Foto: Marcello Casal/Agência Brasil
Deputado Vicentinho. Foto: Elaine Menke/Câmara dos Deputados
Sessenta e um milhões de pessoas neste Brasil não sabem o que ou se vão comer amanhã. A frase foi pronunciada com indignação pelo deputado Vicentinho (PT-SP), nesta quarta-feira (6), na tribuna da Câmara. Ele citou dados do relatório do Mapa da Fome, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), divulgado hoje. “O Brasil voltou ao Mapa da Fome. Olha que coisa grave num País que é celeiro do mundo, que produz alimento para o mundo, o País do agronegócio, que exporta commodities, exporta alimento com seu povo passando fome. Esse é o nosso Brasil”, lamentou.
A pesquisa da ONU mostra que o número de brasileiros que lidou com algum tipo de insegurança alimentar foi de 61,3 milhões – praticamente três em cada dez habitantes do País, que tem uma população estimada em 213,3 milhões. Desse total, 15,4 milhões enfrentaram uma insegurança alimentar grave. O relatório revela ainda que o número de pessoas afetadas pela fome em todo o mundo subiu para 828 milhões em 2021, uma alta de cerca de 46 milhões desde 2020 e 150 milhões desde o início da pandemia de Covid-19.
Vicentinho disse que foi à capital paulista, recentemente, e contatou em conversas com entidades sociais que há 35 mil pessoas morando nas ruas de São Paulo. “O Brasil é o País em que os trabalhadores constroem casas mas moram em favela, produzem alimentos mas passam fome, geram riquezas, mas estão na miséria. Não é culpa de Deus. O criminoso governo Bolsonaro é de um homem, de um presidente sem nenhum tipo de compaixão, vide o episódio que vai ficar para a história, lamentavelmente, do combate à pandemia da Covid-19”, frisou.
Como exemplo da crueldade do governo Bolsonaro, Vicentinho ainda citou os projetos aprovados pela base do governo para retirar direitos da classe trabalhadora, “empobrecendo o nosso povo, descartando o trabalhador, homem e mulher”.
Então, afirmou Vicentinho, “não é culpa de Deus o que está acontecendo neste País. O responsável é Bolsonaro e o seu grupo”, afirmou. Ele acrescentou que a Câmara tem responsabilidade, e precisa agir para melhorar a situação dessas pessoas que estão passando fome. “São 61 milhões de pessoas e nós não vamos nos comportar, nem ficar quietos diante desse projeto eleitoreiro apresentado pelo governo Bolsonaro, através da PEC 1, do Estado de emergência, que permite ao governo ampliar benefícios sociais que não seriam autorizados em ano eleitoral. Temos que ter políticas sociais profundas”, defendeu.
Brasil no Mapa da Fome
Deputado Padre João. Foto: Elaine Menke/Câmara dos Deputados
O deputado Padre João (PT-MG) também usou a tribuna para falar do relatório do Mapa da Fome, divulgado pela FAO. “É muito triste ver que o Brasil volta para o Mapa da Fome. E não é culpa de pandemia, não é culpa de guerra, porque, em 2020, o Brasil já estava ladeira abaixo no desmonte das políticas e dos programas sociais. Na verdade, desde o golpe de 2016 que os trabalhadores, as trabalhadoras, os quilombolas, os indígenas, os vazanteiros, os ribeirinhos, os geraizeiros, os pescadores vêm sofrendo”.
O Brasil, afirmou Padre João, volta para o Mapa da Fome graças ao governo Bolsonaro, “que tira dinheiro das políticas e dos programas para passar para o Centrão e para a sua base de sustentação. Ele despeja dinheiro nos municípios, através da emenda do relator do orçamento, e tira dinheiro das políticas e dos programas construídos pelo povo, construídos pelas conferências municipais, estaduais, e no âmbito federal, seja de saúde, seja da assistência, seja da segurança alimentar”, denunciou.
Então, reiterou Padre João, a culpa da fome no Brasil é do Bolsonaro. “Do presidente covarde, que depois de assinar a sua posse, no dia 1º de janeiro de 2019, assinou ato para destituir o Consea (Conselho de Segurança Alimentar Nutricional Sustentável)”. O deputado citou que ao acabar com o Consea, Bolsonaro desmontou o Sistema de Segurança Alimentar Nutricional (Sisan).
“A culpa é do Bolsonaro, covarde, cruel, que voltou com o Brasil para o Mapa da Fome, porque acabou com o Consea, que era um conselho que tinha mais a cara do povo brasileiro. Agora vem com esses R$ 200 a mais no Auxílio Brasil, de forma desesperada, para tentar levar a eleição para o segundo turno, porque já sabe que vai perder no primeiro turno. Essa é uma tática do golpe que está em curso, ou tentativa de golpe”, denunciou.
O povo não é bobo
Na avaliação do deputado Padre João, o povo não é bobo. Não vai se deixar iludir por mais R$ 200, que tem um prazo de validade até o final das eleições. “Não há nenhuma garantia na Lei de Diretrizes Orçamentárias, nenhuma perspectiva de nós colocarmos esse valor no orçamento para o ano de 2023. Essa é uma proposta válida somente até o final das eleições. Isso é golpe. Mas o povo não é bobo. Quem vai dar um basta nesse desmonte do Estado é o próprio povo”, afirmou.
Dados da ONU
O relatório Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, que engloba o período de 2019 a 2021, divulgado nesta quarta-feira (6) pela Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO), revela que somente em 2021, cerca de 828 milhões de pessoas sofreram com a falta de alimentos. De acordo com a organização, os impactos econômicos da pandemia foram fatores que contribuíram fortemente com o cenário.
A publicação da ONU mostra que o número de pessoas que lidou com algum tipo de insegurança alimentar no Brasil foi de 61,3 milhões. Desse total, 15,4 milhões enfrentaram uma insegurança alimentar grave.
Os últimos números da instituição revelam uma piora alarmante da fome no Brasil. Entre 2014 e 2016, a insegurança alimentar atingiu 37,5 milhões de pessoas – 3,9 milhões estavam na condição grave.
Segundo a FAO, as definições para a insegurança alimentar são as seguintes:
Insegurança moderada: as pessoas não tinham certeza sobre a capacidade de conseguir comida e, em algum momento, tiveram de reduzir a qualidade e quantidade de alimentos.
Insegurança grave: as pessoas que ficaram sem comida e passaram fome e chegaram a ficar sem comida por um dia ou mais.
Vânia Rodrigues, com agências
Nenhum comentário:
Postar um comentário