Denise Assis
Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada". Membro do Jornalistas pela Democra
"Como mais uma jogada eleitoreira, aliados do presidente retomam articulação por PEC que blinda Bolsonaro com o cargo vitalício", escreve Denise Assis
26 de julho de 2022, 15:59 h Atualizado em 26 de julho de 2022, 15:59
(Foto: Roque de Sá/Agência Senado)
Por Denise Assis, para o 247
Judiciário, modo de usar. Pode soar estranho, mas é dessa forma que o time de deputados “bolsonaristas” quer dispor do poder que, imaginam, tem condições de conceder ao “chefe”, saída honrosa para aplacar o seu pavor do destino que o espera após deixar o poder, em caso de derrota: a cadeia. E, de forma prática e efetiva, esperam salvar a pele de Bolsonaro, a dois meses da eleição, elevando-o ao posto de “senador vitalício”.
A medida deve ter sido inspirada nos chilenos de ultradireita, que coniventes com os abusos e arbitrariedades do general Augusto Pinochet, o ditador que prendeu, matou e desapareceu com cerca de 3,2 mil compatriotas – a maioria mulheres – e torturou 40 mil pessoas ao longo dos 23 anos (1973 a 1990) o blindaram com o mesmo posto.
Augusto Pinochet morreu em 10 de dezembro de 2006, sem ser penalizado por nenhum dos crimes cometidos sob a justificativa de senilidade. Até 2002, ele tinha foro privilegiado em virtude do cargo que lhe foi concedido.
Como mais uma jogada eleitoreira e, desta vez, para além do pleito, aliados do presidente retomam articulação por Projeto de Emenda Constitucional (PEC) que blinda Bolsonaro com o cargo vitalício.
A notícia foi dada pelo blog da jornalista Andréia Sadi. Ela ouviu também aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na opinião deles, “a medida não passa de uma concessão do centrão para proteger o presidente e seus familiares caso Bolsonaro perca a eleição”.
A medida, conforme as articulações dos aliados de Bolsonaro para o projeto, deve se estender a todos os ex-presidentes da República após deixarem o poder.
O projeto - revelado pelo podcast "Papo de Política", da GloboNews em meados de 2021 -, entrou em pauta novamente, no momento em que parlamentares próximos ao presidente se mostram preocupados a possibilidade de que no caso de derrota na eleição e devido ao acúmulo de processos e investigações que correm na Justiça, em seu nome, Bolsonaro acabe preso. Ainda de acordo com o blog, aos presidentes seria concedido o cargo de senador vitalício e, aos políticos de modo geral, o foro privilegiado e imunidade parlamentar.
Para tornar a medida mais palatável, esses parlamentares interessados em blindar Bolsonaro estariam procurando os líderes do Centrão e de Lula, a fim de buscar apoio para a ideia. Tentam um acordo para a aprovação. Porém, na opinião dos articuladores, tudo ficaria muito mais fácil com um “pacto” com o Judiciário.
O mesmo poder que Bolsonaro ataca dia sim, dia também, “os surdos de toga”, como os chamou no lançamento da sua candidatura. Os deputados “protetores” querem a aprovação da PEC o mais rápido possível, pois temem que tanto os arroubos sobre o Sete de Setembro, quanto os ataques ao STF em período de eleição, possam acirrar os ânimos e abrir motivo para novos processos.
Bolsonaro convocou o seu “Exército” - leia-se aí os civis armados com as suas medidas de liberação do porte – para que façam, na data dos 200 anos da independência, uma última marcha pela liberdade. Em sua cabeça, pode estar a ideia de que esta seria a última, pois ele vencendo as eleições não haveria necessidade de outras. Nós, no entanto, torcemos e acreditamos, que será a última porque depois disso virão as eleições, nos livrando de sua figura nefasta no poder. O país não merece mais quatro anos de destruição, fome e pobreza. E, cá para nós, Bolsonaro tampouco o cargo de senador vitalício e a imunidade. Tenho certeza de que os parentes dos quase 700 mil mortos pela covid concordam comigo.
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