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O ministro das Relações Exteriores da Bolívia , Rogelio Mayta, descreveu o plano do presidente brasileiro Jair Bolsonaro de conceder asilo político a Jeanine Áñez como “absolutamente insolente” e “interferência inadequada nos assuntos internos”.
O governo do presidente boliviano Luis Arce na terça-feira, 28 de junho, rejeitou as recentes declarações feitas pelo presidente brasileiro Jair Bolsonaro, nas quais ele alegou que a ex-presidente boliviana de fato Jeanine Áñez era inocente e lhe ofereceu asilo político. O governo boliviano descreveu as declarações de Bolsonaro como “absolutamente insolentes” e “interferência inadequada em assuntos internos”.
O chanceler boliviano, Rogelio Mayta, concedeu entrevista coletiva na capital La Paz para responder ao presidente brasileiro e esclareceu que a Bolívia jamais permitiria interferência nas decisões que dizem respeito soberanamente ao seu sistema de justiça.
“Lamentamos as infelizes declarações do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que são absolutamente impertinentes, constituem uma ingerência inadequada nos assuntos internos, não respeitam as formas de relações entre os Estados e não coincidem com as relações de boa vizinhança e respeito mútuo. entre Brasil e Bolívia. Em nenhuma hipótese aceitaremos interferência em decisões que correspondam soberanamente ao sistema de justiça boliviano e à constitucionalidade do Estado Plurinacional da Bolívia”, disse Mayta.
Mayta, que também é advogada de direitos humanos, lembrou que Áñez está sendo processado pela Justiça boliviana por “várias acusações criminais, inclusive por ter cometido graves violações de direitos humanos, de acordo com a investigação realizada pelo Grupo Interdisciplinar de Peritos Independentes enviado pela Inter -Comissão Americana de Direitos Humanos (CIDH).
Ele também reiterou que, nos primeiros dias do governo de Áñez, ela aprovou um decreto (4.078) que isentava policiais e militares que participavam de operações de repressão contra manifestantes nas ruas contra o golpe de responsabilidade criminal, que posteriormente resultou no massacre de 11 pacíficos manifestantes na cidade de Sacaba em 15 de novembro de 2019 e de 11 pessoas em Senkata em 19 de novembro de 2019 por agentes de segurança, além de ferir centenas de manifestantes.
Mayta ressaltou que as mortes e graves violações de direitos humanos ocorridas em novembro de 2019 “merecem justiça” e “para isso, os processos necessários devem ser desenvolvidos”. Acrescentou que o Estado boliviano tem a “obrigação” de realizar os processos judiciais necessários para fazer justiça às vítimas daquele período, o que também foi recomendado por várias organizações internacionais de direitos humanos.
O chanceler afirmou que “mesmo pensar em uma situação em que Áñez poderia escapar da justiça é inadmissível. A impunidade é inadmissível.” Ele também indicou que o governo está trabalhando em uma “apoio diplomático” em resposta às declarações de Bolsonaro.
“A impunidade é inadmissível, ratificamos o compromisso de #Bolivia para lograr el respeto de los #DDHH que fueron transgredidos en esos lamentables días del 2019, tal cual han expresado las recomendaciones del #GIEIBolivia de la #CIDH “, manifesto el canciller @RogelioMayta_Bo . pic.twitter.com/VArV7ZRKLb
— Cancillería de Bolivia (@MRE_Bolivia) 28 de junho de 2022
O que Bolsonaro disse?
Em entrevista ao programa online “4 x 4” no domingo, 26 de junho, Bolsonaro anunciou que ofereceria asilo político a Áñez, que foi condenado a 10 anos de prisão no início deste mês por assumir ilegalmente a presidência em novembro de 2019 após um golpe cívico-militar de direita que derrubou o presidente socialista democraticamente eleito Evo Morales.
Bolsonaro descreveu a detenção de Áñez e a condenação judicial contra ela como “injusta”, e disse que “o Brasil está colocando em prática a questão das relações internacionais, dos direitos humanos, para ver se pode trazer Jeanine Áñez e oferecer seu asilo no Brasil. É injusto com a mulher presa na Bolívia”.
Confirmação do envolvimento do Brasil no golpe de 2019
Vários legisladores do partido governista Movimento ao Socialismo (MAS) disseram que a oferta de Bolsonaro confirmou sua cumplicidade no golpe de 2019.
“Estamos vendo aos poucos como todo o plano de golpe está se tornando muito mais visível. Estávamos cientes de que esse plano não era apenas um plano interno, mas também externo”, disse Freddy Mamani, presidente da Câmara dos Deputados.
Enquanto isso, o senador Luis Adolfo Flores rejeitou Bolsonaro “interferindo abertamente em decisões de órgãos independentes na Bolívia” e questionou sua oferta, afirmando que ia contra as normas internacionais para concessão de asilo político.
“De acordo com a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o asilo político só é concedido a uma pessoa exilada ou que tenha fugido de seu país por motivos políticos. Jeanine Áñez não é contemplada em nenhuma dessas condições”, disse Flores.
Flores também destacou que a recente confirmação de Bolsonaro de que conheceu Áñez pessoalmente e sua negação de conhecê-lo pessoalmente foram mais uma evidência da cumplicidade do Brasil no golpe.
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