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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Deus Barroso decreta: falar Lula é pecado


Nelson Jr./SCO/STF

Há um velho dito popular segundo o qual "de médico e louco todos nós temos um pouco". Na atual conjuntura politica, porém, o dito pode ser ampliado: "De médico, louco, técnico de futebol e analista político todos nós temos um pouco". Os inúmeros analistas políticos que existem hoje no país, que criticaram Lula por não ter desistido da sua candidatura há mais tempo, estão acreditando que a facada de Adélio vai eleger Bolsonaro. Os filhos dele, também enxergando um efeito benéfico no atentado, já disseram que ele será eleito no primeiro turno. E o seu vice, o general Hamilton Mourão, que já defendeu até uma intervenção militar no país, começou a se comportar como se eleito. Paralelamente a Globo, que deu um generoso espaço ao ex-capitão no Jornal Nacional, parece já ter abraçado a sua candidatura, certamente por ter desistido do tucano Geraldo Alckmin, que não consegue sair do lugar nas pesquisas de intenção de votos.

Não há dúvida de que o atentado pode beneficiar o candidato do PSL, especialmente se for bem explorado pelos seus marqueteiros – o povo costuma se solidarizar com as vítimas – mas isso não significa necessariamente que ele será eleito, muito menos no primeiro turno. Mesmo com Lula fora do pleito e a Globo atuando em favor de Bolsonaro, ao mesmo tempo em que prossegue no massacre ao ex-presidente, não há sinais visíveis que permitam um prognóstico mais seguro de que o candidato esfaqueado já garantiu a sua eleição. Na melhor das hipóteses ele deverá disputar o segundo turno com o candidato de Lula, Fernando Haddad, que herdará os votos do líder petista, se não em sua totalidade mas em número suficiente para levá-lo à segunda fase. Ainda não foi possível avaliar, junto ao eleitorado, os efeitos positivos para Bolsonaro do atentado que sofreu, o que só acontecerá com o resultado das próximas pesquisas de intenção de votos, mas aparentemente não houve grande impacto, pois por enquanto a repercussão tem se limitado à opinião provocada de outros candidatos e autoridades. O povão ainda não foi auscultado.

Existem outros fatores que vão contribuir para definir o comportamento do eleitorado como, por exemplo, as redes sociais, onde fervilham notícias verdadeiras e falsas sobre o episódio. Especula-se, por exemplo, quanto à veracidade do atentado, pois tem gente desconfiando que tudo não passou de armação, sob a alegação de que não viu sangue. Para esses desconfiados, considerando a gravidade do ferimento, Bolsonaro deveria estar encharcado de sangue, até porque uma artéria teria sido atingida. Os que encaram o atentado com desconfiança acharam muito estranho o fato do ex-capitão ter sido examinado em Juiz de Fora por uma equipe de médicos do Hospital Sirio e Libanês e, ao ser transferido para São Paulo, ser internado no Hospital Albert Einstein. Por que? Até agora ninguém explicou o motivo da mudança, o que provocou especulações sobre uma possível negativa do Hospital Sirio para recebe-lo. Para completar, um dia após o atentado e à delicada cirurgia a que se submeteu, o candidato do PSL já foi fotografado sentado e fazendo o conhecido gesto de apontar armas imaginárias. Com isso a semente da dúvida foi plantada na cabeça de muita gente.

Outro fator é a entrada em cena de Fernando Haddad como candidato do PT à Presidência, em substituição a Lula, que todos sabem foi impedido de concorrer pelo Judiciário. Lula, portanto, também se tornou vítima, não de um sujeito mas de um poder. Sua perseguição, que o transformou em preso político, hoje é percebida e condenada em todo o planeta. O Judiciário, personificado agora pelo ministro Luis Barroso, do STF-TSE, continua empenhado em impedir que o PT volte ao poder, com decisões que atropelam, descaradamente, as leis. Não satisfeito em negar o registro da candidatura do líder petista, ignorando recomendação da ONU para que seus direitos fossem respeitados, o ministro Barroso decidiu também proibir a citação de Lula em qualquer propaganda do PT, uma tentativa para dificultar a transferência dos seus votos para Fernando Haddad. A palavra "Lula", portanto, virou pecado, segundo determinação do mais novo "Deus" da Justiça, cuja escolha para o Supremo provavelmente foi um dos maiores erros da presidenta deposta Dilma Rousseff.

O ministro Barroso, ao que parece, está atuando contra Lula e o PT perfeitamente afinado com a mídia, os Estados Unidos e os militares. As recentes declarações do general Eduardo Villas Boas, comandante do Exército, em entrevista ao jornal "O Estado de São Paulo", não deixam dúvidas quanto à determinação para eliminar o ex-presidente do cenário político e, de maneira mais ampla, o Partido dos Trabalhadores. Ele disse: "O pior cenário é termos alguém sub judice, afrontando tanto a Constituição quanto a Lei da Ficha Limpa, tirando a legitimidade, dificultando a estabilidade e a governabilidade do futuro governo e dividindo ainda mais a sociedade brasileira". O general, aparentemente, está vivendo em outro planeta, pois quem afronta a Constituição, cria instabilidade e dificulta a governabilidade do futuro governo é o próprio Judiciário. Lula não pode afrontar coisa nenhuma, nem se quisesse, porque está preso, injustamente. O general, aliás, que também afronta a Constituição, que proíbe a manifestação política de militares da ativa, nem poderia falar em legitimidade, pois presta continência a Michel Temer, que assumiu a Presidência da República mediante um golpe.

Fonte: https://www.brasil247.com/pt/colunistas/ribamarfonseca/368374/Deus-Barroso-decreta-falar-Lula-%C3%A9-pecado.htm

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