02:05 04.09.2025 (atualizado: 06:42 04.09.2025)

© AP Photo / Thomas Padilla
Pela
primeira vez, partidos críticos da União Europeia e com uma plataforma
nacionalista lideram as pesquisas simultaneamente na França, Alemanha e
Reino Unido.
De
acordo com especialistas ouvidos pela Sputnik, o cenário político das
principais economias da Europa está passando por uma mudança sísmica,
com tendência favorável a partidos anti-Bruxelas, liderados por figuras antes consideradas marginais ou pouco relevantes pelo establishment.
Para José Ignacio Apoij, internacionalista formado pela Universidade da República Oriental do Uruguai (UDELAR),
o questionamento das políticas da União Europeia e uma reorientação das
prioridades nacionais em direção às necessidades dos eleitores da
classe trabalhadora têm sido fatores-chave para a ascensão dessa nova
geração de políticos e partidos.
"Quando
os políticos tradicionais passaram a ouvir mais os tecnocratas de
Bruxelas e os lobistas das grandes corporações, em vez de tentar
implementar projetos e políticas públicas voltadas ao benefício dos
cidadãos, o contrato social entre eleitores e políticos basicamente se
rompeu", opina ele.
A
consequência, acrescenta, é que o eleitorado está buscando novas opções
políticas que "priorizem o bem-estar comum, o bom senso e o trabalho,
acima das agendas das elites ditadas por poucos", afirma.
Essa ascensão é refletida em pesquisas recentes e evidencia um profundo descontentamento entre os eleitores, impulsionado principalmente pela frustração popular com temas como o alto custo de vida, a decisão dos governos de prolongar o conflito na Ucrânia, com o envio contínuo de recursos para Kiev, em meio a suspeitas de corrupção, entre outros.
Embora partidos antissistema
já tenham conseguido integrar coalizões de governo em outros países
europeus, como Itália, Finlândia e Países Baixos, o fato de dominarem as
pesquisas nas três maiores economias da Europa ao mesmo tempo é um acontecimento sem precedentes.

29 de agosto, 11:16
A ascensão do 'antissistema'
O
fenômeno se manifesta de forma particular em cada país. Na França, o
partido Reunião Nacional manteve uma vantagem constante nas pesquisas ao
longo deste ano. A intenção de voto de seu líder, Jordan Bardella
— pupilo de Marine Le Pen, que está impedida pela Justiça de concorrer a
cargos eletivos —, chegou a 36%, segundo uma pesquisa da empresa Elabe.
As projeções para a próxima eleição presidencial, que ocorrerá no ano que vem, sugerem que o candidato da Reunião Nacional lideraria confortavelmente o primeiro turno, o que sublinha a evolução de um partido antes visto como radical.
No
Reino Unido, o recém-criado partido Reform UK, liderado pelo
parlamentar Nigel Farage — outrora o principal ideólogo do Brexit —,
teve ascensão meteórica nos últimos seis meses, aparecendo com folga à
frente nas pesquisas de opinião, superando tanto o Partido Trabalhista
quanto os Conservadores, as duas forças que dominaram a política britânica por mais de um século.
Além
disso, o surgimento de uma nova força política liderada pelo ex-líder
trabalhista Jeremy Corbyn ameaça afundar ainda mais as chances
eleitorais do governo nas eleições locais do próximo ano, em meio ao
colapso da aprovação do primeiro-ministro Keir Starmer.
Na Alemanha, a situação não é menos preocupante para o governo, com uma economia que encolheu 0,3% no último trimestre,
prolongando uma recessão que já dura dois anos. A Alternativa para a
Alemanha (AfD) tem empatado nas pesquisas com o partido governista de
Friedrich Merz, a União Democrata Cristã (CDU), apesar de,
historicamente, os novos chefes de Estado gozarem de uma "lua de mel" com o eleitorado que dura pelo menos seis meses.
No entanto, nas últimas semanas, o AfD conseguiu uma leve vantagem, segundo o instituto de pesquisa Forsa.
Esse
cenário político é fruto de uma combinação tóxica de fatores econômicos
e sociais que afastou a maioria dos eleitores dos governantes europeus,
na opinião do internacionalista formado pela Universidade de Belgrano, Samuel Losada. Em
entrevista à Sputnik, ele citou a submissão a Washington", com aumento
de gastos militares para atender às exigências dos EUA, como um dos
fatores:
"A
estagnação econômica, somada à desindustrialização e aos empregos
precários e mal remunerados, geraram um forte descontentamento e a
impressão de que as elites políticas europeias ignoram as preocupações
das pessoas comuns e preferem investir em conflitos no exterior,
enriquecendo empreiteiras militares e o Pentágono. Esse sentimento se
manifesta tanto nas pequenas cidades inglesas quanto no interior da
França e nas vilas alemãs, onde esses partidos mais cresceram", explica
Losada.
No
entanto, o especialista destaca que até mesmo grandes metrópoles —
historicamente bastiões dos partidos conservadores ou socialistas —
registram aumento no apoio a políticos outsiders e anti-Bruxelas,
especialmente entre os jovens.
"No
caso britânico, embora Corbyn e Farage tenham visões ideológicas quase
opostas, ambos defendem políticas nacionalistas, não intervencionistas, e
falam diretamente às populações mais afetadas pela globalização e pelo
neoliberalismo. Isso ajuda a explicar, em grande parte, seu sucesso
entre o eleitorado de 18 a 30 anos, que cresceu em um mercado de
trabalho instável e em uma economia cada vez mais desigual", afirma.
Fonte: https://noticiabrasil.net.br/20250904/estagnacao-economica-e-submissao-a-washington-levaram-a-europa-a-pender-para-o-antissistema-42914591.html

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