Fragilizada
devido ao apoio irrestrito a Kiev, a Europa agora se vê abandonada
pelos Estados Unidos comandados por Donald Trump. No lugar dos
norte-americanos, poderia outra potência emergir como principal parceira
do Velho Continente?
A política externa do presidente Donald Trump
tem causado confusão em muitos observadores internacionais ao abandonar
preceitos basilares da geopolítica estadunidense estabelecidos após a
Segunda Guerra Mundial.
É o caso de seu descompromisso com a defesa da Europa, algo reiterado por todos os mandantes da Casa Branca desde a
Doutrina Truman,
estabelecida pelo presidente democrata homônimo.
Mas
não é só na geopolítica que Trump se mostra revertendo os caminhos
históricos dos Estados Unidos. Na economia, o presidente e empresário
tem seguido uma política de tarifas de importação que visam proteger os
produtores nacionais — medidas que vão contra a ideologia neoliberal
adotada especialmente por Ronald Reagan.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o doutor e pesquisador colaborador do Observatório Político dos Estados Unidos (OPEU) Thiago Godoy explica que as ações de Trump podem ser entendidas a partir de uma reação ao declínio norte-americano no cenário global.
"A
política externa norte-americana tem se tornado, nas últimas décadas,
cada vez mais militarizada e cada vez menos capaz de conseguir, pelas
vias institucionais, dentro das organizações internacionais, gerenciar
grandes pautas", diz o especialista.
"O
que Trump tenta fazer nesse aspecto é trazer uma política externa mais
altiva, aparentemente até mais agressiva, justamente para tirar essa
imagem de um possível declínio norte-americano da sua posição de
superpotência."
Essa
perda de poder dos Estados Unidos é ressaltada pelo esgotamento interno
no país, que vê o bem-estar de sua população ruir com a estagnação da
renda, apesar do aumento na produtividade do trabalhador, do aumento na
inflação e da crise no uso desenfreado de opioides.
Dentro
desse cenário, afirma Godoy, os próprios cidadãos têm uma percepção de
que os Estados Unidos não deveriam se posicionar mais em assuntos
externos que, "de certa forma, não afetam diretamente a própria
população".
Dessa
forma, pode-se compreender a política externa de Trump. Ela não só
enfatiza a questão dos prejuízos econômicos sofridos pelos Estados
Unidos, como são os custos com a defesa europeia por meio da Organização
do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e a "desvantagem" comercial com os
aliados, como também reforça um discurso militarista, em especial nas
regiões geograficamente próximas, como a América Latina.
"Tudo
o que o Trump faz é também o que a própria política externa dos Estados
Unidos fez durante muito tempo, que é tentar preservar a sua liberdade
de ação no exterior quando necessário."
EUA deixam um 'vácuo' de poder
Em
visita a Portugal, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang
Yi, destacou a importância da Europa em um mundo multipolar e afirmou
que apoia o continente em sua busca por uma autonomia estratégica.
"Não é segredo", declara Godoy, "que
a China, assim como a Rússia, observa essa política externa de Trump como uma oportunidade de ocupar alguns vácuos estratégicos deixados pelos Estados Unidos".

19 de fevereiro, 15:40
Para Alexandre Ramos Coelho —
professor de relações internacionais na Fundação Escola de Sociologia e
Política de São Paulo (FESPSP) e coordenador do Núcleo de Geopolítica
do think tank Observa China —, a China já está, em grande medida,
demonstrando capacidade de explorar esse espaço.
No entanto, ainda há grande desconfiança da liderança europeia em sua aproximação com Pequim. Esse sentimento foi explicitado pela saída da Itália, sob o governo de Georgia Meloni, da Iniciativa Cinturão e Rota em 2023.
"Ainda
que os negócios e as conexões ferroviárias e comerciais tenham
avançado, os europeus reconhecem os riscos de substituir a dependência
dos EUA por uma dependência excessiva da China", diz Coelho. "A
percepção é de que essas dependências podem ser instrumentalizadas
politicamente por Pequim."
Nesse ponto, a fala de Yi em que
destaca a importância europeia no mundo multipolar
vai em consonância com um discurso que ganha tração dentro da
diplomacia europeia, detalha o professor, particularmente diante do
"comportamento errático, unilateral e transacional" dos EUA. Para os
europeus, mais vale "afirmar sua autonomia estratégica e diversificar
suas relações", mantendo um equilíbrio entre Pequim e Washington.
O comportamento dos Estados Unidos tem gerado reações também nos outros cantos do planeta. No Leste Asiático,
China, Coreia do Sul e Japão se reuniram para responder conjuntamente aos planos do "tarifaço" de Trump.
Já
na América Latina, região que o presidente norte-americano parece
clamar para si sob a égide de uma "nova" Doutrina Monroe, a diplomacia
estadunidense se revela cada mais agressiva, até mesmo diante de aliados
de longa data, como o México e a Colômbia.
"Esse
tipo de comportamento abre espaço para que a China se projete como um
parceiro mais estável, previsível e respeitoso da soberania dos países
da região."
Fonte: https://noticiabrasil.net.br/20250402/postura-erratica-de-trump-prontifica-china-para-assumir-o-vacuo-estrategico-deixado-dizem-analistas-39040050.html
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