem desde o compromisso
com o multilateralismo e a reforma da governança global até críticas às
medidas protecionistas que têm marcado os últimos meses.
O encontro que reuniu as chancelarias dos 11 países-membros do BRICS
— Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes
Unidos, Arábia Saudita, Irã, Etiópia e Indonésia —, além das nove nações
parceiras — Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Tailândia,
Uganda, Uzbequistão e Nigéria —, foi o primeiro desde a expansão iniciada no ano passado.
Como está na presidência rotativa do grupo neste ano, o Brasil divulgou a declaração sobre os principais pontos
discutidos pelos diplomatas. Entre eles estavam a preocupação com o
aumento do protecionismo comercial — sem citar a guerra tarifária
iniciada pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump,
que, conforme o texto, enfraquece o multilateralismo — e as sanções
econômicas. O grupo ainda defendeu a reforma da governança global, além
da necessidade de soluções pacíficas e diplomáticas para os conflitos mundo afora.
Para
a mestre e doutoranda em ciência política pela Universidade de Brasília
(UnB) Isabela Rocha, membro da diretoria do Fórum para Tecnologia
Estratégica do BRICS, o encontro mostrou a importância da contribuição
brasileira para o fortalecimento institucional do grupo.
"Observamos que a pauta central é esta: criar um fôlego institucional
para fazer com que o BRICS seja mais do que um aglomerado de países
para, de fato, ser uma instituição mediadora", enfatizou à Sputnik
Brasil.

28 de abril, 12:11
A especialista pontuou ainda que o papel do BRICS é "mais vital do que nunca no cenário atual", marcado pelo enfraquecimento da Organização das Nações Unidas (ONU).
"É
importante lembrar que a principal missão do Brasil na presidência do
BRICS é justamente criar um fôlego institucional para que o grupo possa
atuar de maneira mais sólida no cenário internacional. Então, perante
essa falência das instituições que são hegemonicamente ocidentais no
arranjo global, o BRICS pode realmente surgir como uma alternativa para
que possamos fazer essas mediações de maneira efetiva,
até mesmo para valer a carta dos direitos humanos que, de fato, não é
capaz de ser promovida através das Nações Unidas ou outras
instituições", explica.
Brasil e o papel de mediação frente aos conflitos globais
Em entrevista na última segunda-feira (28), o ministro das Relações Exteriores da Rússia,
Sergei Lavrov, que também participou da reunião, ressaltou que o Brasil
pode contribuir de forma significativa para a resolução dos problemas
globais. Para Isabela Rocha, a declaração também tem relação com a
história da diplomacia do país, sempre voltada para a mediação.
"Não
foram poucas as vezes que o nosso corpo diplomático foi convocado para
fazer a mediação de conflitos para que, de fato, chegassem a resoluções
pacíficas. É um trabalho que começou com Rio Branco [José Maria da Silva
Paranhos Júnior, chanceler brasileiro entre 1902 e 1912]. A declaração
de Lavrov também mostra o estreitamento das relações entre Brasil e
Rússia", diz.
O professor de relações internacionais e autor do livro "Imperialismo, Estado e relações internacionais", Luiz Felipe Osório, acrescenta à Sputnik Brasil que Lavrov reforçou também que o Brasil é "mais isento do que Estados Unidos e União Europeia em relação à Rússia para mediar quaisquer contendas".
Para o especialista, é urgente construir uma ordem internacional que se desvincule das políticas imperialistas, que focam na exploração dos países periféricos pelas nações centrais.
"O
multilateralismo do pós-guerra, ainda que alicerçado nas instituições, é
violento e brutal e não impediu os grandes massacres e as grandes
injustiças dos últimos tempos […]. O equilíbrio é sempre relativo e
depende a quem atende ou interessa. O que precisa ser pontuado é que o
responsável pela miséria dos povos do mundo, a despeito dos avanços tecnológicos impressionantes, é o imperialismo. Somente com o fim dessa forma política de subjugação é que podemos ter uma dinâmica mais estável", defende.

28 de abril, 16:48
E é justamente o BRICS, de acordo com o professor, que pode se colocar como uma coalizão que busque restabelecer as novas bases para as relações internacionais no globo, além de contribuir com a estabilidade.
"Nunca
é demais lembrar que os dois conflitos de maior potencial de
desestabilização mundial hoje, Ucrânia e Gaza, são criados e alimentados
pelos Estados Unidos e pela decadente União Europeia, ou seja, pelo
bloco imperialista. Por isso, o BRICS vem ganhando uma importância
inédita, pois pode se apresentar como uma alternativa confiável para a
retomada da cooperação internacional."
Por fim, o especialista ressaltou que a expansão do BRICS é importante, já que envolve países que sempre ficaram à margem das grandes negociações globais, mas que ainda há muito para avançar em relação ao seu papel.
"O
encontro revela que o grupo, criado quase que por acaso, vem se
fortalecendo e se consolidando, principalmente após sua expansão. De
toda forma, é ainda muito tímido em questões centrais. A impressão é que
o bloco avança a passos curtos, sem querer causar grandes incômodos
dentro de uma margem estreita, o que pode se justificar por sua
heterogeneidade, com a junção de interesses e alinhamentos políticos
muito distintos. Ainda, porém, permanece muito limitado em adotar uma
postura mais contundente perante o imperialismo."

24 de abril, 12:00
Atuação coordenada na reforma da governança global
Fortalecimento da representatividade das instituições
ligadas à ONU e reforma do Conselho de Segurança, o principal órgão das
Nações Unidas. Essas também foram algumas das pautas defendidas pelo
Brasil durante a presidência rotativa do G20 no ano passado e que, agora, se repetem junto ao BRICS.
Isabela
Gama, professora-assistente de relações internacionais na Universidade
Abu Dhabi, destaca à Sputnik Brasil que essas são pautas centrais e
recorrentes da diplomacia brasileira, que pleiteia principalmente o maior protagonismo do Sul Global frente às atuais estruturas de governança.
"O
BRICS, enquanto grupo, ainda não funciona de forma muito coordenada em
muitos assuntos. Todos os membros possuem suas agendas no cenário
internacional, que nem sempre vão estar de acordo com outros membros do
grupo inteiro, mas com a expansão [de novos membros] é possível que
consigam alterar um pouco esse cenário", afirma.
Fonte: https://noticiabrasil.net.br/20250429/brics-em-foco-atuacao-do-brasil-reforca-papel-do-grupo-como-potencia-do-multilateralismo-global-39337483.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário