As
declarações oficiais sobre a conversa telefônica entre o presidente dos
EUA, Donald Trump, e seu homólogo russo, Vladimir Putin, nesta
quarta-feira (12), revelam uma mudança de chave radical nas relações
entre as duas potências, que estiveram estremecidas nos últimos anos.
Adjetivos
como "longa" e "produtiva" para o telefonema, balanços positivos e até
promessa de encontro pessoal e parcerias foram divulgadas por Washington
e Moscou.
De acordo com o analista internacional e editor do canal História Militar em Debate, Ricardo Cabral, o diálogo representou uma tendência da administração Trump, que havia feito contatos prévios com autoridades russas:
"É
um avanço, e as relações russo-americanas estão retomando o caminho
normal de onde nunca deveriam ter saído", opinou ele em declarações à
Sputnik Brasil.
A troca de prisioneiros ocorrida nos últimos dois dias, segundo ele, foi a mais recente prova de que os governos buscam estreitar as relações, sobretudo com a visita do enviado especial de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, a Moscou para negociar:
"Witkoff
é o enviado para o Oriente Médio. A troca de prisioneiros pode ter sido
uma forma também de um contato direto da administração americana, um
alto funcionário encarregado das negociações no Oriente Médio, com
Moscou, com Putin, que já havia se reunido com as principais
organizações palestinas. Uma coisa encaixou com a outra, e [houve]
demonstração de boa vontade dos dois governos em voltar à normalidade
das relações entre os dois Estados."
Para Cabral, a negociação de paz na Ucrânia já é dada como certa e vai focar os interesses americanos na Ucrânia,
de pagamento da dívida e permissão de exploração de recursos naturais.
No caso da negociação com a Rússia, os norte-americanos estão também
atentos aos interesses russos:
"O
acordo pode não ser muito bom para a Ucrânia, mas com certeza será bom
para os Estados Unidos e para a Rússia. Zelensky não tem nenhuma
vantagem", avaliou.
Cabral
é coautor do livro "Guerra na Ucrânia: análises e perspectivas. O
conflito militar que está mudando a geopolítica mundial". Segundo ele,
na negociação para o fim do conflito na Ucrânia entre os dois
mandatários, Vladimir Zelensky é "ator secundário":
"Está
mais para uma negociação Rússia e Estados Unidos. Acordos feitos ou
pelo menos alinhavados serão levados para a Ucrânia, que terá a
possibilidade do aceite ou não. Caso não aceite, nós provavelmente
veremos os Estados Unidos se afastarem definitivamente de qualquer
negociação e deixarem lá as coisas para os europeus resolverem, o que de
certa forma é muito ruim para a Rússia e a própria Ucrânia", comenta.
13:59
O estudioso frisa que a Ucrânia não tem autonomia por depender das potências ocidentais:
"Em
torno de 55% a 60% do que a Ucrânia recebeu vieram dos Estados Unidos, e
nós estamos vendo que isso torna o país dependente, ele não tem
autonomia estratégica para tomar decisões."
Ele
lamenta que até o momento Vladimir Zelensky tenha sido convencido pelo
ex-presidente dos EUA Joe Biden e pelo ex-primeiro-ministro do Reino
Unido Boris Johnson a dar início a um conflito e continuar com o combate
apesar da certeza de grandes perdas em vidas humanas e materiais. "Então a Ucrânia segue aquilo que os seus mestres lhe dizem, no caso, o Ocidente."
O
analista avaliou que o contato presidencial é importante, mas será
definitiva para o avanço do acordo de paz a participação do
representante da Casa Branca Keith Kellogg nas negociações com Moscou.
"Acho
que o Trump vai deixar pelo menos esse início de conversa sendo
conduzido pelo Kellogg, que é uma coisa muito dura, muito árdua, leva
muitas horas cada reunião, e ele [Trump] não tem nem paciência para
isso. Acredito que as negociações não serão rápidas, mas serão muito
realistas e objetivas", acrescenta.
O analista aposta que Trump vai pressionar para que em uma primeira etapa haja um cessar-fogo e depois a continuidade das negociações para o tratado de paz. Entretanto Putin insistirá em um cessar-fogo apenas após o acordo, em sua opinião.
Cabral arrisca também que Zelensky está muito próximo de ser substituído por alguém mais flexível e mais favorável a uma negociação.
"O
fim desse governo Zelensky, a neutralidade e um governo que não seja
hostil à Rússia me parecem inegociáveis para a Rússia, e acredito que os
Estados Unidos entenderam a mensagem", pondera ele.
A União Europeia, defende, não tem condições de se contrapor aos Estados Unidos e deve se subordinar na prática, mesmo que se oponha em nível retórico.
"A
liderança europeia, desde o primeiro momento, após a vitória de Donald
Trump, está sendo relegada a um segundo plano. Ele sabe que o Olaf
Scholz [chanceler alemão] vai sair daqui a alguns dias. [Emmanuel]
Macron [presidente da França] está em crise. Ele vê a ascensão de
movimentos políticos que são, de certa forma, inspirados ou muito
ligados ao trumpismo, ao Partido Republicano. Então ele [Trump] acredita
que a guerra vai ser vencida por ele. Ele vai ganhar a guerra para o
Ocidente."
Fonte: https://noticiabrasil.net.br/20250212/conversa-entre-putin-e-trump-sela-volta-da-normalidade-nas-relacoes-entre-russia-e-eua-diz-analista-38491610.html
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