por Joaquim de Carvalho
A publicação aponta Júlia Zanatta, porta-voz do .38 e filiada ao PL (novo partido de Bolsonaro), como elo com a extrema direita norte-americana (Steve Bannon) e um clube de tiro de Nebraska que exibe sinais de idolatria ao nazismo
29 de novembro de 2021, 14:33 h Atualizado em 29 de novembro de 2021, 19:52
Bastidores do documentário (Foto: Reprodução)
Enquanto a mídia brasileira silencia sobre a hipótese do autoatentado no caso da facada ou suposta facada em Juiz de Fora, uma publicação sediada em Nebraska, nos EUA, publicou extensa reportagem que liga o episódio à extrema direita norte-americana e, especialmente, à indústria das armas.
Seeing Red Nebraska, uma publicação que se assume editorialmente como de esquerda, cita a porta-voz do clube de tiro .38 no Brasil, Júlia Zanatta, como elo entre o episódio de Juiz de Fora, a poderosa NRA (National Rifle Associatin), a família Bolsonaro e a extrema direita que tem Steve Bannon como protagonista.
Como recompensa, sugere a reportagem, Júlia Zanatta foi nomeada como coordenadora da Embratur na região sul do Brasil, além de disputar eleições para prefeita de Criciúma, Santa Catarina, com apoio da família Bolsonaro.
"Em maio de 2019, Zanatta mentiu duas vezes para um jornalista de rádio de sua cidade natal no sul do Brasil (Criciúma) quando disse que o filho de Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, nunca havia se encontrado pessoalmente com Olavo de Carvalho antes do início daquele ano. Ela também escondeu a informação de que Steve Bannon visitou a casa de Olavo em Petersburg, Virgínia, enquanto ela e Eduardo Bolsonaro frequentaram o mesmo lugar por pelo menos uma semana em janeiro de 2019”, relata.
Segundo a publicação, Steve Bannon foi à casa de Olavo em Petersburg, Virgínia, “para se atualizar sobre o cenário político no Brasil”. Eduardo esteve com Olavo de Carvalho dois anos antes, em janeiro de 2017, antes de ir ao Shot Show de Las Vegas, “a maior feira anual para os entusiastas de armas dos Estados Unidos”.
Em setembro de 2018, lembra a reportagem, Júlia era namorada de Tony Eduardo, dono do clube de tiro .38. Nessa época, "o clube ganhou as manchetes após o esfaqueamento do então candidato presidencial Jair Bolsonaro".
Adélio fez ali um curso de tiro, dois meses antes de ir a Juiz de Fora e ser preso após a facada ou suposta facada em Jair Bolsonaro, o que alavandou a candidatura deste a presidente da república.
A citação de Tony Eduardo é particularmente interessante para a publicação porque, segundo a reportagem, o brasileiro era funcionário do 88 Tático, que é talvez o maior clube de tiro do mundo e que exibe sinais veementes de apreço pelo nazismo.
O 88 Tático é tema frequente das reportagens do Seeing Red Nebraska. A entidade usa símbolos de inspiração nazista, desde o próprio nome: 88, que seria uma referência à oitava letra do alfabeto, H, a primeira letra de Heil. O outro H seria de Hitler. Heil Hitler. Salve Hitler.
O 88 Tático também promoveu o café SS. Na embalagem, seus diretores dizem que seria a sigla de Silencer Smooth (silenciador suave), mas o mundo identifica SS com Schutzstaffel, a milícia que era ligada ao partido nazista.
A logomarca do 88 Tático é também uma referência ao símbolo nazista: um pássaro que se assemelha a uma águia carregando o numeral de asas abertas e com a face virada para o lado direito. No brasão do partido nazista alemão, havia uma águia adornada pela suástica virada para o mesmo lado.
A Pública também fez reportagem sobre esses símbolo, com base em estudo da antropóloga Adriana Dias, da Unicamp, que deu entrevista à TV 247.
Júlia Zanatta é citada na Seeing Red Nebraska como uma das estudantes que fizeram o curso do Institute For US Law (IUSLAW) em Washington, e que também praticou tiros do 88 Tático, assim como Eduardo Bolsonaro e esposa, além de Carlos Bolsonaro.
Símbolos do 88 Tático foram vistos na roupas de militantes de extrema direita que tentaram invadir o Capitólio nas vésperas da posse de Joe Biden, e o site norte-americano lembra que Eduardo Bolsonaro esteve na Casa Branca na véspera do episódio e, no dia da invasão, se encontrou com o empresário Michael Lindell, apoiador de Trump.
A reportagem cita que Júlia Zanatta ganhou espaço político depois do episódio da facada (ou suposta facada), em que, falando em nome do .38, declarou que Adélio tinha estado lá um único dia.
Equivocadamente, Seing Red diz que Julia teria dito que Adélio fez curso de um único dia. Na verdade, não foi isso que ela declarou. Júlia disse que Adélio fez o cadastro, e não voltou mais. Não é verdade. Adélio fez curso de três dias e até obteve certificado. No último dia, 5 de julho de 2018, dividiu o espaço de estandes com Carlos Bolsonaro.
A reportagem lembra que Julia Zanatta foi candidata a prefeita de Criciúma no ano passado, com apoio da família Bolsonaro. Terminou em terceiro lugar, filiada ao PL. A reportagem não cita, mas é preciso registrar que o PL, de Valdemar da Costa Neto, é o partido a que Bolsonaro deve se filiar para disputar a reeleição.
A reportagem, realizada com base em fontes protegidas pelo anonimato, também sugere que Bolsonaro pode ter tido financiamento da poderosa NRA, mas, neste ponto, defende a necessidade de que as autoridades investiguem em profundidade.
Indícios existem, mas é preciso que haja disposição para colocar o dedo nesta ferida aberta.
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Nota que abre a reportagem do site dos EUA: Seeing Red Nebraska raramente publica contribuições anônimas. Nesse caso, fontes internacionais nos forneceram o seguinte, e têm preocupações de segurança razoáveis que exigem anonimato.
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O espaço está aberto para que todos os citados nesta reportagem do Seeing Red se manifestem, inclusive Júlia Zanatta.
Fonte: https://www.brasil247.com/blog/site-dos-eua-publica-reportagem-que-liga-o-clube-de-tiro-38-a-industria-de-armas-nos-eua-bolsonaro-e-adelio