09:12 04.04.2025 (atualizado: 10:59 04.04.2025)

© AP Photo / Silvia Izquierdo
Orçamento
de Defesa do Brasil para 2025 não é má notícia para o Ministério da
Defesa, mas pode atrasar entrega do submarino nuclear brasileiro. Frente
a um ambiente internacional turbulento, especialistas questionam se uma
frota de submarinos convencionais não aceleraria a dissuasão
brasileira.
A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse nesta quarta-feira (2) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionará o orçamento brasileiro para 2025 até a sexta-feira (11) da semana que vem, reportou o Portal 360.
A peça orçamentária aloca cerca de R$ 136,34 milhões para o Ministério da Defesa, o que representa estabilidade após os cerca de 38% de aumento em 2024. De acordo com o portal Metrópole, o ministro da Defesa José Múcio considera o valor insuficiente, mas reconhece o tratamento diferenciado que o seu ministério recebe em meio ao contexto de arrocho fiscal.
O orçamento da Defesa para 2025 é o quinto maior da Esplanada e inclui gastos com pessoal, custeio e investimentos. O valor fica muito aquém daqueles investidos pelas principais potências militares, segundo dados do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos. O valor a ser investido pelos EUA em 2025 atingirá R$ 5,4 trilhões, enquanto China desembolsará R$ 1,3 trilhão e Rússia alocará cerca de R$ 818 bilhões.

A
primeira-dama do Brasil, Rosangela da Silva, quebra uma garrafa de
espumante no Submarino Tonelero, durante sua cerimônia de lançamento em
Itaguaí, Rio de Janeiro, 27 de março de 2024
© AP Photo / Silvia Izquierdo
De acordo com especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil, o orçamento proposto não será o suficiente
para avançar um dos principais programas estratégicos das Forças
Armadas brasileiras: a construção do submarino de propulsão nuclear
Almirante Álvaro Alberto.
O orçamento anual para o programa PROSUB,
que inclui a construção de submarinos convencionais e nuclear, está
estimado em cerca de R$ 2 bilhões. Com esse ritmo, a entrega do submarino nuclear ficaria para 2040, reportou o portal Poder Naval.

27 de março 2024, 16:14
Os
recursos disponíveis para os submarinos brasileiros flutuaram bastante
de 2008 para cá, quando o projeto foi lançado, disse a doutora em Estudos Estratégicos Internacionais e especialista em política nuclear Michelly Geraldo.
"O
Brasil precisa garantir um fluxo contínuo de financiamento para esse
projeto, o que atualmente não existe", disse Geraldo à Sputnik Brasil.
"Projetos de defesa como esse deveriam ser iniciativas de Estado, e não
de governo. Só assim poderíamos superar as constantes descontinuidades
que os programas nuclear e do submarino sofrem."
O mestre em Estudos Estratégicos pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Rafael Laginha não acredita que o prazo de 2040 seja exequível.
"Acho
esse prazo apertado, se considerarmos as restrições orçamentárias",
disse Laginha. "O PROSUB já entregou quatro submarinos convencionais e
nos elevou de um patamar no qual só construíamos, para um no qual
projetamos submarinos. Então já temos ganhos. Mas, pela falta crônica de
recursos, não acredito que 2040 seja um prazo factível."
A
construção de um submarino de propulsão nuclear implica a superação de
vários desafios tecnológicos. Uma vez superados, o submarino Álvaro
Alberto colocará o Brasil em um seleto grupo de países com domínio de tecnologias nucleares aplicadas ao setor naval.

A
então primeira-dama do Brasil, Marcela Temer, quebra uma garrafa de
espumante no Submarino Riachuelo, durante sua cerimônia de lançamento em
Itaguaí, Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 2018
© AP Photo / Leo Correa
"Nós já superamos vários desafios: já sabemos construir cascos resistentes para a altas profundidades, já temos o ciclo completo do combustível nuclear
[desde a mineração, passando pelo enriquecimento de urânio até a
produção de pastilhas] e temos o complexo naval de Itaguaí, que garante
infraestrutura para construir o submarino", explicou Geraldo.

20 de dezembro 2024, 10:06
A
Marinha brasileira, no entanto, ainda trabalha para realizar tarefas
essenciais para a construção do submarino nuclear, entre elas a de produzir um reator nuclear pequeno o suficiente para ser embarcado.
"Precisamos
dominar a miniaturização e integração do reator, que seja compacto o
suficiente para operar dentro de um submarino. E fazer isso tudo com
segurança, controlando as reações nucleares – o que é algo novo para o
Brasil", considerou Geraldo.
Essas dificuldades, no entanto, são positivas, já que demandam a qualificação de quadros e desenvolvimento da capacidade industrial brasileira, tanto no setor de defesa, quanto no setor civil nuclear, acredita a especialista.

Um
membro da tripulação do submarino brasileiro Timbira usa uma máscara
durante uma visita da mídia à embarcação em uma base da Marinha em
Niterói, novembro de 2017 (foto de arquivo)
© AP Photo / Silvia Izquierdo
Por outro lado, o mestre em Estudos Estratégicos Laginha questiona os benefícios de o Brasil produzir somente um submarino nuclear, e não uma frota completa.
Caso o país não tenha orçamentos para construir mais de um submarino
nuclear, o especialista preferiria ver mais investimentos em submarinos
convencionais.
"Reconheço
o ineditismo do projeto do submarino nuclear, a capacidade de
contribuição tecnológica para o Brasil, o trabalho corajoso da Marinha, o
salto tecnológico atingido com as nossas centrífugas [de enriquecimento
de urânio], mas, do ponto de vista operacional, não sei se o submarino
nuclear conseguirá cumprir a sua função, que é a de patrulhar as águas
jurisdicionais brasileiras", questionou Laginho.
Segundo ele, com parcos recursos, o Brasil terá dificuldades de realizar a manutenção do submarino nuclear em prazos adequados. Além disso, durante os períodos de substituição do combustível nuclear, o submarino poderá ficar parado por mais de um ano.

Trabalhadores
preparam a cerimônia de lançamento do submarino Riachuelo no Complexo
Naval de Itaguaí, Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 2018 (foto de
arquivo)
© AP Photo / Leo Correa
"Se durante o período de troca de combustível o submarino ficar parado por período prolongado, isso vai ferir a famosa 'regra três' da estratégia naval:
um submarino patrulha, o outro fica no porto para adestramento da
tripulação e o terceiro em manutenção", explicou Laginha. "Por isso não
acredito que ter somente um submarino nuclear será relevante."
Segundo ele, "durante os períodos de indisponibilidade do submarino nuclear, esse alto investimento de recursos não vai se justificar. Porque teremos um, mas ao mesmo tempo não teremos nenhum".

A
tripulação do submarino brasileiro Timbira aguarda seu comandante
durante uma visita à embarcação em uma base da Marinha em Niterói,
novembro de 2017 (foto de arquivo)
© AP Photo / Silvia Izquierdo
Por outro lado, os submarinos movidos à propulsão nuclear têm vantagens significativas em relação aos convencionais,
como a capacidade de navegar em águas mais profundas, por mais tempo,
com menos ruído e sem a necessidade de emergir para reabastecer – o que
diminui a possibilidade de ser detectado pelo inimigo.
"Na
minha opinião, os submarinos nucleares e convencionais são
complementares, e não excludentes", disse o pesquisador do Núcleo
Avançado de Avaliação de Conjuntura da Escola de Guerra Naval (ESG)
Pérsio Glória de Paula à Sputnik Brasil. "O submarino nuclear pode
realizar operações de longo prazo em águas distantes e profundas, o que é
um componente essencial para ampliar a capacidade de dissuasão do
Brasil."
Glória de Paula lembra que o Atlântico Sul abarca 95% das reservas de petróleo do país e transporta 95% de seu comércio exterior, fonte indispensável de renda para a economia brasileira.

Um
trabalhador em frente ao submarino brasileiro Riachuelo após sua
cerimônia de lançamento no Complexo Naval de Itaguaí, Rio de Janeiro, 14
de dezembro de 2018 (foto de arquivo)
© AP Photo / Leo Correa
"Precisamos proteger esses recursos nacionais e dissuadir potências estrangeiras que possam cobiçá-las",
notou Glória de Paula. "É necessário levar o aspecto geoestratégico em
consideração, ainda mais nesse cenário de renovadas tensões
internacionais, no qual líderes de países importantes aventam a
possibilidade de anexar territórios, como a Groenlândia."
Segundo
Glória de Paula, "ainda que o Brasil não esteja envolvido em litígios
internacionais, a adição das capacidades de negação do uso do mar e
dissuasão de um submarino nuclear são imperativos estratégicos."
"O submarino nuclear vai proteger não só a Amazônia Azul, mas pode também restringir a capacidade de potenciais adversários de realizarem operações contra o solo no interior do Brasil, a partir do mar. E ele seria um marco da soberania nacional e aumentaria significativamente nas capacidades de dissuasão e projeção de poder do país", concluiu o especialista.
Fonte: https://noticiabrasil.net.br/20250404/amazonia-azul-e-a-proxima-groenlandia-brasil-quer-submarino-nuclear-para-dissuasao-diz-analista-39068495.html
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