Funcionários concursados do banco procuraram escritório de advocacia para contar constrangimentos praticados por Pedro Guimarães quando esteve no Amazonas
7 de julho de 2022, 10:25 h Atualizado em 7 de julho de 2022, 11:50
Pedro Guimarães (Foto: Reprodução/Instagram/@pedroguimaraesd)
Por Mário Adolfo Filho, para o 247 - O escritório de advocacia Tuma & Torres Associados, com sede em Manaus, está formalizando uma ação na Justiça contra a Caixa Econômica Federal (CEF) pedindo indenização por danos morais. O corpo jurídico foi procurado por dois funcionários do banco estatal que relataram terem sofrido assédio moral do ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães, durante atividades dele em Manaus, em 2020 e em 2022. Eles só tiveram coragem de denunciar após verem a repercussão nacional de outros casos semelhantes.
Um dos funcionários, que tem nove anos de CEF e é concursado, relatou que a primeira situação aconteceu em outubro de 2020, em uma edição do chamado ‘Caixa Mais Brasil’. O programa acontece em todo o País e leva executivos da empresa para visitar municípios e conhecer a realidade de beneficiados pelo banco, seja com auxílio emergencial ou outros produtos.
“Foi em uma pousada em Manacapuru (a 101 quilômetros de Manaus por estrada). Era um jantar para funcionários escolhidos para estarem ali. Chegamos às 19h e ele chegou às 22h30. Quando chegaram os pratos ele pediu para não comermos e disse para a garçonete trazer a surpresa - sempre da forma efusiva que ele fala. A gente achava que era algum prêmio, mas era uma tigela de pimenta vermelha pisada. Ele pegava uma concha e ensopava cada prato com a porção de pimenta em cima da proteína, para todos”, contou.
'Ninguém pode falar'
Este funcionário também conta que outro comportamento chamou atenção. Todos que ali estavam foram orientados a não falar com o presidente, puxar qualquer tipo de assunto e muito menos fazer contato visual. “Ele levantava periodicamente e quando via que a pessoa já tinha comido tudo, colocava mais pimenta. Não podíamos falar nada, só ele”, lembra.
O outro funcionário, com dez anos de casa, disse que passou, ainda, por outro constrangimento. Durante este mesmo jantar, ele conta que foi humilhado por Pedro Guimarães. “Ele sempre fala muito alto, com muitos palavrões. Aconteceu a história da pimenta e eu não como pimenta. Eu tinha pedido peixe pirarucu, peguei o limão e espremi em cima de onde ele tinha jogado a pimenta. Na mesma hora ele perguntou se eu era são paulino e se eu era bambi, que se eu não gostasse, a mesa dos ‘frescos’ era a do lado. Na hora eu fiquei sem ação. Nervoso. Foi só humilhação, só não sei se por homofobia ou pelo fato de eu ser negro”, lamentou.
Codajás
Eles ainda contam que em fevereiro deste ano, no município de Codajás, a 230 quilômetros de Manaus, Pedro Guimarães obrigou funcionários da Caixas a carregar sacas de açaí para fazer fotos. As fotos estão postadas no Instagram do próprio ex-presidente, no dia 16 de fevereiro de 2022.
“Era outra edição do Caixa Mais Brasil. Sempre preparavam um roteiro, mas ele nunca seguia. Ele fez as pessoas carregarem as sacas pesadas. Uma humilhação sem sentido nenhuma”, afirmou.
Justiça
De acordo com a advogada Nicolle Torres, a ação na Justiça será contra a Caixa Econômica Federal. “No nosso entendimento isso configura assédio. Eles passaram por constrangimento psicológico. O assédio moral é configurado por atitudes, do gestor, principalmente, que coloca o empregado numa situação de humilhação, rebaixamento e vexatória. Foi tudo o que fizeram com eles. A ação será trabalhista contra a Caixa diretamente, porque entendemos que a empresa responde pelos atos dos seus empregados. Principalmente porque nessa condição a Caixa tem o dever de observar tudo isso, o que não aconteceu”, explicou.
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