Brasil e Vietnã firmaram, nesta sexta-feira (28), um plano de ação para o período de 2025 a 2030 a fim de implementar
Parceria Estratégica entre os dois países, que é um tipo de relacionamento diplomático superior.

O ato foi oficializado pelo presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e o presidente do Vietnã, Luong Cuong, em Hanói, capital
vietnamita, onde Lula está em visita de Estado.
Em 2024, Brasil e Vietnã celebraram 35 anos de relações diplomáticas. A relação bilateral foi elevada a Parceria Estratégica
em 17 de novembro de 2024, em encontro de Lula e do primeiro-ministro
do país, Pham Minh Chinh, à margem da Cúpula do G20, no Rio de Janeiro.
Entre as nações do Sudeste Asiático, apenas a Indonésia é um parceiro
estratégico do Brasil.
“Com o fluxo de comércio bilateral que já se aproxima de 8 bilhões de
dólares, o Brasil exporta mais para o Vietnã do que vende para
Portugal, Reino Unido e França. Por isso, meu governo tem interesse em
reconhecer o Vietnã como economia de mercado. Essas e outras medidas vão
nos permitir ampliar os fluxos de comércio e de investimento entre
nossos países”, disse Lula em declaração à imprensa ao lado de Luong
Cuong.
O plano de ação reúne prioridades do relacionamento bilateral em
assuntos como defesa, economia, comércio e investimentos; agricultura e
segurança alimentar e nutricional; ciência, tecnologia e inovação; meio
ambiente e sustentabilidade; transição energética e cooperação
sociocultural e assuntos consulares.
“Nenhuma colaboração é tão estratégica para o futuro de dois países
emergentes quanto a cooperação em educação e em ciência e tecnologia. Em
breve, nossas universidades poderão promover o intercâmbio de
professores e estudantes e outras iniciativas conjuntas. Estamos
estudando parcerias em áreas como semicondutores, Inteligência
Artificial, tecnologias digitais, biotecnologia e energias renováveis”,
disse Lula.
Durante o encontro em Hanói, também foram firmados outros quatro atos bilaterais:
dois acordos que tratam sobre o exercício de atividade remunerada por
parte de dependentes de missões diplomáticas e sobre a da troca e
proteção mútua de informações classificadas; e dois memorandos de
entendimento, um sobre cooperação comercial e industrial e o segundo
entre as confederações de futebol.
Comércio
A Parceria Estratégica também pretende aprofundar o diálogo
político, reforçar a cooperação econômica, intensificar o fluxo de
comércio e os investimentos, fortalecer a coordenação em temas da agenda
multilateral e impulsionar novas iniciativas de cooperação.
O Vietnã já é o quinto maior consumidor dos produtos agropecuários brasileiros.
O Brasil fornece cerca de 70% da soja importada pelo Vietnã, além de
ser o principal fornecedor de carne suína (cerca de 37%), o segundo
maior de carne de frango e de algodão.
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva,
durante encontro com o Primeiro-Ministro do Vietnã, Pham Minh Chinh.
Palácio do Governo - Vietnã. Foto: Ricardo Stuckert / PR - Ricardo Stuckert / PR
Em 2024, Brasil e Vietnã registraram um volume de comércio de US$ 7,7 bilhões, com superávit brasileiro de US$ 415 milhões. A meta é chegar a US$ 15 bilhões em volume comercializado até 2030, em um contexto mais amplo de aproximação do Brasil com nações do Sudeste Asiático.
A ampliação do comércio entre as duas nações também prevê a abertura do país asiático à carne bovina brasileira.
Para Lula, a medida atrairá investimentos de frigoríficos do Brasil
para fazer do Vietnã “uma plataforma de exportação para o Sudeste
Asiático”.
Além das exportações ligadas ao setor de alimentos, o presidente
acredita que o Brasil tem potencial para investir em produtos de valor
agregado.
“Já contribuímos para a segurança alimentar do Vietnã e queremos
ampliar a exportação de bens de maior valor agregado, incluindo
aeronaves. Espero que a Vietnam Airlines possa avaliar positivamente a
oferta da Embraer para os jatos da família E-Jets, ideais para a
conectividade regional”, disse.
Outro caminho apontado por Lula no fortalecimento das relações é a
cultura do café, com a colaboração em pesquisas para tornar a produção
mais resistente aos impactos da mudança do clima.
“Vietnã e Brasil são os dois maiores produtores mundiais de café e
ambos tivemos safras recentes afetadas pela mudança do clima. Estamos
determinados a ampliar nosso intercâmbio técnico para fortalecer a
resiliência da cultura do café”, disse. O Vietnã pode se beneficiar do
Fundo Florestas Tropicais para Sempre, proposto pelo Brasil, e ser
remunerado por seu esforço de preservação ambiental”, acrescentou Lula.
O presidente convidou autoridades vietnamitas a participarem da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30),
que será realizada em novembro, em Belém, no Pará.No segundo semestre, o
Brasil assumirá a presidência do Mercosul e Lula também manifestou o
interesse em aproximar o Vietnã da zona comercial de países
sul-americanos.
Crise global
Durante a declaração à imprensa, o presidente brasileiro ainda reforçou o apelo para fim dos conflitos globais e pelo fortalecimento do multilateralismo. Para Lula, as nações da América Latina e do Sudeste Asiático devem evitar uma nova divisão do globo em zonas de influência.
“A governança global em matéria de comércio, saúde e meio ambiente está sob sérias ameaças”, ressaltou.
O presidente afirmou ainda que, "de formas distintas, Vietnã e Brasil
sofreram os efeitos da guerra fria e sabem que o melhor caminho é o do
não-alinhamento, argumentando que ações unilaterais, hoje, põem em risco
o multilateralismo. “A governança global em matéria de comércio, saúde e
meio ambiente está sob sérias ameaças”.
“Gaza é hoje o maior símbolo do abandono do humanismo que cultivamos.
Nada justifica a matança indiscriminada de civis. Na Ucrânia, o Brasil
sempre defendeu a via do diálogo. Acolhemos todos os esforços nessa
direção”, acrescentou.
Agenda
Nesta sexta-feira (28), em Hanói, Lula foi recepcionado em cerimônia
oficial de boas-vindas, no Palácio Presidencial. Ao longo do dia, o
presidente brasileiro e sua comitiva tiveram encontros com líderes do
país, com o primeiro-ministro vietnamita, Pham Minh Chinh; com o
presidente da Assembleia Nacional do Vietnã, Trần Thanh Mẫn; e com o
secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista do país, Tô Lâm.
Já é noite no Vietnã, que está dez horas a frente do fuso horário de
Brasília, e o último compromisso da comitiva brasileira é um jantar em
homenagem a Lula, oferecido pelo presidente vietnamita Luong Cuong.
A viagem segue até sábado (29) com a participação do presidente e do
primeiro-ministro Pham Minh Chính no Fórum-Empresarial Brasil-Vietnã. O
país foi a segunda parada de Lula na Ásia. Antes, o brasileiro esteve com sua comitiva em visita de Estado ao Japão. A previsão é que a comitiva retorne ao Brasil no domingo (30) a noite.