Salariômetro da Fipe revela deterioração no primeiro semestre. Quem ainda tem emprego abre mão de direitos para, pelo menos, repor a inflação nas negociações.
Comprimidos por desemprego, inflação e juros em dois dígitos, pela precarização e perda de rendimentos oriundos da reforma “trabalhista” de Michel Temer e pela ausência de políticas públicas de estímulo à geração de emprego e renda no deserto bolsonarista, trabalhadores e trabalhadoras estão abrindo mão de conquistas históricas da classe para, pelo menos, garantir a reposição inflacionária nas negociações coletivas.
LEIA MAIS: Com Bolsonaro, Brasil é vice campeão do desemprego entre os países do G20
O cenário do primeiro semestre deste ano, pintado pelo Salariômetro da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), é tema de reportagem da Folha de São Paulo. A pesquisa revela que parte considerável dos acordos ou convenções coletivas fechadas em 2022 excluíram direitos como Participação nos Lucros e Resultados (PLR), abonos por aposentadoria/assiduidade, plano de saúde/odontológico e auxílio-creche.
“A presença dos adicionais diminuiu em 2022. Houve uma redução generalizada não no valor, mas na presença (desses benefícios)”, constata o professor sênior da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Salariômetro, Hélio Zylberstajn.
LEIA MAIS: Herança da reforma trabalhista: 32,5 milhões de empregos precários
Também não houve reajuste dos valores dos tíquetes. O vale-alimentação mensal se manteve em R$ 280 e o vale-refeição seguiu em R$ 22 por dia. A cesta básica subiu 22,35%, de R$ 170 para R$ 280 – ou 16,62% da cesta básica de alimentos de junho deste ano, calculada em R$ 1.251,44 pela pesquisa do Procon-SP/ Dieese.
A lógica, diz o professor, poderia muito bem sair da boca neoliberal de Paulo Guedes, o ministro-banqueiro de Jair Bolsonaro. “Como o poder de barganha dos trabalhadores não está forte, porque a inflação ainda é muito alta, não tem como pressionar”, explica Zylberstajn. “Para garantir a inflação, tem que abrir mão de alguma coisa.”
LEIA MAIS: Desde 2017, salários perderam um terço do poder de compra
Precarização e inflação roubaram renda da classe trabalhadora
O reajuste salarial mediano nos primeiros seis meses de 2022, aponta o Salariômetro, é de 10,6%, ante 6,2% do mesmo período de 2021. O piso salarial subiu, mas sequer supera a inflação. O valor médio (R$ 1.431) evoluiu 8,4% em relação ao de 2021 (R$ 1.320). Utilizado como parâmetro nas negociações salariais, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) é de 11,92%, nos 12 meses encerrados em junho.
A pífia recuperação salarial pode se transformar em retrocesso agudo em julho, alerta ainda Zylberstajn. Segundo ele, números parciais apontam que 70,3% das negociações no mês resultaram em reajustes menores do que a inflação, o que será confirmado no final do mês, com o fechamento dos dados.
A cada nova Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que se vê é a medíocre recuperação dos postos de trabalho ocorrendo às custas da precarização das vagas oferecidas e da queda da renda de trabalhadores e trabalhadoras.
LEIA MAIS: Trabalho no Brasil de Bolsonaro, só precarizado e com salário baixo
Das 4,6 milhões de vagas de trabalho criadas entre 2016 e 2022, afirma o economista Lucas Assis, da Tendências Consultoria, 76% são informais. “Essa geração de vagas deu-se pela criação de 7 milhões de vagas com rendimento mensal de até um salário mínimo e destruição de 2,4 milhões com rendimento superior a um salário mínimo”, explica Assis no portal Uol.
Há quatro anos seguidos o Brasil está entre os 10 piores países do mundo para se trabalhar, em uma lista de 148 países da Confederação Sindical Internacional (CSI). Em 2022, o Brasil de Bolsonaro se alinha a nações como Bangladesh, Filipinas e Miamar. A reforma “trabalhista” de Temer fez a negociação coletiva entrar em colapso no Brasil, com drástica redução de 45% no número de acordos coletivos celebrados, aponta a lista.
“A deterioração a gente percebe desde 2017, com a perda da qualidade do trabalho desde o processo que passamos com o golpe de 2016 contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, com ataques fortes aos nossos direitos que haviam sido conquistados com muita luta, e que agora vêm sendo retirados com muita facilidade”, contou Rosana Fernandes, secretária-Adjunta de Combate ao Racismo da central sindical, durante o evento online de apresentação da pesquisa.
Da Redação da Agência PT, com informações da Folha de SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário