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quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Brasil247: A profunda conexão da extrema-direita com o crime organizado no Brasil

por Roberto Moraes

A forte e precisa ação do governo federal, PF, RF e do MPF tem sido impecável, em alguns casos com ajuda das polícias estaduais, em outros, com oposição delas

Agentes da Receita Federal durante ação conjunta da Operação Carbono Oculto, que investiga esquema de lavagem de dinheiro no setor de combustíveis (Foto: Divulgação/Receita Federal )

Impressiona como vai ficando clara a profunda relação entre a extrema-direita, as milícias, a corrupção - com participação de agentes e frações do Estado e da segurança pública - e o crime organizado, em várias dimensões e escalas. Desde a base ao topo da pirâmide que envolve rede de empresas, mas em especial o circuito financeiro com atuação de pessoas e técnicos com grande experiência nesse mercado. E também não quer dizer que toda a extrema-direita estaria envolvida nos crimes, mas tá claro que parte dela se cruza com o PCC. O aprofundamento das investigações tem clareado as relações.

A forte e precisa ação do governo federal, PF, RF e do MPF tem sido impecável, em alguns casos com ajuda das polícias estaduais, em outros, com oposição delas e em especial dos governadores.

Operação Carbono Oculto
Operação Carbono Oculto

O passo seguinte e indispensável é a aprovação do projeto legislativo (PEC 18/2025) do governo federal para regulamentar o sistema único de segurança pública (SUSP).

Até a mídia corporativa já passou a entender e defender a importância do projeto para se avançar no combate contra o crime organizado que lançou seus tentáculos sobre a economia legal, algumas igrejas e para a política partidária no legislativo, executivo e mesmo sobre frações do judiciário nos seus três níveis.

Os dados sobre as investigações e operações são impressionantes, não apenas sobre o volume de recursos e extensão das áreas de atuação, mas sobre a participação de diferentes agentes, em especial do alto circuito financeiro que incluem desde administradoras de fundos e das fintechs (bancos digitais e tecnológicos). Trata-se de conexões em muitos casos transnacionais que vão bem além de nossas fronteiras.

Lá atrás, em 2019, quando pesquisei e escrevi, o livro sobre "A 'indústria' dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo", eu já chamava a atenção sobre os recursos que circulavam no esquema paralelo, mundialmente conhecido como "shadow bank" (banco sombra).

Além disso, já era possível perceber o quanto era difícil e opaco acompanhar os movimentos de alguns destes fundos financeiros. Sabia-se, com alguma facilidade, onde os fundos investiam (a divulgação atraía mais investidores e, assim, ampliava o processo de capitalização), mas não se sabia a origem e os proprietários destes dinheiros.

Pois bem, essas investigações indicam algumas destas pontas de novelo que estavam encobertas.

Evidentemente, não quer dizer que todo o setor financeiro estaria metido nesses esquemas, mas seria estranho que no Brasil, o crime organizado não estivesse presente entre as gestoras de fundos financeiros que agora em 2025, já administram ativos da ordem de R$ 10,4 trilhões (referência do dia 23/09/2025), segundo dados recentes da Anbima, associação privada que acompanha o mercado de capitais.

PS.: Anexo. Infográfico sobre áreas de atuação internacional do crime organizado na leitura da Fundação Heinrich Böll do Brasil que analisa também as formas de crime e os setores atingidos ligados à produção de carbono com reflexos sobre o clima no Brasil. Veja aqui, uma postagem dessa fundação com o título "A última fronteira: O crime organizado transnacional e a luta contra as mudanças climáticas".

As diferentes agendas do crime organizado
As diferentes agendas do crime organizado(Photo: Heinrich Boll Stiftung - Rio de Janeiro)

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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Fonte: https://www.brasil247.com/blog/a-profunda-conexao-da-extrema-direita-com-o-crime-organizado-no-brasil

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