Páginas

domingo, 16 de fevereiro de 2025

Sputnik Brasil: 'Imperativo estratégico': Brasil e América Latina devem agir já em tema de inteligência artificial



Uma empresa de tecnologia chinesa recentemente chocou o mundo e causou desespero nas Big Techs norte-americanas ao anunciar seu modelo de inteligência artificial (IA) generativa Deep Seek. Produzido pela empresa de mesmo nome, o modelo foi desenvolvido por uma fração dos custos das IAs norte-americanas.
Nesse novo campo de batalha tecnológica, como está o Brasil? O país lançou em 2021 a Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial (EBIA) e em julho de 2024 apresentou seu Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), que prevê R$23 bilhões de investimentos no quadriênio até 2028.
À Sputnik Brasil, o doutor em relações internacionais pela Universidade de Brasília e coordenador do curso de relações internacionais do Centro Universitário Internacional Uninter, Guilherme Frizzera, afirma que ainda é cedo para que os esforços brasileiros demonstrem algum resultado concreto.
 
"O EBIA apresenta o potencial de impulsionar o Brasil à vanguarda da IA na América Latina, mas esse caminho exige mais do que um plano bem escrito."

 No entanto, diz o especialista, há problemas na sua formulação, como falta de métricas claras e transparência. "A efetividade do EBIA dependerá de implementação consistente, colaboração, investimento em talentos e infraestrutura, e avaliação contínua, transformando-a em uma política de Estado sólida."

Guilherme Neves, professor de pós-graduação em Cibersegurança e Graduação em Engenharia da Computação e cursos Tech do Ibmec-RJ, diz à reportagem que no geral o PBIA é "um bom plano que ainda não deu bons resultados".
Segundo o professor, o maior problema do desenvolvimento para uma IA brasileira é "a capacidade de processamento" computacional, mal que também atinge os demais países da América Latina. Não dá para comparar com a quantidade de investimentos na China e nos Estados Unidos, diz.
Imagem ilustrativa de cadeado em meio a códigos de computador - Sputnik Brasil, 1920, 08.03.2024
Panorama internacional
Rússia desponta na luta por soberania digital: que lições o Brasil pode aprender?
A inteligência artificial é comparável, em seu impacto, a uma nova revolução industrial, descreve Frizzera. Nesse sentido, o domínio dessa tecnologia é um "imperativo estratégico para a soberania e o desenvolvimento das nações no século XXI".
A fala do especialista destaca um ponto crucial para o tema: não basta utilizar uma tecnologia de IA adquirida, é necessário desenvolver sua própria de maneira autóctone. "A dependência de tecnologias de IA estrangeiras expõe o país a vulnerabilidades", diz Frizzera, "seja na segurança cibernética, seja na capacidade de competir em um mercado global cada vez mais influenciado por essa tecnologia".
Um exemplo claro são as Big Techs norte-americanas, que se vendem como isentas de motivação estatal, porém "são beneficiárias de expressivos financiamentos públicos, por meio de contratos, subsídios e incentivos".
Isso ficou mais do que evidente durante a cerimônia de posse de Donald Trump, que contou com a presença do criador da OpenIA, Sam Altman, Mark Zuckerberg, da Meta (cujas atividades são proibidas na Rússia por serem consideradas extremistas) e Elon Musk, da Starlink e do X, que assumiu um cargo no governo norte-americano.
O drone Orion-E no X Fórum Internacional de Tecnologia Militar Exército-2024, na Rússia - Sputnik Brasil, 1920, 02.09.2024
Notícias do Brasil
Não se faz mais guerra como antigamente: drones com IA mudaram 'radicalmente' disputa entre países
Há inúmeras ocasiões em que os dados coletados foram utilizados de maneira perversa, como aconteceu no caso do Cambridge Analytics. "O grande tesouro da IA são os dados."

Solução é focar em áreas estratégicas

"Para realmente liderar", afirma Frizzera, é "fundamental que o país concentre seus esforços em áreas estratégicas, onde possa construir diferenciais competitivos."
 
"Setores como agricultura, saúde, energia e recursos naturais, onde o país já possui vantagens ou necessidades particulares, oferecem um terreno fértil para o desenvolvimento de aplicações de IA com alto valor."

Para complementar esses esforços, os especialistas apontam que o Brasil deveria articular uma agenda de cooperação com os demais países latino-americanos em forma de bloco. Dessa forma, podem aumentar seu poder de influência no cenário global.

Inteligência artificial (IA) (imagem de referência) - Sputnik Brasil, 1920, 13.02.2025
Panorama internacional
BRICS planeja criar políticas conjuntas para regular inteligência artificial
Com 33 Estados em toda América Latina e Caribe, uma população de 600 milhões e uma área superior a 19 milhões de km², o continente pode se unir para definir regras claras para a atuação das empresas de tecnologia, "visando a proteção dos direitos dos cidadãos, a promoção da ética e a mitigação de riscos como vieses algorítmicos e vigilância em massa."
"Uma atuação regulatória assertiva e bem-sucedida poderia conferir à região alguma influência e poder de negociação no cenário global da IA."

Fonte:  https://noticiabrasil.net.br/20250213/imperativo-estrategico-brasil-e-america-latina-devem-agir-ja-em-tema-de-inteligencia-artificial-38513278.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário