Diretor do Vox Populi também disse que nada que Bolsonaro tenha feito até agora produziu melhoras em sua candidatura à reeleição
1 de agosto de 2022, 21:20 h Atualizado em 1 de agosto de 2022, 22:01
Marcos Coimbra e Lula (Foto: Reprodução | Ricardo Stuckert)
Rede Brasil Atual - A dois meses do primeiro turno das eleições, com a consolidação da liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas de intenção de votos, há uma parcela do eleitorado que já fez sua escolha, mas que ainda pode mudar da opinião, definindo a disputa já em outubro. Trata-se de uma margem pequena, mas que pode crescer. Sobretudo com voto “útil” de eleitores que apontam outros candidatos como primeira opção, mas estão propensos a mudar. A avaliação é de Marcos Coimbra, presidente do instituto Vox Populi, entrevistado pelos jornalistas Cosmo Silva e Ana Rosa Carrara para o Revista Brasil TVT do fim de semana.
Entre os que declaram voto em Lula, 79% dizem estar decididos e 20% podem mudar, segundo o Datafolha. Para Bolsonaro, os índices são de 79% e 21%. Entre os que escolheram o pedetista Ciro Gomes, 34% estariam decididos e 65%, não. “O que se vê é que mais da metade do eleitorado de Ciro, com esses 8 pontos que ele tem, não tem certeza se vai ficar com ele. Dali pode sair o grande fator (definidor)”, diz Coimbra. “Mas não é só dali. Ainda há uma parcela do eleitorado de outros candidatos que também está pensando nisso”, ressaltou.
Entre os eleitores de Ciro Gomes, que aparece em terceiro lugar com 8%, 36% consideram Lula como segunda opção. Já 17% migrariam para Bolsonaro, 7% para Vera Lúcia (PSTU) e 4% para Simone Tebet (MDB).
Os eleitores de Simone Tebet, que chegou a 2% de intenções de votos, poderiam mudar para Lula (33%), Ciro (27%) ou Vera Lúcia (4%) – nenhum escolheu Bolsonaro. Por sua vez, entre os eleitores da André Janones (Avante), 37% têm Lula como segunda opção. Outros 23% migrariam para Bolsonaro e 4% iriam para Ciro.
Voto útil
Dos três candidatos citados, André Janones é o único que já sinalizou apoio a Lula ainda no primeiro turno. O deputado do Avante tem conversa marcada com o ex-presidente na próxima quinta-feira (4). Simone Tebet não manifesta simpatia por Lula, mas já afirmou que de Bolsonaro não vai. Ciro, por sua vez, resolveu bater em Lula dia sim, outro também.
Entretanto, não é a posição dos candidatos que define para onde vai o voto de seu eleitor no segundo turno. Ou mesmo no primeiro. Em junho, por exemplo, o humorista Fábio Porchat disse em entrevista ao podcast Papagaio Falante que seu candidato é Ciro. Mas que se até o início de agosto o pedetista seguir empacado nas pesquisa, vai votar em Lula.
“Gosto muito do Ciro, acho ele um ótimo candidato, muito preparado. Acho que a gente precisa parar um pouco de polarizar e tal. Agora, se chegar agosto e o Ciro continuar com 7% e o Lula puder ganhar no primeiro turno, para tirar esse animal, esse verme, esse câncer que está no poder, eu vou pintado de estrela vermelha, cantando ‘Lula lá’, voto apertando 13 trezentas vezes”, explicou. Isto é, não é o candidato, mas o sentimento do eleitor que define o rumo de seu voto.
‘Gota d’água’
O sociólogo ressaltou as ameaças mais recentes ameaças de Bolsonaro à democracia têm potencial para afastá-lo definitivamente dessa fatia dos eleitores que podem reverter seus votos por Lula. A “gota d’água”, segundo Coimbra, pode ter sido o episódio em que Bolsonaro reuniu embaixadores para fazer ataques às urnas eletrônicas e a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Bolsonaro tem feito coisas tão absurdas, que é possível que ele tenha aumentado a propensão a votar no Lula de pessoas que não necessariamente são simpatizantes do PT. É só ver a reação que provocou após esse circo lamentável que ele arrumou com os embaixadores”, afirmou.
Coimbra também destacou que a vantagem de Lula permanece “muito folgada”, com as intenções de votos praticamente estáveis na comparação com a pesquisa Datafolha anterior, divulgada em junho. “A vantagem de Lula permanece muito folgada. É a maior vantagem que se teve em eleições parecidas no Brasil. Estamos a dois meses das eleições – parece que é muito tempo, mas não é –, e a vantagem se mantém. E mais um mês se passou sem que Bolsonaro conseguisse melhorar o cenário para ele.
Contra o tempo
O período que antecede as votações será mais curto esse ano, com apenas 45 dias de campanha eleitoral, sendo apenas 30 dias de propaganda no rádio e na TV. Explica Coimbra que este é outro fator que joga contra Bolsonaro nesse momento. “A cada eleição, o tamanho e a influência da propaganda eleitoral na televisão e no rádio diminui. O que é bom para quem está na frente. Ou seja, é muito ruim para quem precisa crescer, ou pelo menos tentar crescer, que é o caso de Bolsonaro este ano”, disse Coimbra.
Além disso, como resultado das ofensivas golpistas do presidente, diversos setores da sociedade se manifestaram em defesa da democracia. A chamada “Carta aos brasileiros“, por exemplo, já contava mais de 643 mil assinaturas até o fechamento desta matéria. E as adesões aumentam a cada dia. O documento, elaborado na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), está sendo apoiado por inúmeros juristas, ex-ministros, intelectuais, artistas e esportistas. Do mesmo modo, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) também elaborou outro manifesto, reunindo o apoio institucional do empresariado e de diversas entidades da sociedade civil organizada, além da população em geral.
“A grande maioria da sociedade está cada vez mais se afastando do bolsonarismo. Não é tão diferente de outras ditaduras, outros ditadores e autocratas de direita mundo afora. Vão chegando no final com (o apoio de) uma parte da opinião pública que pode ser briguenta, pode ser violenta, mas é pequena.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário