Deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que derrubou provisoriamente a
presidente Dilma Rousseff por meio de um golpe parlamentar, anunciou sua
renúncia à presidência da Câmara; "É público e notório que a Casa está acéfala.
Somente a minha renúncia poderá por fim a essa instabilidade sem prazo", disse o
deputado afastado em coletiva do Salão Verde; sem citar as contas na Suíça, ele
disse que paga um "preço alto por ter dado início ao processo de impeachment";
Cunha é réu em dois inquéritos no STF, acusado de receber propinas de diversas
empresas; com sua renúncia, o interino Michel Temer perde seu aliado, a quem
chamou de "incansável batalhador político e jurídico"
7 de Julho de 2016 às 13:02 //
247 - O deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que
derrubou provisoriamente a presidente Dilma Rousseff por meio de um golpe
parlamentar, anunciou sua renúncia à presidência da Câmara em coletiva nesta
quinta-feira 7. "Resolvi ceder às pressões", declarou.
"É público e notório que a Casa está acéfala. Somente a minha renúncia poderá
por fim a essa instabilidade sem prazo", disse o deputado afastado, que chorou
ao falar de sua família, que também é alvo na Lava Jato, enquanto lia seu
depoimento aos jornalistas posicionados no Salão Verde.
Sem citar propina e contas secretas na Suíça, ele disse que paga um "preço
alto por ter dado início ao processo de impeachment contra a presidente Dilma
Rousseff", indicando retaliação no processo de cassação que corre na Casa.
Cunha também denunciou, em referência à Procuradoria Geral da República,
"seletividade do órgão acusador".
Líderes da Câmara estiveram reunidos nesta manhã para decidir os próximos
passos após a renúncia de Cunha, como a data da eleição para a presidência da
Câmara e o candidato. Os rumores sobre a renúncia do deputado vinham crescendo
nos últimos dias, mas pela primeira vez ele chegou a admitir a aliados que faria
o anúncio hoje.
O peemedebista queria um acordo, em troca de sua renúncia, para antecipar a
eleição à presidência da Câmara para o início da próxima semana.
Advogados do deputado avaliam que sua situação piorou com a apresentação do
voto ontem do deputado Ronaldo Fonseca (Pros-DF) na Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ), em que acatou apenas um dos 16 questionamentos de Cunha contra o
processo de cassação no Conselho de Ética.
Cunha é réu em dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal, acusado de
receber propinas de diversas empresas. Com sua renúncia, o presidente interino,
Michel Temer, perde seu aliado, a quem chamou de "incansável batalhador político
e jurídico".
Leia também reportagem da Agência Brasil sobre o assunto e a íntegra
da carta de renúncia:
O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), renunciou há pouco
à presidência da Casa.
"Resolvi ceder ao apelos generalizados dos meus apoiadores [...] Somente a
minha renúncia poderá pôr fim a esta instabilidade sem prazo. A Câmara não
suportará infinidamente", disse, ao ler sua carta de renúncia em entrevista à
imprensa no Salão Nobre da Câmara. Ele informou ter encaminhado a carta ao
primeiro-vice-presidente da Casa.
Ao ler a carta, Cunha disse que é alvo de perseguição por ter aceito a
denúncia que deu início ao processo de impeachment de Dilma Rousseff. "Sofri e
sofro muitas perseguições em função das pautas. Estou pagando alto preço por dar
início ao impeachment", disse, ao emocionar-se, pela primeira vez, em alguns
momentos.
O peemedebista disse também que sempre falou a verdade. "Comprovarei minha
inocência nesses inquéritos. Não recebi qualquer vantagem indevida de quem quer
que seja", disse.
Eduardo Cunha chegou no início da tarde pela chapelaria da Câmara, passou na
Secretaria-Geral da Mesa e marcou a entrevista à imprensa no Salão Nobre da
Casa, apesar de ter sido autorizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a
circular na Câmara apenas para se defender do processo de cassação no Conselho
de Ética ou na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Em ocasiões anteriores, por várias vezes, Cunha negou que iria renunciar.
Com a decisão de Cunha de deixar a vaga, a Câmara terá que convocar novas
eleições no prazo de até cinco sessões plenárias – deliberativas ou de debates
com o mínimo de 51 deputados presentes - para uma espécie de mandato-tampão, ou
seja, para um nome que comandará a Casa até fevereiro do próximo ano quando um
novo presidente será eleito.
Com a renúncia, pode se encerrar o impasse sobre a permanência de Waldir
Maranhão (PP-MA) no comando da Câmara. Maranhão assumiu o cargo desde que Cunha
foi afastado da presidência da Câmara pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O descontentamento dos deputados com a condução de Maranhão provocou,
inclusive, um acordo informal para que ele não presida as sessões de votações.
Todas as vezes em que Waldir Maranhão tentou quebrar este acerto, os
parlamentares se recusaram a discutir e votar matérias importantes até que ele
deixasse a Mesa do Plenário, que estava sendo revezada com o
primeiro-secretário, Beto Mansur (PRB-SP) e o segundo vice-presidente da Mesa
Diretora da Câmara, deputado Fernando Giacobo (PR-PR) – possíveis candidatos à
vaga provisória da presidência.
Eduardo Cunha está no quarto mandato, iniciado no PP e depois migrou para o
PMDB no período em que o partido estava dividido entre apoio ao ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e a possibilidade de uma candidatura própria. Na
eleição de 2006, Cunha integrou o grupo que militou pela candidatura própria do
PMDB mas, a partir de 2007 com vitória de Lula no segundo turno, a legenda foi
para a base do governo.
Eleito presidente da Câmara em primeiro turno no dia 1º de fevereiro de 2015,
Cunha recebeu 267 votos e derrotou três candidatos, entre eles, Arlindo
Chinaglia (PT-SP), que era o candidato do Palácio do Planalto na época, mas que
obteve apenas 136 votos. Durante a disputa e nos meses seguintes, Cunha repetiu
em diversos episódios que o governo de Dilma Rousseff resistiu fortemente à sua
candidatura à presidência da Casa, o que, segundo ele, justificou a resistência
sofrida por parte da base aliada na época.
O comando da Câmara é exercido por dois anos, mas nos primeiros meses Cunha
já começou a sentir a pressão suscitada pelas suspeitas de seu envolvimento em
negócios ilícitos envolvendo contratos de empresas com a Petrobras e existência
de contas secretas no exterior. Essas denúncias, aliada a reclamação de
parlamentares que o acusaram de beneficiar um grupo de deputados e conduzir as
votações na Casa, serviram como estopim para o início e avanço do processo de
cassação de seu mandato.
Processo de cassação
O processo para afastar definitivamente o peemedebista começou em outubro do
ano passado, quando o PSOL e a Rede entraram com uma representação contra Cunha
alegando que ele havia mentido à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da
Petrobras, quando negou ser o titular de contas no exterior. No processo, que
ficou marcado como o mais longo do colegiado, durando oito meses em função do
que adversários classificaram de manobras de aliados de Cunha, a cassação acabou
sendo aprovada no dia 14 de junho, por 11 votos contra 9, no Conselho de Ética.
A defesa de Cunha entrou com um recurso na Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) para tentar reverter o resultado. Foram elencados mais de 10 pontos em que
Cunha questiona a tramitação do processo, entre eles, a intenção de aditar a
representação contra ele incluindo informações sobre recebimento de propina, o
ponto que trata da votação no conselho ter sido nominal e o que aponta que
Marcos Rogério (DEM-RO) que, segundo ele, não poderia ter continuado como
relator do caso, depois de ter mudado de partido com a janela partidária e
continuar ocupando a vaga do PDT.
Ontem (6), o relator do recurso de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que pede a
anulação da tramitação do processo de cassação dele no Conselho de Ética da
Câmara, apresentou seu parecer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O
deputado Ronaldo Fonseca (PROS-DF) acatou parcialmente o pedido de Cunha e
recomendou uma nova votação do processo no conselho. O presidente da CCJ, Osmar
Serraglio (PMDB-PR), marcou para 16h de segunda-feira (11) a nova sessão para o
início da discussão e votação do parecer.
Para ser aprovado, o parecer de Fonseca precisará dos votos da maioria dos 66
integrantes da comissão. Havendo pedido de vista, esta manifestação pode ocorrer
apenas na próxima semana, de acordo com a escolha do ex-presidente da Casa. O
texto será então debatido entre parlamentares e depois o relator terá mais 20
minutos de réplica e a defesa outros 20 minutos de tréplica antes da votação.
Se a CCJ decidir que Cunha tem razões para apontar problemas durante a
tramitação do processo, a decisão pode provocar a reabertura do caso no conselho
mas, como seria uma decisão inédita da comissão que se vê no impasse de estar no
mesmo nível hierárquico que o conselho, a decisão final deve ser tomada pela
Mesa Diretora da Câmara. Se a CCJ rejeitar os argumentos de Cunha, o processo de
cassação vai a plenário e precisa de 257 votos para qualquer que seja a decisão
final.
STF
Paralelamente ao processo de cassação na Câmara, no Supremo Tribunal Federal
(STF), Cunha é alvo de pelo menos cinco processos, além de ter sido, no último
mês, afastado do comando da Casa por decisão do ministro do STF Teori Zavascki,
relator da Operação Lava Jato. A medida, acompanhada pelos 11 ministros da
Corte, foi em resposta à acusação do procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, de que Cunha tem atrapalhado as investigações.
O peemedebista entrou com recurso no STF pedindo para voltar à Câmara para se
defender pessoalmente no processo de cassação, o que acabou sendo acatado pela
Corte. No STF, Cunha também responde a processo em que é acusado de ter recebido
US$ 5 milhões em propina para viabilizar contrato de navios-sonda da Petrobras.
O STF já rejeitou o recurso apresentado pela defesa do peemedebista.
Há ainda denúncia de que Cunha recebeu propina da Petrobras em contas
secretas no exterior e acusações de que usou o mandato para beneficiar aliados,
além da suspeita de que atuou no desvio de recursos destinados à obra do Porto
Maravilha, no Rio de Janeiro.
Veja a íntegra da carta de renúncia de Eduardo Cunha
"Excelentíssimo Senhor Deputado Waldir Maranhão,
Vice-Presidente da Câmara dos Deputados,
Cumprimentando-o cordialmente, comunico a Vossa Excelência a decisão que
tomei em renunciar ao cargo de Presidente da Câmara dos Deputados. Essa decisão
é irrevogável e irretratável.
Ao completar 17 dos 24 meses do meu mandato de Presidente, dois meses de
afastamento do cargo e, ainda estando no período de recesso forense do Supremo
Tribunal Federal – onde não existe qualquer previsão de apreciação de recurso
contra o meu afastamento -, resolvi ceder4 aos apelos generalizados dos meus
apoiadores.
É público e notório que a Casa está acéfala, fruto de uma interinidade
bizarra, que não condiz com o que o País espera de um novo tempo após o
afastamento da Presidente da República. Somente a minha renúncia poderá pôr fim
à essa instabilidade sem prazo. A Câmara não suportará esperar indefinidamente.
No período de efetivo exercício do mandato, pude conduzir a Câmara na forma
proposta na minha campanha, com protagonismo e independência, votando todas as
pautas do governo, mas trazendo a debate também as pautas da sociedade e a pauta
dos seus representantes – que são os Deputados. Reforma política, terceirização
de mão de obra, redução da maioridade penal, “PEC da Bengala”, Estatuto do
Deficiente, pautas da segurança pública, correção do FGTS, foram alguns dos
importantes temas votados na minha gestão. Mas, sem dúvida alguma, a autorização
para a abertura do processo de impeachment de um governo que, além de ter
praticado crime de responsabilidade, era inoperante e envolvido com práticas
irregulares, foi o marco da minha gestão, que muito me orgulha e que jamais será
esquecido.
Sofri e sofro muitas perseguições em função das pautas adotadas. Estou
pagando um alto preço por ter dado início ao impeachment. Não tenho dúvidas,
inclusive, de que a principal causa do meu afastamento reside na condução desse
processo de impeachment da Presidente afastada, tanto é que meu pedido de
afastamento foi protocolado pelo PGR em 16/12/2015, logo após a minha decisão de
abertura do processo. E o pedido de afastamento só foi apreciado em 5/5/2016, em
uma decisão considerada excepcional e sem qualquer previsão constitucional,
poucos dias depois da decisão desta Casa por 367 votos autorizando a abertura do
processo por crime de responsabilidade.
Em decorrência dessas minhas posições, venho sofrendo também uma
representação por quebra de decoro parlamentar por supostamente ter mentido a
uma CPI, aberta por mim como Presidente e na qual compareci espontaneamente para
prestar esclarecimentos. Continuarei a defender a minha inocência de que falei a
verdade.
A par disso, sofro da seletividade do órgão acusador que atua com relação a
mim diferentemente do que com outros investigados com o mesmo foro. Após a
decisão da Câmara de instaurar o processo de impeachment em 17/04/2016, seis
novos inquéritos foram abertos contra mim e duas novas denúncias foram
apresentadas, sendo que muitos desses eventos se davam sempre às vésperas de
deliberações no Conselho de Ética. Quero reiterar que comprovarei a minha
inocência nesses inquéritos, confiando na Justiça do meu País. Reafirmo que não
recebi qualquer vantagem indevida de quem quer que seja.
Quero agradecer a DEUS pela oportunidade de presidir a Câmara dos Deputados
do meu País. Quero agradecer ao meu partido e a todos os Deputados que me
elegeram em primeiro turno em fevereiro de 2015. Quero agradecer a todos os que
me apoiaram e me apoiam no meio dessa perseguição e vingança de que sou vítima.
Quero agradecer especialmente a minha família, de quem os meus algozes não
tiveram o mínimo respeito, atacando de forma covarde, especialmente a minha
mulher e a minha filha mais velha. Usam a minha família de forma cruel e
desumana visando me atingir. Tenho consciência tranquila não só da minha
inocência bem como de ter contribuído para que o meu País se tornasse melhor e
se livrasse do criminoso governo do PT.
A história fará Justiça ao ato de coragem que teve a Câmara dos Deputados sob
o meu comando de abrir o processo de impeachment que culminou com o afastamento
da Presidente, retirando o País do caos instaurado pela criminosa e desastrada
gestão que tanto ódio provocou na sociedade brasileira, deixando como legado o
saldo de 13 milhões de desempregados e o total descontrole das contas públicas.
Que este meu gesto sirva para repor o caminho que a Câmara dos Deputados
estava trilhando na minha gestão, de protagonismo, de independência, de
austeridade no controle dos gastos públicos e de coragem para o enfrentamento
das pautas da sociedade. Acima de tudo, espero que este meu ato ajude a
restaurar o nosso País após o processo de impeachment.
Desejo sucesso ao Presidente Michel Temer e ao futuro Presidente da Câmara
dos Deputados. Que DEUS abençoe esta nação.
Peço a leitura deste expediente em sessão plenária.
Brasília, 07 de julho de 2016.
Eduardo Cunha"
http://www.brasil247.com/pt/247/poder/242648/Acaba-a-era-Cunha-vilão-do-golpe-chora-e-renuncia.htm